Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Sexta, 29 de Março de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Lembranças de Carlos Pulino

Carlos André Prado Pulino é médico oftalmologista - 24 de maio de 2010 - 08:38

SIENA
Só consegui conhecer esta cidade numa segunda oportunidade em que vim à Itália. Na primeira vez, chegamos no dia 25 de dezembro e estávamos viajando de trem. Descemos na estação, que fica bem longe do centro da cidade e, por ser feriado, não conseguimos condução, nem ônibus e nem táxi, para chegarmos ao centro. Passamos horas aguardando e nada! Por fim, desistimos e tomamos de volta o próximo trem, indo embora sem conhecer Siena.

Já desta vez, tínhamos alugado uma van, o que nos permitia autonomia para ir e vir na hora que nos aprouvesse. Assim, facilmente, atingimos o perímetro central, estacionamos o carro e fomos conhecer a região a pé. No centro da cidade não circulam carros, ela é toda cercada por uma muralha da época medieval. É uma cidade pequena, de aproximadamente 56.000 habitantes, e que conserva grande parte dos seus edifícios antigos, e não apenas as muralhas e as portas que a rodeiam. São construções de cor vermelho-acastanhado e que os pintores chamam de cor “terra-de-siena queimada”.

É muito agradável caminhar pelas suas ruas estreitas, com muitas subidas e descidas, muitos turistas e muitas lojas, principalmente artigos de couro. Um souvenir tradicional de lá são os bonecos do Pinóquio, da história infantil. Siena possui uma universidade pública de destaque desde 1240, e onde hoje funcionam as faculdades de Medicina e de Direito. No seu calendário turístico está a sua principal festa, que é o Pálio de Siena, uma corrida de cavalos na praça central, a Piazza del Campo, e que é super concorrida.

Dela participam os 17 bairros nos quais se divide a cidade, cada um com a sua bandeira, todos com trajes tradicionais da época medieval. A corrida é realizada com 10 cavalos representando tres bairros, escolhidos por sorteio. Ganha o cavalo que chegar primeiro, após três voltas na praça central, mesmo que o jóquei tenha caído! O Pálio é um acontecimento que ocorre duas vezes por ano, no dia 2 de julho e no dia 16 de agosto, sempre em honra a Nossa Senhora. A cidade fica repleta de turistas nestas datas.

Siena, com suas construções medievais e ruas estreitas me lembra muito Florença.

Seguimos viagem passando por Carrara, a cidade dos mármores, vimos várias montanhas sem a sua capa de terra e vegetação, todas descascadas pela extração do famoso mármore. Nos pátios das indústrias, grandes blocos aguardando a hora de serem serrados em placas para serem vendidas. Seguimos em direção a Genova, numa estrada bonita, cheia de túneis, uns com até 5 km de extensão.

GENOVA

Cidade muito movimentada, com 800.000 habitantes, é um centro industrial e possui o principal porto marítimo do norte da Itália. Sua história começa no Século III a.C., teve um grande desenvolvimento no século X e entre os séculos XII ao XIV, a cidade foi o centro de transações comerciais e do transporte de mercadorias entre a Europa e o Oriente. Teve sua importância aumentada pelo Almirante Andréa Doria, que transformou Genova numa república independente tão rica, que foi apelidada de “A Soberba”. Foi criado nesta época em Genova o Banco de São Giorgio e, em 1408, inventaram o sistema de letras de câmbio, até hoje muito usadas.

A cidade tinha uma grande rivalidade com Veneza e Pisa, e acabou levando a pior, pois com a descoberta do caminho para as Índias contornando o continente africano, Genova perdeu muito do seu movimento e da sua importância como porto.

Chegamos a Genova no começo da tarde, demos um giro pela cidade, que é plana na região das praias e no centro, e é cheia de montanhas na periferia. As casas ficam literalmente dependuradas nelas. Chamam a atenção, os típicos varais cheios de roupas secando ao vento, parecendo bandeirolas, bem no estilo dos velhos filmes italianos a que já tive oportunidade de assistir. Não podíamos deixar de conhecer a casa onde morou o mais ilustre filho desta terra, Cristóvão Colombo, o grande navegador que descobriu a América.

Da casa permanecem as paredes, janelas, portas e o piso, e ela fica próxima a uma movimentada e grande avenida central, dando-nos uma noção de contraste muito grande, principalmente ao imaginarmos como deveria ser a vida naquela época. Colombo era filho de tecelões, nasceu em 1451, e logo cedo se interessou pelos estudos geográficos e pelas narrações das viagens de Marco Pólo e Toscanelli. Foi, mais tarde, para Portugal e, convencido da esfericidade da Terra, apresentou seu projeto de chegar às Índias indo pelo Atlântico, mas não obteve sucesso. Dois anos depois, apresentou o mesmo projeto aos reis da Espanha, Fernando II e Isabel de Castela, que resolveram patrocinar o seu projeto, embora a viagem só ocorresse seis anos após. Com as três caravelas de pequeno porte, Santa Maria, Pinta e Niña, ele parte de Sevilha em 12 de maio de 1492.

Com instrumentos pouco precisos: ampulhetas de areia para medir o tempo e comparar a hora local com a de Espanha, um quarto de círculo de madeira para medir a altura das estrelas, e os graus oscilando conforme a oscilação de bombordo e estibordo consegue seu intento, em verdade mais por obra do destino do que outra coisa. Chegam à América no dia 12 de outubro de 1492, trinta e três dias após a sua partida, no local onde hoje é São Salvador. Um ano depois retorna a Espanha, onde é recebido com glórias, ainda realiza mais três viagens à América, e morre, em 1506, pobre e esquecido.

Após relembrar um pouco da história deste descobrimento, já cansados, procuramos um hotel. Encontramos um hotel bem antigo, porém todo restaurado e com um excelente café da manhã. Tinha um elevador bem diferente, provavelmente da época de sua inauguração, com portinhola de ferro trabalhado e outra de vidro e madeira, além de banco pra se sentar dentro dele: um charme!

No dia seguinte, fomos conhecer o cemitério monumental “Il Staglieno”, incluído nos roteiros turísticos da cidade, e onde estão reunidas obras de arte sacra e estátuas de artistas famosos, a maior do mundo em quantidade. É um cemitério bonito, imenso, comparável em tamanho a nossa Vila Izanópolis. Difere dos tradicionais, não só pelo tamanho e pela profusão de esculturas que adornam cada túmulo, mas também porque estes se estendem tanto pela área plana como pelas encostas das montanhas.

Existem também umas alas cobertas, como corredores, com paredes dos dois lados, em que os túmulos ficam como que empilhados, chegando a ter até cinco “andares”, o último bem alto, necessitando de uma grande escada para ser feito o sepultamento.

Neste cemitério foram enterradas muitas pessoas famosas e ilustres, inclusive a nossa Anita Garibaldi. Como fato curioso, vale dizer que ela teve sete sepultamentos, sendo um deles neste cemitério. Atualmente seus restos repousam em Roma, num monumento localizado na Praça Anita Garibaldi, onde é mencionada como heroína.

SIGA-NOS NO Google News