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Geral

Língua portuguesa, inculta e bela!, por Alcides Silva

Alcides Silva/O JORNAL de Santa Fé do Sul - 27 de setembro de 2004 - 07:50

Infinitivo – 1ª parte

A dúvida:
Mande os candidatos ao emprego entrar
ou
Mande os candidatos ao emprego entrarem

O uso das formas flexionada e não flexionada do infinitivo é um idiomatismo (sinônimo de idiotismo- do grego ídios= próprio) da língua portuguesa; só nela existe o infinitivo pessoal. Apesar disso ou talvez por isso, é uma das questões sintáticas mais controvertidas, com regras que os bons gramáticos dizem ser insuficientes, irreais e até desnecessárias. Grave bem: a principal condição para o emprego do infinitivo pessoal é a clareza, visto que tratar-se de uma questão mais de estilística que de gramática.
Relembrando que o Infinitivo pode ser Impessoal, sem flexão, que é o nome do verbo, não tem sujeito, nem tempo, e indica a ação de um modo geral: “Ler é um hábito que adquiri em criança”, e Pessoal, que tem sujeito próprio e pode ou não flexionar-se: “Julgo teres (tu) lido bem”.
Comecemos por denominar de verbo regente o verbo principal e de verbo regido o infinitivo que depende daquele.
Hoje vamos verificar somente o emprego da forma não flexionada:
O Infinitivo é impessoal:
a - Quando não se refere a nenhum sujeito:
‘Impossível assobiar e chupar cana ao mesmo tempo’.
b – Quando tem o valor de imperativo:
Não fumar. Não entrar. Passar pela direita.
(Obs: há autores que chamam essas formas de “imperativo cortês”, porque não havendo pessoa, deixa de dirigir-se diretamente a quem lê, sem, contudo, perder o caráter de uma ordem).
c – No caso de voz passiva formada com infinitivo regido de preposição de :
São palavras duras de dizer (=de serem ditas); Trabalhos fáceis de fazer (= de serem feitos – Obs: em expressões como essas é absolutamente inútil o pronome se).
d- O verbo parecer junto a outro pode apresentar-se flexionado ou não. No caso do verbo parecer variar, emprega-se o infinitivo impessoal.
Parecias confiar nele – Pareces estar contrariado.
e – No caso do infinitivo formar com o verbo regente uma só expressão, mesmo que os verbos estejam separados e os sujeitos de ambos não forem os mesmos. Geralmente ocorre com os denominados verbos causativos (deixar, mandar, fazer e sinônimos) ou sensitivos (ver, sentir, ouvir e sinônimos).
Deixai vir a mim as criancinhas
Pretendíamos fazer uma longa caminhada
Mandei-os sair.
Assim, a dúvida fica solucionada e “mande os candidatos ao emprego entrar” ou “mande entrar os candidatos ao emprego”.
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Só para terminar a conversa de hoje, já que falamos em verbos causativos (denominação comum dos verbos deixar, mandar e fazer quando empregados como verbos auxiliares: há gramatiqueiros que complicam desnecessariamente. Tomemos a sentença “terra boa faz nascer as sementes”, uns entendem-na como oração infinitiva, isto é, pode ter como objeto direto um infinitivo, o qual, por sua vez, tem seu sujeito diferente do sujeito do verbo regente. No exemplo, “terra boa” é sujeito do verbo principal “faz”; este tem por objeto direto o infinitivo “nascer”, que por sua vez, tem por sujeito o substantivo “sementes”. Pois não é que há doutores em gramatiquice dizendo aí que o exemplo apresentado é um “anfibologismo” (do grego amphibolos= ambíguo, duvidoso), atribuindo ao substantivo “sementes” dupla função: uma de objeto direto de “faz” e outra de sujeito de “nascer”?


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