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Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 04 de abril de 2013 - 14:37

Língua portuguesa, inculta e bela, por  Alcides Silva

A melhor (!!!?) idade


Para não me chamar de idoso a mim mesmo, tomo por empréstimo o eufemismo da moda e cambaleio os meus 82 anos naquilo que agora se convencionou chamar de “melhor idade”.
Explicam as gramáticas que o sufixo nominal oso exprime conceitos como provido ou cheio de; que provoca ou produz (algo); que se assemelha a; relativo a; que é (ou tem) muito (algo). E os exemplos ultrapassam o milhar: amoroso (que tem muito amor) apetitoso (que provoca ou produz ‘apetite’); astucioso (cheio de astúcia); bondoso (provido de bondade); cauteloso (que procede com cautela); espirituoso (relativo a espírito); ganchoso (que se assemelha a um gancho); lucroso (que produz lucro); saboroso (que tem sabor), venenoso (provido de veneno) etc. Tomaríamos o espaço desta coluna e de muitas outras mais, somente com a citação de termos da língua portuguesa que foram compostos com adição do sufixo oso.
Sem qualquer intenção de polemizar, até porque não tenho forças intelectuais e nem armas culturais para tanto, ouso dissentir dos etimologistas que dizem que o adjetivo idoso é derivado unicamente de idadoso, com a supressão do fonema da, processo que em gramática se chama de ‘haplologia’ (contração, redução ou síncope de elementos similares de um vocábulo: bondadoso>bondoso – caridadosa>caridosa – idolólatra>idólatra – tagicocomedia>tragicomédia). Haplologia é termo da Lingüística, criado no final do século XIX com a junção dos elementos gregos haplóos (simples), logos (discurso) e sufixo ia, para designar o processo de corte de sílabas iguais e contíguas na composição ou derivação de uma palavra., a fim de torná-la mais compreensível e de fácil leitura.
Do substantivo aetatis (idade, tempo de vida), adicionado-se-lhe o sufixo oso, teria surgido idadoso, e no século XIV, o nosso idoso.
Entendo haver possibilidades de origens diferentes para a palavra idoso, até porque etimologia é uma ciência de investigação.
Os romanos não contavam os dias dos meses como nós o fazemos, na ordem seqüencial progressiva, desde o primeiro até o último dia de cada mês, de 1º a 30, por exemplo. Era bem complicada a operação de contagem do tempo, para nosso entendimento: os romanos possuíam três datas fixas nos meses, e delas se utilizavam como ponto de referência para enumerar os demais dias. As datas fixas eram as calendas (primeiro dia do mês), as nonas (quinto dia do mês, exceto em março, maio, junho e outubro, quando era o sétimo) e o idus (o dia 15 nos meses de março, maio, junho e outubro e o 13 dos demais meses).
O substantivo idus em latim significava por extensão ‘o tempo passado’, ‘os anos decorridos’ e com essas ambas significações chegou à moderna língua portuguesa: “Nos idos de 1960 surgiu a Bossa Nova.”
Da mesma forma, a pessoa que tivesse passado por muitos idos era considerada idosa.
Não se pode esquecer, ainda, que no latim existia o adjetivo annosus, com o sentido de ‘carregado de anos’, ‘velho’. O Aurélio Século XXI anota que esse termo é “mais usado em relação a coisas que a pessoas”: Um pinheiro anoso.
Do latim vetulu, pela forma reduzida vetiu, surgiu velho e daí avelhado, avelhantado e avelhentado.
E, para dar por findo este artiguete, convém lembrar que do latim vulgar antianus nasceu a forma ancianus que, através da língua francesa, deu vida ao nosso substantivo ancião.

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