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Lágrimas de amor
Era uma segunda-feira, lá pelas 4 horas da tarde, como qualquer outra...
As últimas semanas estavam absolutamente sacrificantes em função dos compromissos profissionais assumidos, mas nada me tirava do propósito de cumprir à risca o que havia planejado, apesar de todo o meu desgaste.
Eu atendia meus pacientes do Instituto do Câncer do Hospital de Base e eis que surge a minha querida Dona Maria com seus poucos cabelos brancos dos seus muito bem vividos 68 anos, e mal sabia ela, que iria mudar completamente aquele meu dia.
Ela tinha tido diagnóstico recente de um câncer gástrico e com gânglios comprometidos ao redor, mas felizmente, sem metástases à distância, o que deixava toda equipe muito animada com a possibilidade real de cura. A equipe cirúrgica tinha feita uma cirurgia excelente e todo o câncer que era visível tinha sido removido, seguindo os preceitos modernos da cirurgia oncológica.
Naquele dia, dona Maria voltava para sua consulta para seu segundo ciclo de quimioterapia de oito ciclos programados. Mas ela não estava bem, apesar de prontamente dizer que estava bem e que não tinha tido nenhuma reação após a primeira quimioterapia.
Entretanto fez apenas uma pergunta, ao sentar-se:
"Dr Gustavo, podemos fazer a quimioterapia uma vez por mês?"
Eu rapidamente respondo: "Infelizmente não! Temos que fazer a cada 3 semanas, com no máximo, 24 dias de intervalo."
Ela me diz: É que meu marido está com problemas na coluna e não gostaria de deixá-lo sozinho.
Eu prontamente respondi: "Que pena, Dona Maria! Mas ver a senhora forte fazendo as quimioterapias, com certeza é um grande estímulo pra ele!"
Mas, ela não consegue conter à emoção, e algumas lágrimas começam a rolar do rosto enrubecido, e ela diz: "Pra mim o que mais importa, não sou eu, mas é ver ele sair daquela cama!. Eu sofro de sair de casa e deixar ele lá sozinho!"
Tive que disfarçar as minhas lágrimas pra ela não perceber o quanto que aquela emoção também havia me atingido em cheio!
Despedi-me feliz dela ao final da consulta dizendo: "Dona Maria, com certeza seu marido vai melhorar", refletindo que seria absolutamente improvável, com uma pessoa tão abnegada ao seu lado, não ter alívio daquele sofrimento tanto para ele como para ela.
E só uma coisa martelava minha cabeça naquele momento: Quisera que todas as famílias do mundo vivessem esse nível de amor e de cumplicidade, que Dona Maria, sem perceber, deixou transparecer para mim naquela consulta!
E espero, que você que está lendo essa mensagem, também se sinta atingido em cheio, como fiquei!
Uma ótima semana para todos nós!
Gustavo Colagiovanni Girotto
CRM-SP 132.895
Médico oncologista clínico