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Manoel Afonso - Conformismo: é sinal de fraqueza?

Manoel Afonso - 17 de setembro de 2008 - 09:19

CONFORMISMO: É SINAL DE FRAQUEZA?

“Pobre, feliz e independente! Tais coisas
juntas são possíveis”. Nietzsche - 1881

Perguntei ao ascensorista de um decadente prédio da região central da nossa capital: “você trabalha aqui há quanto tempo?” Sem cerimônia ele respondeu: “no final deste mês completarei 25 anos.” Pensei na hora – mas como isso é possível suportar essa rotina! Todo esse tempo, trancado neste elevador surrado e cheirando a mofo, ainda com aquela porta de grade em metal, ventilador barulhento no teto e sem ver o sol e a rua, conversando quase sempre com as mesmas pessoas!
Pressionado pelo instinto jornalista insisti: “mas você é feliz assim desse jeito? Não achou algo melhor para fazer durante todo esse tempo? Não está cansado dessa mesmice, sem chances de promoção ou algo parecido?” Na maior simplicidade disse que não tinha nada a reclamar da vida. Confessou que era solteirão, tinha apenas uma bicicleta como patrimônio, seu meio de transporte e morava num quarto de fundos na casa de sua irmã. Animado, lembrou que faltava pouco tempo para se aposentar.
O ponto de interrogação no título do texto visa exatamente evitar uma afirmação e por conseqüência injustiça ou equívoco. Sem interrogar estaria explícito que a fraqueza seria própria daqueles que se conformam com essa ou aquela situação, como o nosso personagem, quase um anônimo na multidão, de pretensões limitadas. Daí todo o cuidado em questionar, dando a cada leitor a oportunidade de exercer o livre arbítrio para analisar e decidir segundo suas convicções.
Com isso, abre-se a possibilidade de se admitir que o conformismo possa ser visto também como produto do estilo ou filosofia de vida que satisfaça plenamente os anseios do cidadão. Pergunto: Quem garante que o nosso pacato ascensorista não seja tão feliz – ou mais até - como um bem sucedido empresário tipo Eike Batista, hoje figurando da lista dos homens mais ricos do mundo? Como diz um amigo meu - vai depender dos limites de seu universo. Se for pequeno, estará preenchido – ponto final. Suas necessidades básicas foram atendidas. Estamos conversados!
Claro que o homem é insaciável nesta sociedade de consumo capitalista. Ao mesmo tempo ele é cúmplice e vítima deste modelo que despreza o valor interior e a individualidade para valorizar a impessoalidade em nome do lucro e sucesso. Poucos são aqueles que conseguem manter o equilíbrio.
Para arrematar, cito a expressão de Emerson (1860): “Considero feliz a pessoa que, quando o assunto é o sucesso, olha para o seu trabalho em busca de resposta, e não para o mercado e a opinião alheia ou para quem a financia.”


Manoel Afonso
(comentarista da TV.Record-MS)



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