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Geral

Língua Portuguesa, inculta e bela

Alcides - 13 de junho de 2013 - 12:00

Caipira
“Sou caipira Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Que ilumina a mina escura
e funda o trem da minha vida”

Com seu famoso refrão, Renato Teixeira deu ao termo “caipira” um sentido ao mesmo tempo humanista e telúrico. Caipira já não é mais a pessoa simplória, mas o homem da terra, o homem do campo, o homem que produz até mesmo quando ‘urbanizado’.

Na língua portuguesa a palavra caipira e seus sinônimos (e são tantos) também significavam pessoa acanhada.

Do português que se falava no Brasil nos idos de 1940, Francisco Fernandes e Celso Pedro Luft, (“Dicionário de Sinônimos e Antônimos”) recolheram os seguintes termos, substitutos da palavra caipira: araruama, babaquara, baiano, baquara, beira-corgo, beiradeiro, biriba ou birivam, botocudo, buraqueiro, caapora, caboclo, canguaí, canguçu, capa-bode, capiau, capicongo, capurreiro, casaca, casacudo, casca-grossa, catatuá, catimbó, catruamo, chapadeiro, curau, curumba, groteio, guasca, jeca, labrejo, matuto, mixanga, mixuango, morocongo, maqueta, mucufo, pé-duro, pé-no-chão, pioca, piraquara, queijeiro, restingueiro, roceiro, rústico, saquarema, sertanejo, sitiano, tabaréu, tapiocano, urumbeba ou urumbeva. A grande maioria desses termos tinha sentido pejorativo.

Originariamente, caipira era a pessoa ignorante, ingênua, iletrada; atualmente o conceito está se abrandando, embora ainda contenha certa carga pejorativa. E para essa atenuação muito contribuiu o belíssimo “Sou caipira Pirapora”, que Elis Regina imortalizou em corretíssima interpretação.

As primeiras aglomerações humanas surgiram 3.500 anos antes de Cristo, no vale dos rios Tigre e Eufrates.

Eram grupos homogêneos e auto-suficientes, inteiramente dedicados à busca de alimentação e às terras, coletivas. Cada chefe de família podia ocupar, nos limites fixados pelos magistrados (autoridades públicas) todas as terras que fosse capaz de cultivar. Com o surgimento da propriedade privada, “os pequenos grupos agregaram-se uns aos outros, várias famílias formaram a frátia, várias frátias a tribo, várias tribos, a cidade”, conforme relata Fustel de Culanges, em “A Cidade Antiga”. As cidades eram poucas, cercadas de muralhas e de fossos, e os campos, longínquos. Não havia a pequena propriedade rural e o homem do campo vivia encasulado, raramente ia à civitas (cidade) e era menos instruído. Hoje, com os meios de comunicação transformando o mundo na chamada “aldeia global”, as pessoas do campo sabem das coisas tanto quanto às da cidade.

As palavras não surgiram arbitrariamente, elas têm uma história. O português, como sabido, é uma língua derivada do latim, não do latim literário, que era uma linguagem artificial, mas do vulgar, da língua viva, falada pelo povo.

A linguagem é uma atividade dinâmica resultante da vida em sociedade. Quanto mais isolada uma comunidade idiomática, menores os seus meios de expressão.

No latim urbs, urbis era a cidade, em oposição a rus, ruris (campo, terras de lavoura). Rude, primitivamente, era a terra bruta, não desbastada; no sentido figurado, o inexperiente, o ignorante, o simples, o ingênuo, o neófito.

Rusticus – a, um, inicialmente era um adjetivo com o significado de campestre, de rural, relativo ao camponês; depois, grosseiro, inculto, desajeitado, esquivo, bisonho, indivíduo tímido ou acanhado. Rurícola era aquele que cultivava o campo, o agricultor; urbanista, a morada na cidade, a vida em Roma. Urbanus – a, um na significação originária da cidade, da cidade de Roma; no sentido derivado, adjetivo com a significação de polido, fino, delicado, urbano, indivíduo elegante e espirituoso.

Examinando as palavras urbano, urbanismo, urbe, urbanização, urbanidade, urbanizar, verifica-se que todas elas têm uma parte invariável – urb – que é o radical, a parte comum de todas as palavras da mesma família, cujo sentido básico é cidade.

De civitatis (cidade ou condição do ser livre que mora na cidade) derivaram cidadão (o indivíduo que goza de direitos civis e políticos de um país), cidadania (hoje significando o patrimônio de direitos e deveres do ser humano, resida ele na cidade ou no campo), cidadela (fortaleza que domina e defende uma cidade) e outras mais.

Verificando as palavras rural ou rústico e seus derivados, nota-se que o radical é o mesmo e origina-se de rus, ruris, cujo sentido é campo.

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