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Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 07 de outubro de 2006 - 08:56

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Suicidar-se
Mário Lago além de ator televisivo, sua faceta mais conhecida, era compositor (Ai, que saudade da Amélia, Número Um, Atire a Primeira Pedra, dentre outras), poeta e escritor de vastíssima produção. Em suas deliciosas Dezesseis linhas cravadas, livro de minicontos com 16 linhas cada um, narra a história de um professor de português que se matou ao descobrir que a esposa o traíra. Deixou escrita a razão de seu gesto (‘tresloucado gesto’, como relatariam os jornais da época): “Adélia suicidou-me”.
“Suicidar-se” é ou não um pleonasmo? A etimologia indica que suicidar é “matar a si próprio” (do latim sui = a si + cida, ae <. caedere grande mortic pelo estudo hist da palavra seria dispens o pronome reflexivo mas na l atual isso n verdadeiro. ningu fala suicidou se e irrevers que praticamos. verbo pronominal. aqui tamb houve uma transforma sem elemento sui si perdeu seu valor reflexivo.> Paixão pelo Latim ou esnobismo filológico, talvez mais este que aquele, vivo aqui a procurar o étimo de palavras que andam ou andaram na moda. Aliás, o termo “esnobismo”, embora não tenha paladar romano, também merece busca em sua raiz: esnobe + - ismo; do inglês ‘snobbism’. De origem obscura, parece ter sido nome de um frívolo que bajulava exageradamente os poderosos e desprezava os humildes, de onde proviera. Sua fonte histórica remonta a 1781, segundo Houaiss.
Tenho repetido, todas as vezes que me surge a oportunidade, que a língua é dinâmica e evolutiva, e que muitas palavras, com o passar do tempo, têm o sentido original alterado, chegando, inclusive, a exprimir idéias completamente diversas das contidas na significação primitiva. A palavra formidável é um exemplo clássico. Antes significava terrível, pavoroso, temível, hoje tem o valor de “muito bom, muito bonito; admirável, excelente, magnífico”.
“Êxito” que no passado era conseqüência, efeito, fim, hoje é “resultado feliz”, “sucesso”. Aliás, “sucesso” também está perdendo seu significado primitivo de acontecimento, aquilo que sucede, evento, para ser sinônimo de “êxito”, de “sorte”, de “resultado favorável”, de “acontecimento feliz”.
Outras curiosidades da evolução semântica: “hipócrita”, do grego hypokrités, pelo latim, hypocrita era o nome que se dava ao “ator”, ao “intérprete”, ao “artista”; hoje é o adjetivo que qualifica uma pessoa fingida, falsa, impostora; “caderno”, do latim quaternum perdeu o sentido primitivo de ‘folha de papel dobrada em quatro’; “pedagogo”, o escravo que levava as crianças à escola (do grego paidagogós [paídes>menino – ago> qualificativo do escravo-pajem]); secretário, originariamente ‘depositário dos segredos’, ‘confidente’. O verbo “chegar” veio do latim plicare, que etimologicamente significa “dobrar”: os navios ao chegarem ao porto, dobravam as velas. A evolução da palavra começou com o abrandamento do grupo pl em ch, (como de pluvia veio a chuva) e do c em g. Depois, veio a alteração semântica do sentido (idéia) da palavra dobrar>chegar.
Meretriz já foi o nome que se dava ao pagamento por um serviço lícito. Nasceu do verbo latino meréo, cujo significado original era receber alguma coisa como prêmio; daí, com a mesma raiz, o primo-rico meritus, de onde veio o nosso mérito. Os exércitos romanos incorporavam mulheres às suas fileiras para trabalhos domésticos. Eram chamadas de meretrícis porque os serviços que realizavam eram pagos. Vai daí, que a ‘carne, que é fraca’ transformou o sentido originário da palavra...

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