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Leia - Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 17 de fevereiro de 2007 - 08:41

Língua portuguesa, inculta e bela

Alcides Silva
“Orquídea”

O que teria em comum a orquídea, essa flor especial, duradoura, harmônica, a flor das flores, com o bago do boi (convenhamos, nada estético), que se churrasqueia festivamente na castração dos novilhos, ou com os colhões (pior, ainda), nome chulo que se dá à parte interna da genitália masculina, onde é produzido o espermatozóide? E com o ato operatório de excisão (retirada) de um ou de ambos os testículos, chamado de orquiectomia?
São as voltas que a língua pode dar na origem ou formação de palavras ou frases.
Teofrasto, filósofo e naturalista grego, discípulo de Platão e de Aristóteles, escreveu, três séculos antes de Cristo, duas obras científicas que se tornaram famosas: “Investigações sobre as Plantas” e “As Causas das Plantas”. Nelas, dentre a variedade de plantas que descreveu, a uma delas denominou de orchídion, por possuir dois caroços gêmeos nas raízes. Orchídion é diminutivo do grego órchis/órchios, testículo, em vernáculo.
E o nome foi dado à planta porque os dois caroços da raiz se assemelhavam aos testículos masculinos.
Em face disso, por muito tempo acreditou-se que essa planta possuísse propriedades afrodisíacas; os tubérculos de suas raízes foram disputadíssimos na Idade Média porque supunha-se excelentes estimulantes sexuais. Foi a catuaba daqueles tempos, ou o valoroso ‘viagra’ dos dias de hoje.
Essa analogia semântica não ocorreu somente em palavras derivadas do grego. É por analogia aos órgãos do corpo que se diz pé de mesa, boca da noite, braço de rio, língua de fogo, dente de alho etc.
Os astecas - povo que habitava o México e parte da América Central, antes da conquista espanhola - cultivavam uma fruta comestível e de onde extraiam óleo, à qual chamavam de awákatl (testículo, na língua deles, o náuatle) por causa da semelhança de sua forma.
Os espanhóis quinhentistas, os colonizadores, comumente trocavam a pronúncia da letra ‘v’ pelo ‘b’ e, assim o awákatl dos índios astecanos passou a ser conhecido como abacate.
Por que será que chama bago ou baga o fruto do cacho de uvas? Ou de orca, o pequeno vaso bojudo e de forma ovalada, semelhante a uma ânfora, porém sem as duas asas?
Ite é um sufixo designativo de doença inflamatória de órgão ou de tecido. Bronquite (que eu padeço pelos anos de fumante) é a dos brônquios; amigdalite, das amígdalas; colite, do colo, dermatite, da pele, duodenite, do duodeno, faringite, da faringe, meningite, da meninge, peritonite, do peritônio etc.
Já a inflamação dos testículos não se chama de ‘testiculite’, mas de orquite, palavra derivada do mesmo órchis de onde saíram as orquídeas.

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