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Língua Portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 21 de julho de 2011 - 16:25

Anfitrião
Na atualidade anfitrião é aquele que sabe receber alguém: geralmente uma pessoa de boas maneiras, um gentleman. Nos esportes, time anfitrião (equipe anfitriã) é quem recepciona a esquadra visitante, embora ocorram, vez por outra, pancadarias homéricas contra os visitantes durante competições esportivas.
A palavra tem origem remota na cultura greco-romana e, por via de regra, em seu fecundo fabulário religioso.
Amphitry, (Anfitrião) filho de Alceu, rei de Tirinto, era casado com uma filha do rei Eléction, de Micenas, a belíssima Alcmena, por quem nutria verdadeira devoção. Tanto que se pôs em cruenta e demorada expedição guerreira para vingar seus cunhados, mortos pelos filhos do rei da ilha de Tafos. A vitória foi avassaladora.
Durante sua ausência, porém, Zeus, rei dos deuses e dos homens, disfarçado de Anfitrião, visitou Alcmena, com quem teve um encontro de amor, que durou três dias. Ao se despedir, ofereceu-lhe um grande e especial banquete, como se fosse o verdadeiro dono da casa.
Regressando da guerra e sabendo do que acontecera em sua ausência, louco de ciúme, Anfitrião quis lavar sua honra, matando a esposa, Inocente e culpada ao mesmo tempo, Alcmena pediu-lhe piedade, mas o marido, furioso, arrastou-a à praça pública, amarrando-a em uma enorme pira e ateou fogo. Vendo o mal que causara, Zeus fez chover fortemente, apagando a fogueira.
Anfitrião entendeu o aviso divino e perdoou a mulher que, meses depois, deu a luz dois filhos gêmeos: Hércules, filho de Zeus, e Íficles, filho de Anfitrião, que reconheceu a ambos. Hércules é o mais célebre dos heróis da mitologia grega, um semideus, o símbolo do homem em luta contra as forças da natureza.
De acordo com a mitologia romana, os fatos ocorreram com Júpiter, o deus supremo, senhor das chuvas, das tempestades, dos raios e dos trovões.
Dois séculos antes de Cristo, Plauto, inspirou-se nessa lenda para escrever a comédia “Amphitruo”, dando às honras da conquista amorosa a Júpiter, o poderoso deus dos romanos.
Camões, o maior épico da língua portuguesa, utilizou-se do tema de Plauto, quando estudante, em “Comedia dos Enfatriões”, que tomou forma de livro em 1615.
Molière (Jean-Baptiste Poquelin), o grande dramaturgo francês do século XVII, com base no texto romano e, talvez, até no camoniano, recriou a trama em 1668, dando-lhe o nome de Amphitrion. No ato III, cena V, dessa peça teatral, Molière pôs na boca de Mercúrio, companheiro das fanfarronadas de Júpiter e que se fazia passar por Sósia, escudeiro do príncipe traído, a seguinte fala: “... cet mot termine / touter d’irrésolution; / le véritable Anphitryon / est l’Anphitryon où l’on dine” (em tradução livre: “... esta palavra põe fim a toda incerteza: o verdadeiro Anfitrião é o Anfitrião onde se janta”).
Em virtude dessa fala, o nome do príncipe perdeu-se na significação de substantivo próprio e popularizou-se com o sentido de aquele que dá um banquete ou uma festa, e, por extensão, aquele que recebe bem os convidados. E o de seu criado Sósia passou a ser representado com o significado de ‘pessoa muito parecida com outra’, em alusão a Mercúrio, que copiara as feições do escudeiro de Anfitrião. Tudo para dar foro de verdade ao embuste montado pelo façanhudo e peralta deus romano.

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