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Geral

Mauro Santayana: testemunha de um almoço decisivo

Deigma Turazi/ABr - 23 de abril de 2004 - 09:53

O jornalista Mauro Santayana, de 72 anos, estava no local certo e no momento certo, condições sonhadas pelos profissionais de imprensa para conseguir notícias inéditas. Ele foi testemunha visual e auditiva do momento exato em que os governadores Franco Montoro, de São Paulo; Tancredo Neves, de Minas Gerais; e Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, decidiram participar do movimento das diretas já.

A decisão foi tomada durante um almoço no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, em abril de 1983, quando todos se constrangeram com uma manifestação violenta de funcionários públicos que reivindicavam aumento salarial. Montoro ainda completara um mês no governo e, segundo Santayana, estava preocupado com a agressividade e com a clara demonstração de insatisfação popular. Para o governador, uma união imediata forçaria a redemocratização do Brasil. Aí teve início, para valer, a organização da campanha pelas diretas.

Santayana concedeu a entrevista na terça-feira (20), quando iria de carona com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de Brasília para Belo Horizonte. Hoje ele é colunista "free lancer" e mora na capital brasileira. Em 1968, integrava a Comissão de Estudos Constitucionais do Ministério da Justiça, que elaborava propostas para os constituintes de 1977. A amizade com Tancredo Neves e o trabalho feito pela reconquista da democracia garantiram-lhe uma condecoração do governo mineiro, em cerimônia na quarta-feira (21) em Ouro Preto.

A seguir, trechos do depoimento.

Susto no Bandeirantes

"Como colaborador de Tancredo Neves durante esses anos, pude assistir como as coisas começaram. Na realidade, foi no início de abril de 1983, logo depois de empossados os governadores eleitos no ano anterior. Houve um almoço no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, com os governadores do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Como amigo também do governador Franco Montoro, eu estava lá. E ainda participaram José Serra, os dois filhos e a esposa de Montoro. Na ocasião, o povo tentava arrebentar as grades do Palácio, em manifestação por aumento salarial. O governo não tinha um mês, Montoro fora empossado no dia 15 de março. Ficou aquele clima constrangedor e um dos participantes comentou que 'esta situação será de todo mundo e não só do Montoro'. E sugeriu a redação de uma nota assinada pelos governadores ali reunidos, explicando isso à nação."

Brizola, um moderado

"O governador Montoro pediu que eu redigisse a nota. Naquele momento, o Brizola queria defender o Figueiredo (ex-presidente João Baptista Figueiredo) e brincou: 'Não bata muito porque nós vamos precisar da ajuda dele.' Tancredo, sentado ao lado de dona Lucy Montoro, não resistiu ao comentário: 'E depois dizem que eu é que sou moderado.' Quando saímos dali, levei Tancredo ao aeroporto – ele iria para Brasília – e ele me disse o seguinte: 'Montoro e eu chegamos à conclusão de que se não houver eleição direta para Presidente da República essa ditadura vai continuar.' E foi assim que tivemos de sair para a campanha, levar o povo para a rua. Assim nasceu a idéia das diretas já."

Com a arma do inimigo

"Quando a emenda Dante de Oliveira foi rejeitada, a solução era usar a arma do adversário. Havia dois candidatos do regime no Colégio Eleitoral: o Andreazza (Mário, ex-ministro do Interior de Figueiredo) e o Maluf (Paulo, ex-governador de São Paulo). E nós podíamos prever que a força econômica de São Paulo ia impor o Maluf e o governo militar também estava querendo o Maluf. Tinha mais confiança na realidade do Maluf do que na de Mário Andreazza.

Sabendo que a rejeição popular ao Maluf era imensa, avaliamos que era por aqui que nós tínhamos que trabalhar e afinal ganhamos. Infelizmente, não podíamos prever o imprevisível, que foi a morte do Tancredo."

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