Geral
Manoel Afonso- As igrejas prosperam. A culpa é do diabo
A FÉ REMOVE MONTANHAS...
INCLUSIVE DE DINHEIRO!
Mesmo com o diabo sendo o culpado, quem acaba pagando o pato é você. Cuidado com seu bolso! Dependendo da Igreja é melhor nem levar carteira ou talão de cheques.
Se o problema era falta de igrejas, agora está resolvido. Em cada quarteirão, principalmente da periferia, tem uma. Cada qual com seu marketing! O único problema é o dízimo, cada vez mais exigido. Diz um amigo, desse jeito o pobre será excluído do paraíso. O velho papo de que ...é um sofredor, vítima de privações... já era; não é mais aceito pela nova ordem religiosa. Sem pagar esse pedágio não ganha o céu, e ponto final. É como na portaria de cinema: não pagou, fica de fora. Não adianta chorar!
Mas uma característica é comum à maioria dessas igrejas: demonstram estar profundamente empenhadas em combater o velho inimigo da humanidade, o o diabo que apesar de ridicularizado nas piadas do dia a dia, nas revistas de humor e nas fantasias de carnaval, parece estar em alta. E o cara, voltou a todo vapor. Até o presidente Hugo Chavez, ao discursar no plenário da ONU, cismou que ainda sentia o cheiro de enxofre deixado pelo diabo Bush. Como se vê, o diabo mete o chifre até nas relações internacionais.
Quanto mais falam dele, mais ele aparece! Agora o capeta está moderninho; tirou os chifrinhos, as costeletas e cavanhaque. Como no filme O Advogado do Diabo, aderiu a globalização, usa gel, ternos bem cortados, notebook e celular. Tudo para seduzir os homens...e mulheres também. Não tem mais aquela imagem da época do nosso catecismo que relatava a tentativa dele em aplicar o golpe da sedução em cima de Jesus.
No fundo, no fundo, é nossa a culpa pelo alto Ibope dele. É só algo dar errado e soltamos a frase: mas será o diabo? É assim por exemplo, quando não achamos as chaves do carro, os documentos pessoais, no pênalti perdido, na bronca do patrão ou no prato predileto do forno que passou do ponto.
Mas como o diabo anda passando dos limites, botando o dedo em tudo, desde a cotação das Bolsas, variação cambial, sorte nas loterias, auto estima pessoal, decisões judiciais, avanço da medicina e indústria farmacêutica, generosidade do decote do vestido e até no comprimento da saia, nada melhor do que contar com esse formidável exercito de salvadores da pátria bradando palavras de ordem nos púlpitos religiosos.
E nesta guerra do bem contra o mal, vale literalmente tudo para sair da zona cinzenta das diabices. Os milagreiros de plantão nestas igrejas curam de unha encravada a câncer. Até mesmo para quem o Viagra não faz mais efeito. Afinal, é preciso vencer o diabo, o causador destas mazelas, que aporrinha tanta gente que não consegue dar certo na vida, nem mesmo após deitar no divã de psicanalista ou com ele próprio.
Se na Idade Média a Igreja Católica vendia indulgências (lugar no céu) e promovia a Inquisição, o que ocorre aqui é a versão tupiniquim da Teologia da Prosperidade, muito presente nos Estados Unidos. Lá, o pessoal pega pesado, com a mídia sendo aliada importante para arrebanhar multidões. E os aprendizes brasileiros têm se mostrado competentes nesta atividade florescente: aproveitam da isenção de impostos, da generosidade povo, e constroem verdadeiros impérios.
Mas e os escândalos? Irrelevantes. Afinal, o brasileiro não tem memória. Azar do diabo - sorte de seus abnegados combatentes. Aleluia! Aleluia!
Manoel Afonso
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