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Índios divididos se acusam na questão da homologação

Luciana Vasconcelos/ABr - 10 de janeiro de 2004 - 11:02

Os índios em Roraima estão divididos entre aqueles que querem a homologação contínua e os contrários à decisão do governo federal. Eles não se entendem. Todos falam em manipulação, seja por parte de organizações que seduzem os índios a defenderem a homologação, seja por parte dos fazendeiros e do governo, que são contra.

Cada parte diz que conta com o apoio da maioria dos índios. O CIR (Conselho Indigenista de Roraima) que defende a homologação contínua e diz representar 47 mil índios, apresenta um mapa com a localização de malocas e de moradores. O coordenador geral da organização, Jacir José de Souza Macuxi, mostra quais são as malocas contrárias à homologação e diz que o total não chega a 20% de todos os índios que vivem na Raposa Serra do Sol.

Já os contrários à homologação chegam a afirmar até que 80% dos índios apóiam a causa. O Presidente da Sociedade de Defesa do Índio do Norte de Roraima (Sodiur), Jonas Marcolino Tuxaua, disse que um plebiscito comprovaria que a maioria não quer a homologação contínua. “Lutamos pela área não contínua para que todos os brasileiros que ali estão tenham seus direitos assegurados”, disse.

Para o administrador substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai) no estado, Manuel Tavares, a manifestação é lamentável. “É orquestrada pelos plantadores de arroz que conseguiram envolver uma minoria de índios neste movimento e passar a idéia de que os índios são contrários a demarcação”, afirmou.

Jacir Macuxi acredita que a homologação contínua vai auxiliar no desenvolvimento das comunidades indígenas. “Queremos também desenvolver e mostrar a nossa realidade”, destacou. Segundo ele, não há como trabalhar junto com os fazendeiros. “Estamos pedindo que os rizicultores e fazendeiros dêem oportunidade aos que querem comercializar também com carne e outros produtos”, disse.

Os índios favoráveis à homologação contínua criticam a presença de grandes fazendeiros na região. Segundo afirmam, a ocupação por fazendas de brancos impede a passagem dos povos indígenas, polui os rios, causa desmatamento e a morte de animais. “Eles não respeitam o meio ambiente. A água do rio fica poluída e prejudica a comunidade próxima”, disse o macuxi Jairo Pereira da Silva,que nasceu na reserva Raposa Serra do Sol.

A coordenadora-geral da Organização das Mulheres Indígenas, Ivete da Cruz, disse que os invasores (como chama os fazendeiros) estão manipulando seus companheiros. Ela se confessa triste quando vê parentes do outro lado. “Fico com pena dos parentes que estão sendo enganados por esses invasores”, ressaltou. Segundo ela, os “invasores” chegam bonzinhos, mas depois prejudicam o índio.

Para o índio e estudante de direito Jonas Marcolino, não há manipulação. “Somos contra pelo fato de existir na região brasileiros não índios e índios, numa convivência de um século, praticamente”, disse. “A área não pode ser demarcada como uma reserva única e exclusiva dos índios, como se os índios vivessem em estado primitivo, como se não conhecessem nenhum sistema de produção. Não podemos isolar a reserva”, defende.

José Novaes, vice-prefeito de Uiramutã, uma das cidades dentro da reserva, acha importante preservar áreas produtivas e municípios que possuem potencial de desenvolvimento. “Temos turismo e agricultura que, a partir do momento da homologação da área contínua, não trão como continuar. Queremos desenvolver, compartilhar a economia, ter auto-sustentabilidade", afirma.

Morador de Uiramutã, o índio macuxi Vicente da Silva Lima se preocupa com o escoamento da produção e acredita que, se a reserva for homologada de forma contínua, a área ficará isolada e vai prejudicar o desenvolvimento local. “Conhecemos bem o processo de demarcação ao ver outras reservas que estão isoladas.Em São Marcos, os índios têm que pedir licença para tudo à Funai”, contou.

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