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Julinho - 40 anos de saudade

Palmeiras - 13 de fevereiro de 2007 - 06:24

Ele entrou em campo imponente como sempre, liderando toda a equipe. O garoto Ademir da Guia vinha logo atrás, olhando com admiração o quanto aquele craque era admirado, por colegas, adversários, jornalistas e torcedores. Todos querendo registrar aquele último momento. Até o Governador do Estado estava lá, e entregou pessoalmente a faixa de campeão paulista ao grande craque. Apenas mais um dos inúmeros títulos conquistados no Brasil e no Exterior.

Após receber cumprimentos dos campeões pernambucanos, honrados por participar da festa histórica, e do trio de arbitragem, o jogo começou. Foram só 45 minutos, mas o suficiente para deixar mais uma vez a sua marca, não com o gol, mas com mais um drible seco desconcertante, levantou a cabeça, olhou como sempre para a grande área e localizou rapidamente o garoto Ademir penetrando por detrás da zaga. O cruzamento saiu certeiro, com a perfeição que começou a ensaiar décadas antes nas ruas da Penha, e que o levou a conquistar o mundo. Gol do Palmeiras !! Ademir, em mais um cruzamento perfeito de Julinho Botelho.

No dia 12 de Fevereiro de 1967, exatos 40 anos atrás, Julinho se despedia dos gramados numa grande festa palestrina. Emocionado, durante a volta olimpica ao som da "Valsa do Adeus", enquanto a torcida aplaudia de pé o grande ídolo, ele relembrou a carreira, o começo dificil, quando tardiamente aos 19 anos foi procurar vaga no Corinthians, que era o mais próximo de casa, mas já demonstrando sua forte personalidade, fez apenas um treino e não voltou mais. O treinador já tinha outro garoto na ponta direita e queria Julinho jogando na esquerda. Azar do Corinthians. Julinho andou um pouco mais e foi parar na vizinha Mooca, na ponta direita do Juventus. Virou titular imediato e chamou a atenção de todos já nas primeiras partidas. Em poucos meses a Portuguesa que tinha um timaço, com Djalma Santos, Brandãozinho, Pinga, todos atletas de seleção brasileira, levou Julinho para o Canindé.

Sua estréia na Portuguesa foi dias antes de seguirem em tournée pela Europa, e o craque Julinho foi sondado pela Internazionale de Milão. Vieram títulos com a Lusa, Seleção Paulista e Brasileira, incluindo o Rio-S.Paulo de 52, o Panamericano no mesmo ano e a convocação para o Mundial de 54, onde marcou 2 gols pela Seleção, sendo eleito o melhor ponta-direito do Mundial.

No ano seguinte ao mundial, após inúmeros assédios, a Lusa sucumbiu a uma proposta milionária da Fiorentina. A equipe nunca havia ganho um título nacional, e Julinho liderou a equipe logo na primeira temporada à conquista inédita do scudetto, na temporada de 55/56. No ano seguinte, levou a equipe ao vice-campeonato italiano. Ídolo máximo de Firenze, Julinho apesar de todo o sucesso e carinho dos italianos, sentia saudades e queria voltar ao Brasil, mas diante de nova oferta milionária da Fiorentina, aceitou ficar mais um ano. Se nos gramados seu futebol continuava encantando, e levava a Fiorentina novamente ao vice-campeonato, fora dele a saudade falava cada vez mais alto, a tal ponto que ele ganhou por lá o apelido de "Senhor Tristeza".

Sondado para integrar a Seleção que iria ao Mundial de 58, Julinho negou-se a participar por entender que apenas jogadores atuando no Brasil deveriam ser convocados. Era outra época, e pela distância, ele entendia que apenas atrapalharia a formação da equipe, já que não teria como participar dos treinamentos e amistosos realizados no Brasil. Era a gota dágua. Negociou a volta ao Brasil justamente para a equipe do coração, o Palmeiras, assim que terminasse o campeonato italiano de 57/58.

Jogou pela Fiorentina até a última rodada, em 25/05/58 quando marcou um dos gols na goleada sobre a Padova, no jogo que valia a disputa do vice-campeonato. A Padova estava um ponto à frente da Fiorentina, que com a vitória reverteu a situação. Embarcou ao Brasil e exatamente 30 dias depois já estreava pelo Palmeiras em amistoso contra o rival São Paulo, ajudando o Palestra a superar o rival por 4 a 3.

Logo a seguir, teve a primeira oportunidade de enfrentar o rival Corinthians, jogando pelo clube de coração, o Palmeiras, e não fez por menos. Teve uma atuação extraordinária. Driblava Oreco (reserva de Nilton Santos na copa de 58) de tudo quanto era jeito e centrava na área para Paulinho marcar. Final, 4 a 0 para o Palmeiras. Foi a primeira vez que a torcida invadiu o campo, sem ser decisão, depois de um jogo para carregar os jogadores em triunfo. O Palmeiras estava sem ganhar do Corinthians há 7 anos, desde 1951.

