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Medicina conta sua história

Agência Notisa - 26 de abril de 2006 - 07:29

Médicos históricos ser reúnem no Rio de Janeiro para rever trajetória de suas organizações. O Simpósio de História da Medicina que vai até amanhã está acontecendo na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, no bairro da Lapa. Estaremos cobrindo todos os trabalhos, direto da SMCRJ.

Teve início ontem o I Simpósio de História da Medicina e da Cirurgia do Rio de Janeiro, realizado pela Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (SMCRJ). Em um país carente de memória e de recursos adequados na área de saúde, um evento que trate da história da Medicina no país pode significar muitos ganhos para a compreensão de nossa realidade sanitária.

O tema da primeira mesa redonda do evento foi “O Associativismo Médico sob o Regime Autoritário” e buscou traçar um panorama da atuação das entidades organizadas existentes em épocas de repressão política.

Segundo o professor Mário Barreto Corrêa Lima, ex-presidente da SMCRJ, um dos fatores de tensão da época da Ditadura Militar, por exemplo, era a espionagem e o “acompanhamento” dos que participavam de qualquer entidade. “Houve um dia em que um agente veio assistir minha aula e por um descuido deixou cair sua identificação da polícia. Obviamente acharam o documento e o falso aluno foi desmascarado”, contou Lima.

Outro fato, lembra o médico, foi no dia em que encontraram um artefato que parecia ser uma bomba. “Se chamássemos o esquadrão anti-bombas, a SMCRJ acabaria sendo fechada. Optamos então, juntamente com um funcionário da casa, por verificar se de fato se tratava de uma bomba utilizando um cabo de vassoura. Para a nossa sorte, não havia explosivo nenhum e todos saímos ilesos”, disse e concluiu: “a mão pesada da Ditadura também se fez sentir sobre os médicos”.

Nesse mesmo sentido, Gilson Maurity Santos, ex-presidente do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro), citou o caso da primeira eleição democrática para o Conselho. “Por força da pressão de alguns notáveis, em 1978 foi eleita a primeira chapa democrática do Conselho. Entretanto, ela acabou não assumindo em função de uma intervenção do CFM (Conselho Federal de Medicina), ligado ao regime autoritário”, afirmou. Segundo o médico, somente 5 anos depois uma chapa eleita democraticamente chegaria a assumir, sendo ele próprio o presidente empossado. “Quando assumimos, tudo estava por fazer, nada havia sido feito. Tivemos que começar do básico: separar os locais de trabalho e definir funções”, destacou.

Na opinião de Santos, uma das grandes conquistas da gestão foi a decisão de que o corpo de conselheiros seria a instância decisória, e não a chapa eleita, que seriam apenas executivas. “Isso foi importante, pois trazia todo o corpo de conselheiros para as reuniões”, defendeu.

Paulo César Geraldes, Conselheiro do Cremerj, lembra das dificuldades enfrentadas pelos estudantes em manifestar suas posições. “Sou da turma que ingressou na UFRJ em 1967 e que se formou em 1972. David Capistrano era da nossa turma e foi nosso orador na formatura. Após terminar um discurso maravilhoso saiu de lá já preso”, relatou.

Democracia e enfraquecimento

Na opinião de Roberto Gabriel Chabo, ex-presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, o primeiro da categoria no Brasil fundado em 1927, fazer sindicalismo hoje é muito mais difícil que no passado. “Antes os sindicatos estavam em um movimento crescente enquanto, hoje, em todo o mundo, eles estão se enfraquecendo” afirmou o médico, que acompanhou a atuação do sindicato e das diversas associações da categoria desde a era Vargas.

Segundo ele, mesmo considerando-se o período varguista e todas as suas restrições, o sindicato teve um papel importante do ponto de vista corporativo. “Nós temos um histórico de muita intervenção que é desconhecido da população”, lamentou Chabo. O médico chama a atenção, neste contexto, para a importância de se repensar o peso da ciência e da política entre a classe médica. “É muito importante discutir ciência, mas eu acredito que os médicos também deveriam discutir política e discutir que rumos a Saúde do país deve tomar”, observou.



Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism







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