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Idosos que trabalham sofrem menos depressão

Agência Notisa - 07 de dezembro de 2004 - 12:48

Aposentadoria é tempo para descanso e brincadeiras com os netos. Entretanto, este cotidiano de sonhos pode virar pesadelo para muitos. A vida dos idosos está longe de ser tranqüila e distante de preocupações, como pode parecer. Um estudo das universidades federais do Rio Grande do Sul e de Pelotas investigou os principais sintomas depressivos apresentados pela população idosa. Mulheres, indivíduos com idade avançada e baixa escolaridade são as maiores vítimas da depressão na terceira idade.

A pesquisa, publicada na Revista de Saúde Pública (Volume 38, nº3), abordou 583 pessoas com mais de 60 anos, residentes na zona urbana da cidade de Pelotas (RS). Objetivando avaliar a freqüência de sintomas depressivos e identificar fatores associados à ocorrência desses sintomas, a pesquisa associou sintomas depressivos às variáveis demográficas, socioeconômicas e comportamentais.

A falta de disposição para realizar atividades cotidianas foi o sintoma mais citado pelos idosos: 73,9% dos entrevistados relataram esta característica. E os grupos que mais manifestaram os sintomas da depressão foram: mulheres, indivíduos mais velhos, com menor escolaridade, sem trabalho remunerado, fumantes e os que sofreram morte de familiar ou pessoa importante no último ano. “Nessa faixa etária há uma diminuição da resposta emocional (erosão afetiva), acarretando um predomínio de sintomas como diminuição do sono, perda de prazer nas atividades habituais, ruminações sobre o passado e perda de energia” , explicam os pesquisadores.

Mesmo fazendo parte de uma entidade patológica importante, a depressão é pouco estudada, pelo fato de ser de difícil medição e identificação, o que só aumenta a gravidade do problema: “Apesar de sua relevância, a depressão é uma morbidade de difícil mensuração, especialmente em estudos epidemiológicos. Isso se deve ao fato de que o quadro depressivo é composto de sintomas que traduzem estados de sentimentos que diferem acentuadamente em grau e, algumas vezes, em espécie”, destacam os pesquisadores.

Assim como para outras doenças de caráter crônico, a escolaridade se mostrou como fator de proteção para a depressão na terceira idade. Relação semelhante foi encontrada no quesito trabalho remunerado: idoso que trabalha tem menos chances de desenvolver depressão. “Devido à desvalorização que o idoso sofre na sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento, este achado pode indicar que aqueles que se mantêm no mercado de trabalho continuam se sentindo úteis à comunidade”, ressalta o estudo.

Quanto ao hábito de fumar e sua relação com a depressão, o estudo constatou que fumantes têm mais chance de manifestar sintomas depressivos. Além disso, os autores lembram que outros pesquisadores já haviam relatado que o fumo, freqüentemente, está associado a algum tipo de transtorno de ansiedade ou depressão. “A maior média de sintomas depressivos entre fumantes atuais no presente trabalho pode servir como um impulso para futuros estudos epidemiológicos e neurobiológicos focados exclusivamente na relação tabaco ‘versus’ depressão”, dizem os pesquisadores.

Somado a isso, os pesquisadores ainda consideram o cotidiano socio-econômico no qual vive o idoso, principalmente em países ditos em desenvolvimento, como o Brasil. Muitos idosos, nesses países, são responsáveis pelo sustento da família, seja através da participação no mercado de trabalho, seja através de rendimentos, como aposentadorias, por exemplo. O estudo lembra que, enquanto nos países desenvolvidos o aumento da população idosa é acompanhado por melhorias de suas condições de vida, nos países em desenvolvimento a situação é diferente: “nesses países a população idosa vem aumentando em um cenário de pobreza e despreparo”, aponta a pesquisa.

De acordo com os pesquisadores, o fato de os sintomas depressivos terem sido encontrados em altas proporções nos idosos ressalta a importância de que os profissionais avaliem a sintomatologia específica dos idosos, que parece diferente da verificada nos adultos jovens. “Os profissionais de saúde devem ser capacitados a reconhecer as formas mais comuns de apresentação das síndromes depressivas em idosos, dando mais subsídios às investigações médicas rotineiras e permitindo intervenções precoces e eficazes”, concluem os pesquisadores.

Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

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