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Leia - Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 26 de abril de 2007 - 08:20

Língua portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
A vítima fatal e a mulher idem
Difícil a notícia de acidente em que tenha ocorrido morte que não venha o redator chamar erradamente o falecido ou a falecida de “vítima fatal”.
Fatal, (do latim fagale = do destino) é adjetivo, isto é, palavra que se junta ao nome para expressar qualidade, propriedade, condição ou estado do respectivo ser. Como adjetivo, fatal significa: 1. marcado pelo fado (destino); determinado “Traficante, sua prisão era fatal”; 2. decisivo, inevitável, infalível, irrevogável (decisão fatal); 3. improrrogável, final (prazo fatal); 4. que traz, por determinação do destino, a infelicidade (paixão fatal); 5. funesto, que causa desgraça, nefasto, nocivo, desastroso (erro fatal); e 6. que causa a morte, mortal, mortífero, letal (tiro fatal).
Mulher fatal seria então a que produz a morte? Não.
Mulher fatal é a mulher supinamente sensual, sedutora, irresistível, a de ‘fechar o comércio’, capaz de produzir reais tragédias domésticas. Daí o adjetivo “pantera”, mulher muito bela e atraente. Mulheraço. Insuperável amante.
Uma mulher fatal (ou femme fatale, em francês) é um modelo feminino muito usado na literatura e no cinema, quando, via de regra, seduz e engana seu alvo - e outros homens também - para receber o que deseja.
Apesar de ser tipicamente uma vilã, ou quase, a femme fatale às vezes se torna heroína. Hoje, o arquétipo é geralmente visto como a personagem que constantemente atravessa a linha entre o bem e o mal, agindo inescrupulosamente a despeito de normas ou padrões sociais vigentes, ou de quaisquer compromissos que eventualmente tenha com o homem alvo. Tipo dessas modelos que se agarram, no caso do Brasil, a jogadores de futebol famosos. O objetivo delas: projeção social, mídia e obviamente, dinheiro, muito dinheiro.
Quase sempre a femme fatale, ao se ver ‘dominadora’, tortura seu parceiro num jogo de esconde-esconde, negando provas de seu afeto, até o ponto em que o homem (ou a mulher) se torna obcecado, viciado, exausto e incapaz de tomar decisões racionais ou gerenciar sua própria vida pessoal.
No seu extraordinário romance Dom Casmurro, Machado de Assis retratou o tipo de mulher fatal brasileira, do final do século XIX: Capitu, ré e vítima, de “olhos de ressaca” e “cigana oblíqua e dissimulada”, não a cortesã e devoradora de homens, mas a vizinha pobre e deserdada, levada para dentro da família patriarcal, rica, burguesa, católica e hipócrita.
Hoje a mulher fatal dos grandes centros urbanos – aqui ou lá -, já não só atormenta a vida de seu alvo, mas lhe corrói as contas bancárias.
Concluindo: a mulher fatal (ou o homem vampiro, para não chamá-lo de fatal pelos efeitos deletérios que causa à ‘fortuna’ da ‘eleita’) os leitores desta coluna (se os houver) poderão encontrar em qualquer esquina, em qualquer botequim, na relembrança da sintese de um poema musical. Mas a vítima fatal não, em razão dela não existir. Não há vítima fatal, porque ‘vítima’ (do latim victima, originariamente o animal, depois até mesmo a pessoa, oferecido em sacrifício aos deuses) será sempre o objeto da ação e não o seu agente.
Nas condições da notícia do acidente, a vítima teria recebido a morte (conseqüência da ação) e não a produzido (agente). O acidente pode ter sido fatal, como fatal (letal) seriam o tiro, a facada, a pancada, a tijolada etc. Nunca a vítima.

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