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Língua Portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 10 de agosto de 2007 - 09:36

Língua Portuguesa, inculta e bela

Alcides Silva

Regra de trânsito: é proibido emular

A vedação não tem nada a ver com muares, nem mesmo com as 'mulas-sem-cabeça' ou assimilados. Tem muito com as noites de sono que vez por outra perdemos – agora bem menos que anos atrás - com os 'pintacudas', 'felipes massas' e os 'fernandos alonsos' das madrugadas indormidas. Já não me assusto tanto com o cantar zunido dos pneus no asfalto cansado de minha rua.

'Emular 'não é virar mula, não. Nem tampouco se embrutecer ou perder o sentido de humanidade.

Mulo, explicam os zootecnistas, é um animal mamífero resultante do cruzamento de jumento com égua ou de cavalo com jumenta. Mulo é o burro, a besta, macha, dizem os dicionários. Macha, mas híbrida. Não estranhe o adjetivo macha, que é o feminino de macho, assim com fêmeo é o termo masculino que se emprega para designar o animal que não é biologicamente macho: A cobra macha; o jacaré fêmeo.

Por hoje, minha preocupação retém-se nos 'rachas' e 'cavalos-de-pau' que têm tirado o sossego das madrugadas de muita gente boa, malgrado contribuam, com os impostos que pagam (e são muitos e fortunosos), para o custeio da tranqüilidade pública.

Diz o Código de Trânsito que participar, na direção de veículo, em via pública, de disputa automobilística não autorizada e que possa produzir dano, é crime com penas que variam de seis meses a dois anos de detenção, além da multa e da suspensão ou proibição da habilitação (art. 308). Antes, em linguagem diferente, aquele mesmo Código já considera infração administrativa gravíssima a disputa de corrida por espírito de emulação, que traz como conseqüência uma pena de multa, a suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo.

Embora os que participam dos 'cavalos-de-pau' que apoquentam a vida da grande maioria da população, possam ter QIs elevados, os que duvido, apesar do status com que se apresentam de 'filhinhos-de-papai de classe média alta', o certo é que, como motoristas/motoqueiros e cidadãos, são todos jumentamente burros, broncos, estúpidos e imbecis não só pela desnecessária emulação, mas principalmente falta de civilidade, de respeito a uma regra simples, vigente desde os tempos primitivos: o meu direito termina onde começa o seu.

Apesar disso, nem a palavra emulação tem parentesco com os termos 'mulo', 'burro' ou 'burrice' e nem o fato desses imbecis nos acordarem altas horas tem justificativas gramaticais.

Vamos, porém ao que interessa (ou, pelo menos, é de meu dever): mulo e emulação são palavras de origem latina, mas de étimos diferentes.

Mulo é o aportuguesamento de "mullus", que originariamente no latim era qualquer ser macho e, posteriormente, passou a designar o animal cavalar, como cantado em 'Cabocla Teresa', bela toada de João Pacífico: "Virei meu cavalo a galope, / risquei de espora e chicote / sangrei a anca do tal; / desci a montanha abaixo / galopeando meu macho / e o seu doutor fui chamar".

Emulação nasceu de aemulus-a-um, na significação primitiva: que imita, que procura se igualar (no bom e no mau sentido). Daí, êmulo, rival, adversário, invejoso. Assim o 'ato de emular' é, por exemplo, portar-se invejosamente numa competição e querer superá-la a qualquer custo; não é dirigir 'como uma mula', como parecem ser ou estar os meus 'despertadores humanos'. É competição bestamente desabusada, concorrência brutalmente destemida, rivalidade estupidamente inigualável, audácia atrozmente embrutecida.

É voar e rodopiar de carro ou de moto, adrenalina a mil, músculo à mostra, nervos à flor..., no pó, bicho!



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