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Geral

Manoel Afonso escreve sobre Campo Grande

25 de agosto de 2006 - 14:22

CAMPO GRANDE: BOA DE MORAR, RUIM DE VIVER!

“A cidade é uma para quem a olha pela primeira vez, outra para
quem chega para ficar, outra para quem nunca a vai deixar”.
(Ítalo Calvino)

Começo perguntando: onde você encontra seus amigos aqui ? Goiânia, Cuiabá, Rio Preto, Bauru, Ribeirão Preto, Londrina, Maringá e Florianópolis, por exemplo, tem locais mágicos de referência, para um café amigo e um papo informal. Aqui, já ouvi alguém dizer que seria nos supermercados. Ora bolas! Só pode ser brincadeira!
Que a cidade é espaçosa, arborizada e de topografia agradável, sem dúvida. Os visitantes não cansam de elogiá-la, mas belas avenidas e a paisagem arquitetônica moderna não bastam, não satisfazem plenamente. É preciso algo mais! Nas festas e velórios tenho ouvido constantemente observações sobre o assunto e como estamos próximos do aniversário da capital, é oportuno abordá-lo de frente.
O tema é delicado, provoca discussões entre os aqui nascidos e os chegantes. Porque essa bela cidade é tão fria e sem alma? Porque essa distância nas relações humanas? Porque cada qual fica no seu canto e não se visita? Porque constroem praças sem bancos? Porque o público aplaude comedidamente os artistas em seus espetáculos? Porque as manifestações de calor humano ficam restritas ao carnaval, eleições e Copa do Mundo? Porque cada um “fica na sua”?Conversei com muita gente, colhendo subsídios. Ouvi campograndenses da gema, sociólogos, novos e velhos moradores que vieram de fora.
O saudoso Eduardo Metello, grande observador social, fez a melhor análise; precisa e imparcial. Lembrou: a cidade foi fundada por mineiros, eternos desconfiados, numa época pós Guerra do Paraguai. Essa postura defensiva mineira ficou ainda mais visível na convivência com bugres, índios e paraguaios. Com a chegada da estrada de ferro em 1917, vieram os conservadores japoneses e que se uniram ainda mais face ao ambiente hostil da época. Grupos heterogêneos construindo um sonho convergente, mas cada qual conservando suas características. Para Metello, a invasão sulina pela agricultura é que provocou mudanças positivas de comportamento e influenciou na miscigenação de raças. Dizia até: essa nova geração está mais bonita, mais extrovertida e tem mais latinidade.
Outra observação importante foi de um amigo sociólogo. A noção de espaço da capital é diferente de outras cidades de São Paulo, Paraná, Minas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O traçado dela seria elemento responsável pelo distanciamento das relações. Aqui os bairros se comunicam sem necessidade de se passar pelo centro e há enormes áreas sem ocupação. Pergunta-se: Qual a relação do morador das Moreninhas com a cidade?
O próprio prefeito Nelsinho, nascido aqui, acha que é preciso estimular essa relação de afeto com a cidade e entre seus moradores, mostrando-se preocupado até com os idosos, que simplesmente “desaparecem de circulação”. E foi mais longe: “uma campanha para estreitar os laços com a vizinhança cairia bem”.
Claro que Rotary, Lions, Maçonaria, Igreja, clubes e outras entidades são fundamentais na relação entre as pessoas. Mas é preciso que essa nova geração tenha outra postura, abandonando a defensiva, para fazer da cidade uma terra cada vez melhor e mais humana. Afinal, lembram os chineses: “todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje.” Quem sabe um dia, as pessoas daqui se cumprimentem mais, sem formalismo, os vizinhos se relacionem melhor. Afinal, a cidade não é mais ponto de passagem. É de chegada para a grande maioria.
Como bem diz Jorge Luis Borges, o homem não está na cidade e sim ele é a cidade, pois “um homem é seu país, sua cidade, seu bairro, sua rua, sua casa, seus vizinhos e seus amigos.” Termino aqui, mas a discussão deve e precisa continuar.

( o autor é comentarista
Da TV. Record-MS)















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