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Geral

Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 03 de fevereiro de 2006 - 07:10

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Linguagem de televisão:
Frases ouvidas em tempo de pré-Copa
“Brasil, me vê meia dúzia”
O apelo é da televisão, conclamando o telespectador a se interessar pelos jogos da Copa do Mundo. O que a mensagem pretende é estimular, incitar o ouvinte para que ele entre no denominado “clima da copa”, na expectativa do sexto título. Como o termo hexacampeão é de difícil pronúncia e memorização, o marqueteiro trocou-o pelo carioquês “me vê meia dúzia”. Se assim é, esse “me vê meia dúzia” é a expressão de um desejo e a frase, como dita, está empregando o verbo de forma não correta;
É sabido que o verbo mostra as diferentes maneiras como um fato se realiza: o indicativo (exprime um fato certo, positivo: “Ele vê os jogos pela televisão”); o imperativo (enuncia uma ordem, um conselho ou um pedido “Veja na televisão”); e o subjuntivo expressa possibilidade, suposição, fato possível ou hipotético, ou, ainda, duvidoso: “Brasil, me veja meia dúzia”.
É assim o verbo ligar no presente do subjuntivo: que eu veja, que tu vejas, que ele veja, que nós vejamos, que vós vejais, que eles vejam.
“Verifique no tira-teima”
Assim como porta-jóias, toca-discos, tira-provas, tira-rolhas, o correto seria tira-teimas. Porém, a influência da televisão na linguagem – a língua é um produto do meio – já registra como “tira-teima” o recurso eletrônico que analisa lances duvidosos, polêmicos ou importantes das competições esportivas.
“Desculpem a nossa falha”
Quem desculpa, desculpa alguém de alguma coisa e quem pede, solicita-a a alguém. “Desculpar”, no sentido de relevar ou absolver, é verbo transitivo direto e indireto. A ação transita para outros elementos da oração direta e indiretamente e, por isso, o verbo requer simultaneamente objeto direto e objeto indireto para completar-lhe o sentido. Assim, o correto é “Desculpem-nos da nossa falha” - “Desculpe-me de minha ignorância”.
Já “desculpar”, com a significação de conceder perdão ou justificar, é verbo transitivo direto: “Não desculpo os maus políticos”. “Não desculpo os locutores da televisão”.
“Antônio namora com Maria”
Namorar é cortejar, galantear, sentir interesse por, apaixonar-se, encantar-se, cativar, atrair. É verbo transitivo direto e não admite preposição. Não se necessita de nada para o namoro, a não ser o objeto amado, no caso do Antônio, a Maria. Quem namora o faz diretamente e sequer gosta de “vela”, isto é, de alguém “segurando a vela”. A ação expressada pelo verbo namorar transita, isto é, passa, diretamente para o complemento (objeto direito). O certo então é “Antônio namora Maria”.
“Tome um guaraná gelada”
O correto é “Tome um guaraná gelado”, pois guaraná (do tupi uaraná) é substantivo masculino. O hábito de usar essa palavra no gênero feminino nasceu possivelmente do fato de a maioria dos refrigerantes consumidos no Brasil terem nomes femininos: Pepsi, Sprite, Fanta, Coca-cola, Cotubaína, etc.
“Ele é de menor e eu sou de maior”
Não há pessoas de maior ou de menor. Pode ser menor de idade ou maior de idade, menor ou maior, mas não de menor ou de maior. No caso, menor, maior são predicados nominais e o verbo empregado é de ligação (funciona apenas como um elo entre o sujeito e seu predicativo), e nunca admite preposição. “Ele é alto” (de altura acima da média).

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