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Índios e fazendeiros entram em conflito em fazenda no interior do estado

Agência Brasil - 25 de junho de 2015 - 16:55

Índios e produtores rurais enfrentaram-se ontem (24) em uma fazenda de Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, a cerca de 180 quilômetros de Dourados, no sudoeste do estado. O confronto ocorreu na fazenda ocupada por índios guarani e kaiowá na última segunda-feira (22).

Dirigindo caminhonetes e picapes, um grupo de não índios tentou desocupar a Fazenda Madama sem uma decisão judicial ou apoio policial. Enquanto os motoristas ameaçavam lançar os veículos contra os índios, estes resistiam lançando pedras, paus e flechas. Não há, até o momento, registro de feridos, mas os índios afirmam que, na confusão, uma mulher e duas crianças fugiram e ainda não voltaram para o acampamento.

O conflito foi acompanhado a distância por agentes do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) e da Polícia Civil, que não conseguiram evitar a entrada dos produtores rurais na fazenda. Segundo o assessor de comunicação do DOF, sargento Júlio Cesar Teles Arguelho, os quatro policiais do departamento estavam no local desde o início da manhã apenas para ajudar na retirada do gado e de bens do proprietário da fazenda ocupada. Por volta do meio-dia, a guarnição foi surpreendida pela chegada de uma carreata com dezenas de veículos.

“Os policiais orientaram o grupo a não entrar na área para fazer a retomada, até porque o efetivo era insuficiente para garantir a segurança de todos”, disse o sargento à Agência Brasil. Como a atribuição de agir em conflitos indígenas é da Polícia Federal (PF), o efetivo era insuficiente para qualquer ação repressiva, os agentes do DOF retiraram-se do local.

Segundo líderes indígenas, a ocupação da Fazenda Madama foi a forma encontrada para retomar e pressionar o Poder Público a reconhecer a área como parte de um território ancestral indígena. As tentativas de se fixar na área intensificaram-se nos últimos seis ou sete anos. Três índios morreram entre 2007 e 2009 em conflitos relacionados à disputa fundiária.

Procurada, a Funai informou que está acompanhando o caso e que órgãos como o Ministério Público Federal e a Polícia Federal estão à frente das negociações.

Os guaranis e kaiowás alegam que uma área no interior da Fazenda Madama é território sagrado indígena, o chamado Kurusu Ambá, assim como outras áreas reivindicadas pelas etnias.

Em outubro de 2012, ao comentar a tensão entre fazendeiros e índios, a Funai divulgou nota dizendo-se impedida de prosseguir com o processo de reconhecimento de Kurusu Ambá e de outras áreas reivindicadas pelos guarani e kaiowá em Mato Grosso do Sul, em virtude de elas serem alvo de medidas judiciais impetradas por fazendeiros. Na ocasião, a Funai disse confiar que as decisões do Poder Judiciário “reconhecessem e reafirmassem o direito dos povos indígenas as suas terras de ocupação tradicional”.

A reação dos fazendeiros à ocupação da fazenda ocorreu após uma reunião no Sindicato Rural de Amambai. Cerca de 150 proprietários rurais discutiram a ocupação, em todo o estado, de terras que consideram produtivas. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, 89 propriedades estão ocupadas por índios – algumas há mais de uma década. Além da Fazenda Madama, duas áreas foram tomadas em Aral Moreira.

Durante o encontro, o presidente da federação, Nilton Pickler, recomendou que os produtores se unam para pressionar o governo federal a “definir a situação das áreas invadidas no estado”. “Nós nos colocamos à disposição de todos os que passam por este momento tão difícil, mas entendemos que é necessário buscar os caminhos jurídicos”, declarou Pickler.

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