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Leia a íntegra do Café com o Presidente

Agência Brasil - 22 de outubro de 2007 - 07:46

Brasília - Apresentador: Olá, você, em todo o Brasil. Vai começar o programa de rádio do presidente Lula. Tudo bem, presidente?

Presidente: Tudo bem, Luiz.

Apresentador: Presidente, na semana passada, o senhor visitou quatro países africanos. Foi a sua sétima viagem àquele continente. O senhor foi a Burkina Faso, República do Congo, África do Sul e Angola. Como é que está a relação do Brasil com esses países?

Presidente: A situação do Brasil tem melhorado a cada ano com os países africanos. Nós estabelecemos uma estratégia de nos aproximar da África outra vez por várias razões, desde os compromissos históricos que nós temos com os países africanos até a necessidade de você estabelecer uma relação econômica, cultural, política, de transferência de conhecimento científico e tecnológico para ajudar os países africanos a se desenvolverem. É por isso que nós abrimos em Gana uma seção da Embrapa e estamos abrindo em Maputo, em Moçambique, um escritório da Fiocruz para que a gente possa começar a tornar realidade a nossa troca de conhecimentos.

Apresentador: Presidente, entre 2002 e 2006, o intercâmbio entre Brasil e África mais que triplicou: passou de US$ 5 bilhões para US$ 15,5 bilhões. E um dos principais assuntos levados na viagem foi o dos biocombustíveis. Como os países africanos estão recebendo a possibilidade de apostar nessa nova matriz energética?

Presidente: Olhe, nós estamos convencidos de que, aos poucos, os países que pertencem ao continente africano estão consolidando os regimes democráticos. Ainda temos problemas em alguns países, mas a maioria está percebendo, e eu fiz questão de dizer isso em todos os discursos que eu fiz, de que tem alguns ingredientes para que esses países aproveitem o século 21 e cresçam como não cresceram no século 20. Ou seja, toda vez que um país tem muito problema político interno, tem guerra civil, tem guerra com outros países, a tendência é o país não crescer, porque ninguém vai investir e o pouco dinheiro que tem é obrigado a gastar em guerra, em vez de gastar em indústria e agricultura. Então, o que eu tenho dito para eles? Olhe, só existe uma possibilidade de a África dar um salto de qualidade, chama-se paz e democracia. Consolidar a paz e consolidar a democracia são ingredientes que permitirão outros países fazerem investimentos, indústrias se implantarem lá. E nós estamos discutindo com vários países africanos a chance que eles têm de, através do biocombustíveis, eles começarem a se transformar em exportadores de um produto que o mundo rico certamente vai precisar.

Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Durante a viagem da última semana, presidente, o senhor conversou com líderes da Índia e da África do Sul. Falou também sobre a Rodada de Doha [na Organização Mundial do Comércio sobre subsídios agrícolas] e o Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas], inclusive o senhor conversou com o presidente Bush, dos Estados Unidos, durante essa viagem à África. O que está decidido em relação a esse assunto?

Presidente: Ainda não está decidido nada. Eu penso que nós estamos perto disso. A Índia faz parte do G-20, a África do Sul faz parte do G-20, e nós temos interesse em que a Rodada de Doha termine com um acordo em que os países pobres sejam os ganhadores desse processo. Está um pouco difícil porque o subsídio da agricultura americana está muito alto. E depois nós temos a União Européia, que ainda não definiu os seus produtos agrícolas sensíveis, ou seja, quais os números que eles vão utilizar. Ora, então nós não podemos, enquanto países em desenvolvimento, abrir mão do nosso crescimento interno, do crescimento da nossa indústria e não ganhar nada na agricultura. O que existe de verdade é que há interesse político de fazer o acordo, eu penso que, quem sabe, até o final do ano, a gente possa fechar esse acordo. Agora, é preciso que haja concessão dos países ricos na área da agricultura.

Apresentador: Presidente, alguns especialistas criticam uma atenção exagerado que o Brasil estaria dando ao continente africano. No entanto, alguns cientistas políticos dizem que essa ligação do Brasil com a África é importante, uma vez que, por exemplo, o presidente da China, Hu Jintao, tem feito constantes viagens àquele continente. O que há de verdade nisso?

Presidente: Veja, todo mundo pensa que a gente pode vender o quanto a gente quiser para os Estados Unidos e para a União Européia. Acontece que esses dois blocos, ou seja, Estados Unidos de um lado, que é a maior economia do mundo, todo mundo quer vender para eles. E eles têm limitações também, porque eles também querem vender. A União Européia, também todo mundo quer vender para a União Européia, mas eles também têm limitações e colocam obstáculos para a entrada de produtos de países emergentes. Ora, então o que nós temos que fazer? Nós temos que procurar novos mercados, temos que procurar novos parceiros. E o Brasil está agindo corretamente, tanto com a África, como fizemos com a América Latina. Também criticaram quando nós dissemos que íamos priorizar a América Latina. O dado concreto é que o conjunto da América Latina hoje na balança comercial é maior do que os Estados Unidos e maior do que a União Européia. O Brasil precisa procurar novos parceiros. Eu, o ano que vem, por exemplo, vou à Indonésia. E por que eu vou à Indonésia? É um país de 210 milhões de habitantes em que o Brasil tem uma balança comercial de apenas US$ 1 bilhão, com a Indonésia, o que é uma vergonha. E nós vamos continuar fazendo isso, porque o Brasil não pode ficar dependendo de um país ou de um grupo de países. O Brasil precisa fazer uma diversificação muito grande na sua relação política, na sua relação comercial, para que a gente possa viver a situação que estamos vivendo hoje. Uma situação de tranqüilidade em que o Brasil vende para muitos países, compra de muitos países. E o Brasil tem poder de competitividade com qualquer economia do mundo.

Apresentador: Ok, presidente, obrigado e até semana que vem.

Presidente: Obrigado a você, Luiz.

Apresentador: O Café com o Presidente volta na próxima segunda-feira, um abraço para você, em todo o Brasil, e até lá.



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