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Língua portuguesa, inculta e bela

Alcides Silva - 08 de dezembro de 2004 - 14:09

Suicidar-se
Paixão pelo Latim ou esnobismo filológico, talvez mais este que aquele, vivo aqui a procurar o étimo de palavras que andam ou andaram na moda. Aliás, o termo “esnobismo”, embora não tenha paladar romano, também merece busca em sua raiz: substantivo esnobe + o sufixo nominal -ismo; do inglês ‘snobbism’. De origem obscura, snob parece ter sido nome ou alcunha de um frívolo que bajulava exageradamente os poderosos e desprezava os humildes, de onde proviera. Sua fonte histórica remonta a 1781, segundo Houaiss.
Todas as vezes em que me surge a oportunidade, tenho repetido que a língua é dinâmica e evolutiva, e que muitas palavras, com o passar do tempo, têm o sentido original alterado, chegando, inclusive, a exprimir idéias completamente diversas das contidas na significação primitiva. A palavra formidável é um exemplo clássico. Antes significava terrível, pavoroso, temível, hoje tem o valor de “muito bom, muito bonito; admirável, excelente, magnífico”.
“Êxito” que no passado era conseqüência, efeito, fim, hoje é “resultado feliz”, “sucesso”. Aliás, “sucesso” também está perdendo seu significado primitivo de acontecimento, aquilo que sucede, evento, para ser sinônimo de “êxito”, de “sorte”, de “resultado favorável”, de “acontecimento feliz”. “Acontecer”, de contigere , nasceu com o sentido de tocar em alguém, contaminar, alcançar e, daí, realizar-se inopinadamente, suceder, ocorrer.
Outras curiosidades da evolução semântica: “hipócrita”, do grego hypokrités, pelo latim, hypocrita era o nome que se dava ao “ator”, ao “intérprete”, ao “artista”; hoje é o adjetivo que qualifica uma pessoa fingida, falsa, impostora; “caderno”, do latim quaternum perdeu o sentido primitivo de ‘folha de papel dobrada em quatro’; “pedagogo” era o escravo que levava as crianças à escola (do grego paidagogós [paídes>menino – ago> qualificativo do escravo-pajem]); “secretário”, originariamente ‘depositário dos segredos’, ‘confidente’. O verbo “chegar” veio do latim plicare, que etimologicamente significa “dobrar”: os navios, ao chegarem ao porto, dobravam as velas. A evolução da palavra começou com o abrandamento do grupo pl em ch, (como de pluvia veio a chuva) e do c em g (lacrima>lágrima). Depois, ocorreu a alteração semântica do sentido (idéia) da palavra dobrar>chegar.
Tudo isso me vem à mente quando leio frases que contenham o verbo “suicidar-se”. É ou não um pleonasmo? A etimologia indica que suicidar é “matar a si próprio” (do latim sui = a si + cida, ae <. caedere grande mortic pelo estudo hist da palavra seria dispens o pronome reflexivo mas na l atual isso n verdadeiro. ningu fala suicidou se e irrevers que praticamos. verbo pronominal. aqui tamb houve uma transforma sem elemento sui si perdeu seu valor reflexivo.> Mário Lago, nas suas deliciosas “Dezesseis linhas cravadas”, conta a história de um professor de português que se matou ao descobrir que Adélia, a esposa, o traía. Deixou escrita a razão de seu gesto: “Adélia suicidou-me”.

Este é o artiguete de nº 300, da coluna “Língua Portuguesa, inculta e bela”, frase tomada de um poema de Olavo Bilac. Inicialmente publicados em “O Jornal de Santa Fé do Sul”, esses escritos são hoje divulgados também pelos jornais “Jornal de Jales”, “Folha de Fernandópolis”, “A Cidade de Votuporanga”, “Novo Tempo”, de Chapadão do Sul, “O Correio”, de Chapadão do Sul, e pelos sites “Semanário”, do provedor Melfinet, “Jovem Sul News”, “Chapadão News” e “Cassilândia News”.

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