O ano seguinte, 1959, foi especial para o Palmeiras e para Julinho. O Palmeiras havia perdido Mazola para o futebol italiano, mas resposto o elenco com vários jogadores, e rivalizou o torneio com o Santos liderado por Pelé, já consagrado pelo Mundial da Suécia do ano anterior. No primeiro turno, com a equipe ainda em formação, o Palmeiras foi à Vila Belmiro e perdeu por 7 a 3 do Santos. O Palmeiras sentiu o baque, e somente após algumas rodadas retomou o caminho das vitórias, dentro e fora de casa, até chegar a revanche do segundo turno contra o mesmo Santos, desta vez no Palestra Itália.

O Palmeiras abriu o placar com Américo e aos 23 Julinho já fazia o segundo. Pelé diminuiu, mas o Palmeiras seguiu pressionando, buscando vingar o resultado do primeiro turno, e no final do primeiro tempo, Romeiro ampliou e Julinho novamente, marcou o quarto gol. Na etapa final, o Palmeiras passou a tocar a bola e o Santos não mostrou capacidade de reação. Américo ainda ampliou, fechando a goleada de 5 a 1, com 2 gols do Julinho, fora o show de dribles em cima de Zito, Durval, Jair, Coutinho, Pelé e Pepe.

No dia seguinte a Folha de São Paulo traria o seguinte relato: "... O triunfo palmeirense na tarde de domingo foi amplo, completo e insofismável, não dando margem a qualquer restrição. O alviverde, acertando sua mais primorosa exibição dos últimos tempos dominou inteiramente seu antagonista, desonrientando-o em seu setor defensivo e manietando-o por completo no que se refere à ofensiva, onde apenas Pelé [e somente ele, por se tratar de um craque excepcional] teve oportunidade de vencer a vigilância exercida pelos companheiros de Djalma Santos. Além do "show" apresentado pela equipe, o Palmeiras proporcionou ainda a São Paulo o espetáculo impressionante de sua torcida, que vibrou domingo como de há muito não o fazia, nem mesmo por ocasião dos sucessos anteriores de sua equipe."

No mesmo ano, houve o episódio da vaia monumental ao Julinho, quando foi substituir Garrincha no Maracanã, pela Seleção Brasileira, e em menos de 20 minutos, sua habilidade e fibra obrigaram os cariocas a redenção, aplaudindo de pé o craque palmeirense.

As finais épicas do supercampeonato de 1959, com os 3 jogos seguidos de desempate entre o Santos de Pelé e o Palmeiras de Julinho, culminando com vitória do Palmeiras, foram sem dúvida o auge de uma equipe espetacular na qual Julinho era peça decisiva.

Julinho continuou jogando até 1966, então com 37 anos, sempre pelo Palmeiras, conquistando diversos títulos, e foi somente em fevereiro de 1967, há exatos quarenta anos, que ele se despediu dos gramados como o mais espetacular ponteiro da história do clube.

Continuou no Palmeiras, e assumiu as categorias de base. No ano seguinte assumiu a função de técnico do time principal durante 14 jogos, sempre interinamente, levando a equipe a mais 6 vitórias 4 empates e 4 derrotas, incluindo jogos da Libertadores e da Copa Mar Del Plata.

Em 1995, quando houve a comemoração dos 40 anos do titulo da Fiorentina, o clube convidou Julinho para a comemoração, pagando as passagens aéreas e reservando um hotel de luxo para ele e sua mulher. No estádio Artemio Franchi, foi aplaudido por 40 mil torcedores fanáticos. Em um restaurante localizado nas cercanias da sede do clube, existe uma placa com os dizeres: "Aqui almoçava Julinho".

Julinho faleceu em 11 de janeiro de 2003, com 73 anos de idade, por parada cariorespiratória, no Hospital Nossa Senhora da Penha, bairro onde nasceu e retornou no final da vida.

Hoje, 40 anos após a despedida de Julinho aos gramados, nós Palmeirenses temos a obrigação de manter viva a história deste craque fenomenal, precusor de um profissionalismo exemplar, e carater impar, que ajudou a construir a história de glórias do Palmeiras, Campeão do Século XX. Muito Obrigado Julinho !!!

Carreira
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1950-Juventus
1951-Portuguesa de Desportos
1955-Fiorentina
1958-Palmeiras
1968-Técnico do Palmeiras

Gols
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81 pelo Palmeiras [269 jogos, 163 vitórias, 53 empates, 53 derrotas]
13 pela Seleção Brasileira [31 jogos]

Títulos pelo Palmeiras
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1 Brasileiro [1967] Roberto Gomes Pedrosa
1 Taça Brasil [1960/1967]
1 Rio São Paulo [1965]
3 Paulista [1959/1963/1966]

10 Torneios Internacionais: Copa do México [1959], Troféu Adhemar de Barros [1960] Torneio Quadrangular do Peru [1962] Torneio de Firenze [1963] Torneio de Guadalajara [1963] Taça Rio Branco [1965] Copa IV Centenário do RJ [1965], Taça Independência [1965] Torneio Quadrangular João Havelange [1966] Copa Brasil Japão [1967]

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