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Magistério tem dificuldade de atrair jovens talentos para a carreira

Amanda Cieglinski, Agência Brasil - 15 de outubro de 2010 - 07:35

Brasília - Quase 2 milhões de professores trabalham nas salas de aulas de escolas públicas e particulares de educação básica no país. Se a profissão já teve grande importância no passado, hoje é difícil atrair jovens talentos para a carreira. Os alunos que entram nos cursos de pedagogia são, em geral, aqueles com baixo desempenho no vestibular ou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Uma análise dos inscritos para a edição do exame em 2007 mostra que entre os candidatos com pior nota, a probabilidade de um deles escolher o magistério é três vezes maior do que entre aqueles com melhores notas. Quem ingressa nos cursos de pedagogia, que formam os professores da educação infantil e do ensino fundamental, tem um perfil específico: baixo nível socioeconômico e pais com escolaridade baixa.

Dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) mostram que 41,6% dos estudantes de pedagogia têm renda mensal até três salários mínimos e quase um terço (32,1%) concilia os estudos com o trabalho para contribuir com o sustento da casa. Os pais de quase metade dos alunos têm grau de escolaridade baixo: 46,5% estudaram só até a 4ª série do ensino fundamental e quase 70% cursaram o ensino médio integralmente em escola pública. Os dados referem-se ao Enade 2005, os mais recentes disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC).

O assessor especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Célio da Cunha, alerta que o problema de desvalorização é antigo. “A universalização do ensino fundamental foi feita às custas dos baixos salários dos professores. Quando se expandiu o número de escolas e fez-se a inclusão de mais alunos, ironicamente foram os professores que financiaram isso porque a expansão não foi feita melhorando a carreira e os salários”, avalia.

O resultado desse processo pode ser medido pelo desinteresse dos estudantes do ensino médio. Pesquisa da Fundação Victor Civita, realizada no ano passado com 1,5 mil jovens, apontou que apenas 2% deles querem ser professor. O conselheiro nacional de Educação, Mozart Neves Ramos, acredita que quatro ações principais podem solucionar esse quadro: melhores salários, bons planos de carreira, formação inicial sólida e condições de trabalho adequadas.

Na avaliação dele, o Brasil deveria se inspirar no que fizeram os países que hoje têm os melhores índices educacionais como Cingapura, a Coréia do Sul e Finlândia. “A gente copia tanta coisa ruim e não olha as coisas boas que estão fazendo a diferença nesses lugares. Eles conseguiram atrair 20% dos alunos mais talentosos para o magistério simplesmente com um salário inicial atraente. Esse tem que ser o primeiro passo”, defende Ramos.

Para a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, além desses aspectos, a valorização da carreira passa pela melhoria dos índices educacionais. “Recuperar a credibilidade da escola na formação dos jovens e das crianças é um fator que pode parecer subjetivo, mas faz diferença no momento da escolha da profissão”. Pilar, que é professora de história e começou a lecionar na década de 70, acredita que a sala de aula é um ambiente de trabalho que “tem a ver com a juventude. Não existe muita rotina quando se trabalha com crianças e jovens, há uma provocação constante e permanente pela busca do conhecimento”, ressalta.

Célio da Cunha acredita também que será necessária uma mudança de cultura e da visão que a própria sociedade tem do professor hoje. “A sociedade não acordou ainda para a importância da educação e o papel estratégico do professor para o desenvolvimento do país. Se um bom aluno diz que quer ser professor, as pessoas até riem dele”, afirma.

Edição: Graça Adjuto

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