Campina Grande (PB) - Uma boneca que não é de porcelana, mas peluda e cinza. Um jumento de 19 anos, mais do que querido, “um pai que não tive”, segundo o dono. Foram Boneca e Querido as grandes atrações da 19ª Corrida de Jegue de Campina Grande (PB), realizada hoje (23), no improvisado jegódromo, paralelo à linha de trem do Expresso Forroviário.

A jumenta ganhou a categoria Ornamentação. Com apenas um ano, a pequena Boneca foi premiada com R$ 400, mais um pacote de milho – um dos principais alimentos do jegue. Para conquistar o prêmio, ela chegou ao circuito de saia, batom e maquiagem no rosto. Os dois irmãos de Boneca, Ronaldinho e Raposa Feroz, ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente.

Dono dos jegues, o pintor auxiliar Patrício Andrade conta que a participação na disputa já é tradição de família – é a quinta vez que participa, mas a primeira de Boneca. Ela ganhou esse nome “porque nasceu agora e, como ficou bonitinha, chamamos de Boneca”. Os jegues servem à família como meio de transporte.

Já Querido "trabalha" exclusivamente como corredor. O dono do jegue, Gricinaldo Alves, ao ser despedido do emprego que tinha, recebeu Querido como multa trabalhista porque o patrão não podia fazê-lo em dinheiro. E Gricinaldo, que mora em Picuí (PB), tirou a sorte grande: o jegue já rendeu cerca de R$ 16 mil, se contabilizados os mais de 55 prêmios dos últimos 13 anos.

“É uma emoção muito grande, a mesma coisa que estar jogando na seleção brasileira”, conta Gricinaldo, após a vitória. Como prêmio, o jumento ganhará R$ 400 e dois sacos de milho - comida que, junto com a rapadura, compõe a dieta vitoriosa de Querido. “Quiseram comprar Querido por R$ 5 mil. Mas não vendo nem troco, ele é querido demais”, relata o proprietário.

Gricinaldo lembra que hoje é mototaxista graças a um prêmio recebido por Querido em uma de suas corridas. A primeira colocação de Querido rendeu a Gricinaldo uma motocicleta. Na época, ele não tinha carteira de habilitação, mas resolveu tirar o documento, também com o dinheiro de prêmios.

“É o jumento que me fez doutor. Eu não sabia nem vir à rua, ele me ensinou. É mais falado do que eu. Ninguém da minha família me ajudou tanto quanto ele, é o pai que eu não tive”, detalha, com ar de vitorioso.

Cerca de 20 jumentos concorreram hoje (23) em três categorias de premiações da corrida: Ornamentação, Campina Grande (em que só podem participar os animais da cidade) e Geral. No total, foram distribuídos cerca de R$ 4 mil em prêmios. O maior objetivo do evento, segundo o organizador Teles Albuquerque, é conscientizar as pessoas a não maltratarem esses animais.