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Jogo tradicional das rodas de tereré, o velho Bozó está em extinção?

Campo Grande News - 17 de julho de 2014 - 14:18

Os dados e o tradicional copinho ao fundo. (Fotos: Marcelo Victor)
Os dados e o tradicional copinho ao fundo. (Fotos: Marcelo Victor)

Cinco dados, um copo, papel e caneta. Pronto, é o necessário para montar a roda de tereré e jogar Bozó. Em Campo Grande sempre foi assim, nos bairros, nos domingos de Altos da Afonso Pena, no churrasco dos amigos...Mas com as redes sociais e a cidade crescendo, hoje quase não se ouve comentário de tardes de Bozó, o que levantou dúvidas sobre até que ponto ainda é uma diversão importante na cidade.

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Na praça Ary Coelho, não encontramos ninguém jogando. Nos pontos de moto táxi, por exemplo, é proibido qualquer jogo nos intervalos entre as corridas, mas em casa é diferente. “Aqui não pode mais jogar, mas lá em casa a gente joga na brincadeira as vezes”, afirma Jorge Alves Ribeiro, de 52 anos.

Já na periferia, não foi preciso andar muito para encontrar quem ainda passe adiante a tradição do jogo. No bairro Jóquei Clube, o Bozó rende, inclusive, boas histórias. “A gente jogava muito, passava a madrugada. Teve até um velhinho que era vizinho aqui, a gente jogou a noite inteira e quando ele chegou em casa morreu. O pessoal brinca que eu matei o velho de nervoso no jogo”, relata Vergerina Meneses da Silva, de 56 anos.

A história tem mais de 15 anos. Sentada em frente de casa com os dois filhos, Catia Cristina da Silva, de 42 anos, e João Henrique da Silva, de 41, a família lembra que sempre gostou de jogo, uma prática ainda comum entre eles. “Não saiu de moda não. Mas é que varia, tem tempo que a gente joga mais bralho, tempo que joga mais Bozó. Agora a gente tá na fase da cacheta”, conta João. Mesmo assim, não dá para jogar com qualquer um. "Entre os mais novos o jogo não é tão popular", comenta Catia.

No "Boas Bar", um boteco de paredes vermelhas que fica em frente a uma praça do bairro, o jogo é o preferido nas noites em que os parceiros se reúnem. “A gente toma uma cervejinha e joga as rodadas valendo dois reais, só pra poder tomar mais uma”, brinca José Luiz Oliveira, de 52 anos, o frentista é conhecido como Dedé pelos amigos, e um dos frequentadores das rodas de Bozó do bar.

O jogo já fica guardado na prateleira, mostra Marta de Oliveira, de 49 anos, dona do estabelecimento. “Eles aparecem quase toda a noite. No sábado, se deixar, passam o dia todo jogando”, completa. Ela diz gostar da jogatina, por manter o lugar animado.

Milton de Medeiros Morais, 70 anos, é um dos mais animados da turma do Bozó, para ele, é um dos melhores jeitos de fazer “a hora passar”. O aposentado ainda trabalha como mestre de obras e demonstra energia de sobra nas partidas. “Eu já fiz oito generais no mesmo dia” enfatiza sobre o tipo de pontuação, que ainda tem a seguida, o full...

Outro companheiro de jogo, Jairo Manoel da Silva, de 71 anos, um senhor de barba branca, já escuta com dificuldade, mas não perde os jogos e afirma ser muito bom com os dados. "Eu sou bem esportistas. Gosto de todos os jogos", brinca.

Já entre os mais novos o jogo é conhecido, mas deixado meio de lado. A última vez que Rafael Duarte, de 16 anos, jogou foi há dois anos. “Quando tem bastante gente é legal jogar, mas fica em último caso, se não tem nada na TV nem videogame para jogar a gente lembra do Bozó”, conta.

O primo, Tony Duarte, de 13 anos, conta que a mãe Cleidmar sempre joga com a avó ou os vizinhos, mas ele acha o jogo muito parado. “Prefiro jogar futebol”, explica. Inclusive, era o que eles estavam fazendo, quando a reportagem os abordou no Parque Belmar Fidalgo.

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