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Incidência do câncer de colo uterino justifica gastos

Agência Notisa - 21 de outubro de 2005 - 06:50

Professor e Diretor Associado da Divisão de Radiação Oncológica da Universidade McGill, no Canadá, Luis Souhami apresentou estudos na área e apontou os principais avanços para o tratamento da doença. Previsão do INCA é de que mais de 20 mil mulheres desenvolvam este tipo de câncer só este ano no país.

Atualmente, mais de 500 mil de mulheres em todo mundo sofrem de câncer de colo uterino. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), aproximadamente 200 mil, deste total de mulheres, morrerão vítimas da doença. A incidência deste tipo de câncer no Brasil é bastante alta e a previsão do INCA é de que 20.690 mil novos casos sejam registrados somente este ano. Em palestra realizada durante o XIV Congresso de Oncologia Clínica, o brasileiro Luis Souhami, professor e diretor associado da Divisão de Radiação Oncológica da Universidade McGill, no Canadá, abordou o tratamento e os avanços da medicina no combate ao câncer de colo de útero. O evento, que teve início no dia 19 de outubro, está sendo realizado na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, e vai até o próximo dia 22.

Souhami explica que até início dos anos 80, a radioterapia era utilizada exclusivamente no tratamento do câncer de colo uterino. Desde então, foram realizados diversos estudos comparativos, buscando novas alternativas, como a quimioterapia, por exemplo. Segundo o pesquisador, os resultados foram decepcionantes. “Um estudo australiano mostrou, naquela época, que a quimioterapia poderia ser prejudicial às pacientes. Entretanto, independente do resultado obtido, a alta incidência deste tipo de tumor entre a população feminina justifica os gastos com pesquisas”, afirmou o professor.

Recentemente, estudos realizados pelo Medical Research Council, na Inglaterra, indicaram que a quimioterapia neoadjuvante (em que as drogas são administradas antes de cirurgia ou radioterapia) não apresentava nenhum tipo de resultado. Apesar dos resultados, Souhami não descarta totalmente sua aplicação. “A análise de subgrupos dentro dos casos estudados pode indicar as pacientes que poderiam vir a se beneficiar com a quimioterapia neoadjuvante”, explicou o especialista. Segundo ele, a pesquisa inglesa foi complementada com estudos comparativos que mostraram que a quimioterapia administrada por mais de 14 dias é prejudicial, já que provocaria morte prematura das pacientes. Porém, o ciclo até 14 dias mostrou-se benéfico para as pacientes analisadas, aumentando a sobrevida até o início da radioterapia. De acordo com o professor, a dosagem também influenciaria na sobrevida média. Doses inferiores a 25mm/m2 piorariam a sobrevida, enquanto que a administração de drogas a partir desta faixa não produziria nenhum tipo de efeito – nocivo ou benéfico. “Estes estudos indicam que pode haver espaço para a terapia neoadjuvante. Mas é preciso salientar que tais dados referem-se a subgrupos estudados, não existindo, portanto, aplicação prática até o momento”, ressaltou.

Outra pesquisa também realizada pelo Medical Research Council, citada pelo pesquisador, demonstrou que o tratamento combinado – quimioterapia em associação à radioterapia – é capaz de aumentar a sobrevida em até 10%. No entanto, a toxicidade também é alta. Nesse sentido, outro efeito do tratamento combinado, identificado por um estudo canadense realizado recentemente, seria a diminuição da taxa de hemoglobina (responsável pelo transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos) no sangue dos pacientes, quando comparada à daqueles submetidos exclusivamente à radioterapia. “É preciso estar atento a esta taxa, que deve manter-se em torno de 12g/dl“, alertou o médico. O principal objetivo seria evitar anemia e suas complicações. A Universidade McGill realizou um estudo com pacientes atingidas pelo câncer de colo uterino cujo objetivo foi avaliar a dosagem do hormônio eritropoietina, responsável por regular a formação dos glóbulos vermelhos no sangue. A pesquisa indicou que 80% das pacientes apresentavam superexpressão desse fator, que estimula o crescimento do tumor. De acordo com o especialista, “a dosagem da eritropoietina merece atenção no diagnóstico clínico do câncer”.

As inovações nas técnicas de radioterapia incluem um aparelho em 3D denominado IMRT (Radioterapia com Intensidade Modulada) capaz de melhorar os resultados, já que previne que a radiação atinja as estruturas mais importantes do organismo. De acordo com Souhami, “a radiação produzida pelo IMRT afeta 46% da medula óssea, enquanto que o aparelho convencional atinge 86% desta estrutura”. A hipóxia – baixa oxigenação –, encontrada na maioria das células tumorais, é a grande responsável pela radioresistência. Novas drogas, ainda em estudo, pretendem preveni-la, aumentando a eficácia da radioterapia.

Souhami explica que o tratamento clássico do câncer de colo uterino inclui a radioterapia seguida da quimioterapia pós-operatória. Atualmente, a droga de primeira escolha para a quimioterapia, na opinião do pesquisador, é a Cisplatina. “Apesar da sua alta toxicidade, ela deve ser considerada, já que aumenta a sobrevida da paciente”, defendeu. Ainda em estudo, a Tirapazamine pode vir a ser a nova droga de primeira escolha no tratamento da doença. Menos tóxica, ela atingiria em menor escala as células normais dos tecidos, que são bem oxigenadas, e apresentaria alta toxicidade para as células em hipóxia (característica dos tumores). Estudos realizados nos EUA e na Inglaterra indicam que a nova droga é capaz de eliminar as células hipoxigenadas, sem afetar as células saudáveis.

Na opinião de Souhami, ainda há muito a ser estudado, mas qualquer ganho na área, por menor que seja, merece ser comemorado. “Cerca de 80% dos novos casos registrados de câncer do colo uterino ocorrem em países em desenvolvimento. Oncologistas da América Latina, em especial, devem estar atentos aos avanços na área. O diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de prevenir o avanço da doença e o sucesso no tratamento”, afirmou.



Agência Notisa (jornalismo científico – science journalism)

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