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Geral

Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 27 de julho de 2006 - 09:24

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Pronomes
Entre mim e ti haverá sempre respeito ou Entre eu e você haverá sempre respeito ou, ainda, Entre mim e você haverá sempre respeito. Qual frase é correta?
Na linguagem diária e familiar é comum ouvir-se as três formas. Mas a correta é a primeira, embora a última seja muito empregada na linguagem do Estado de São Paulo, onde, tirante alguns pontos do litoral, no falar de todos os dias quase não se emprega a segunda pessoa verbal.
Uma dica bem simples e que resolve quase todas as dúvidas: usa-se o pronome eu antes do verbo; o mim, após preposição. Assim, “Senhor, fazei de mim o instrumento de vossa fé” – “Não saia sem mim” – “Vinde a mim as criancinhas”. Todavia, se na oração vier um verbo no infinitivo depois do pronome, obrigatoriamente, usar-se-á o do caso reto: “Deu-me água para eu beber”.
Os pronomes – espécie de vocábulo variável ao qual pertencem as palavras que substituem o nome – dividem-se em pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos e indefinidos.
O que nos interessa hoje são os pronomes pessoais e eles podem ser:
a – do caso reto: eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles e elas
b - do caso oblíquo: me, mim, [comigo], te, ti, [contigo], se, si, [consigo], o, a, lhe nos [conosco], os [convosco], lhe, os as;
c – de tratamento: você, senhor, vossa senhoria e
d – de relevância: vossa excelência, vossa majestade, vossa reverendíssima, vossa alteza.
Os pronomes pessoais exercem três funções sintáticas:
Sujeito (sempre do caso reto): “Senhor , tu que ensinaste, perdoa se eu ensino”;
Objeto direto (geralmente oblíquo): Vi-o na rua – Ele vos obedece – Feriu-se.
Objeto indireto (também geralmente oblíquo) – sempre regido por preposição: Traga-me água (me=para mim); Mário vos disse tudo (vos + a vós) – Tirai-lhe as chaves (lhe=dele).
Na frase dada como exemplo no início deste comentário, invertida a posição dos termos (“O respeito sempre haverá entre mim e ti” [ou você]) percebe-se claramente que os dois pronomes ali expressos (mim e ti [ou você]) não têm função de sujeito.
Celso Cunha alerta que “a tradição gramatical aconselha o emprego das formas oblíquas tônicas depois de preposição entre”. Exemplo: “São assuntos que se podem tratar entre mim e ti, sem desar para nenhum de nós – Machado de Assis”. (“Desar”, substantivo, significa “desdouro”, “desgraça”; é sinônimo de “desaire”).
Deve-se assim escrever ou dizer “entre mim e ti”, “entre ti e mim”, “entre ele e mim”, e jamais “entre eu e tu”, “entre eu e ele” ou “entre ti e eu”, pois a forma pronominal eu não pode ser regida por preposição alguma. Quando numa fala vier uma preposição precedendo o eu, essa preposição não regerá o pronome, mas a palavra que lhe seguir: “Trouxe-me frutas para eu experimentá-las”. Aqui a preposição não rege o pronome, mas a forma verbal que se lhe segue; tanto é que posso suprimir o pronome eu e a frase continua com sentido (“Trouxe-me frutas para experimentá-las”).
Lembre-se: mim sempre vem regido de preposição; eu, nunca! Pode vir antecedido de uma preposição mas esse termo não o regerá.

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