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Médica diz que vacina contra HPV oncogênico não substitui rastreamento

Alana Gandra, Agência Brasil - 05 de abril de 2010 - 07:54

Rio de Janeiro - A vacina contra o HPV oncogênico, doença que pode levar ao câncer de colo do útero, não substitui o rastreamento, alertou a médica Ana Ramalho, chefe da Divisão de Ações de Detecção Precoce do Instituto Nacional do Câncer (Inca). “Porque ela só controla dois tipos de vírus e existem outros”, afirmou.

Já foram identificados mais de 100 tipos de HPV, sendo que cerca de 15 são considerados causadores de câncer. São os chamados HPV oncogênicos. Por enquanto, a vacina não está disponível na rede pública de saúde brasileira, mas sua inclusão no Programa Nacional de Imunização (PNI) está sendo estudada pelo Ministério da Saúde, que considera prioridade o controle do câncer de útero.

Ana Ramalho observou, entretanto, que mesmo depois que a vacina for incorporada ao PNI, vai continuar a recomendação de que as mulheres façam a detecção precoce. “Não se pode substituir a detecção precoce e o rastreamento do câncer de colo de útero pela vacina. Não pode”, insistiu.

Para controlar a doença, o Sistema Único de Saúde (SUS) realiza exames de prevenção, como o papanicolau, que pode detectar precocemente lesões que antecedem o tumor, além de cânceres em estágio inicial. Segundo Ana Ramalho, 70% da população feminina brasileira já tiveram em algum momento essa infecção.

No momento, o comitê do Ministério da Saúde que examina o caso da vacina não recomenda a aquisição. Ainda há questões sem resposta, advertiu Ana Ramalho. Além disso, deve-se considerar o custo elevado das doses da vacina, que está disponível para as consumidoras somente nas clínicas privadas no Brasil. Uma dessas questões é a possibilidade de o país financiar essa aquisição, ressaltou a especialista.

“Na Espanha, por exemplo, que incorporou [ao calendário de imunização], eles estão gastando lá para vacinar mais do que todo o programa de imunização com todas as vacinas que têm. É uma vacina cara. Na Europa, alguns países incorporaram, mas antes que houvesse um estudo claro de que o benefício é proporcional ao que as pessoas estão pagando por ele”, lembrou a médica do Inca.

Nem a redução, pela metade, do preço na fábrica da vacina contra o HPV oncogênico, anunciada na semana passada pelo laboratório britânico GlaxoSmithKline, alterou o posicionamento do Ministério da Saúde. O novo preço da vacina comercializada no Brasil é de R$ 114,67, contra o valor anterior de R$ 229,33.

“Mesmo com a redução do preço, o custo ainda é elevado, uma vez que são necessárias três doses por jovem”, comentou Ana Ramalho. “E para reduzir a mortalidade por câncer no país, o impacto da vacina é para 30, 40 anos. Ela não vai reduzir de imediato, porque quem recebe a vacina são meninas. Se você vacina aos dez anos, só daqui a 40 anos ela vai ter um efeito na redução da mortalidade” , destacou a especialista.

De acordo com cálculos do Ministério da Saúde, a introdução da vacina na rede pública implicaria em gastos de R$ 1,8 bilhão, apenas para a cobertura na faixa etária de 11 a 12 anos. E o orçamento do PNI, reconhecido como um programa de excelência, atinge apenas R$ 750 milhões por ano.

Estudos de custo-efetividade da vacina estão sendo feitos no Brasil e em outras partes do mundo. O Ministério da Saúde pretende aprimorar a rede de rastreamento para adequá-la à vacina. Ana Ramalho afirmou que devem ser tomadas várias medidas para preparar o país para essa vacina, seja na forma atualmente disponível ou na forma aprimorada (polivalente) que está sendo desenvolvida e que abrange vários tipos de vírus.

O câncer de colo de útero é, segundo o Inca, o quarto tipo da doença que mais mata mulheres no Brasil. Os primeiros são os de mama, de pulmão e de cólon e reto. Este ano, são estimados pelo Inca 18.430 novos casos de câncer de colo de útero.

Edição: Graça Adjuto


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