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Inveja interrompe sonhos de estudante e muda vidas

Edivaldo Bitencourt e Danúbio Burema, Campo Grande News - 26 de maio de 2009 - 19:46

Morando no Jardim Canguru, um dos bairros mais pobres de Campo Grande, o jovem Clayton Jonas Torres Feias, 18 anos, tinha um futuro promissor. Calouro do curso de Ciências Contábeis, recém aprovado no vestibular, ele também era estagiário no Banco Bradesco, com perspectiva de obter o emprego no segundo semestre deste ano, para ajudar a mãe, a doméstica Helena Brites Torres, 42, no sustento da família.

A carreira promissora e a vida cheia de sonhos acabaram interrompidas pela inveja de dois vizinhos, moradores no mesmo bairro. Segundo a Polícia Civil, a visível mudança para melhor de Clayton, moveu Diego Bispo da Silva, 18, e Cássio Henrique da Silva Rodrigues, 18, na agressão do estudante na madrugada de 13 de fevereiro deste ano.

Eles recorreram à violência para acabar com a vida do vizinho, que não falava gírias, era querido pela família e passou a ter condições de se vestir melhor. Os dois pensavam em matar Clayton, mas a arma falhou, e usaram um revólver para dar coronhadas no jovem.

Os dois foram presos ontem e deram detalhes sobre o dia do crime, inclusive, sobre os motivos do espancamento.

O ato de selvageria transformou a vida do estudante e sua família. Após ficar internado em coma na Santa Casa de Campo Grande, em decorrência de uma lesão cerebral, o jovem ficou em estado vegetativo. Não fala, não se locomove e se alimenta por meio de uma sonda.

“Ele entende o que as pessoas falam”, acrescenta a mãe, na esperança de que o filho retorne, um dia, à vida cheia de projetos.

Não será uma tarefa fácil. A família precisa de ajuda para arcar com os custos da condução para as sessões de fisioterapia três vezes por semana. Voluntários ajudam até Clayton Jonas obter a aposentadoria por invalidez pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

O crime não interrompeu apenas os sonhos do universitário. Como residia em frente à casa dos suspeitos, toda a família foi obrigada a mudar-se para outro bairro, para escapar das ameaças que continuaram. "Sorte é que um irmão cedeu a casa", segundo conta o avô, Mateus Torres, 67.

Além disto, a mãe foi obrigada a abandonar o emprego de doméstica para se dedicar 24 horas à recuperação do filho. “Os nossos planos foram interrompidos, mas por um tempo”, destacou Helena Torres, confiante de que o filho, apesar do parecer médico, voltará a ter uma vida ativa. “Ele lutou tanto, fez tanto esforço junto”, contou.

A avó paterna, Maria José de Freitas, 74, veio de Dourados para ajudar a cuidar do neto. “Ele não era bagunceiro, tirava boas notas na escola, era carinhoso e respeitoso com a família”, revelou Torres.

Além de apostar na força de vontade do filho, que apenas mexe os olhos para se manifestar, a mãe não guarda o rancor, uma arma tão venenosa quanto a inveja que vitimou o seu filho. “Entrego nas mãos de Deus”, afirmou Helena, sobre a prisão dos acusados de espancar seu filho. Eles foram presos hoje, três meses após o crime.

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