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Hoje, Morumbi completa 50 anos desde a sua fundação

Fábio Pereira, FPF - 02 de outubro de 2010 - 09:15

Atualmente assessor de um grande banco paulista, Laudo Natel é figura histórica do São Paulo e da sociedade paulista Divulgação
Atualmente assessor de um grande banco paulista, Laudo Natel é figura histórica do São Paulo e da sociedade paulista Divulgação

A velha aspiração dos dirigentes são-paulinos em erguer um estádio de grandes proporções era vista como um longínquo sonho pela São Paulo dos anos 50. Em uma fase difícil e cercado por problemas financeiros, em 1952, enfim, o clube lançava a pedra fundamental de sua futura casa. A aquisição do terreno de 124 mil m2 comprado da Imobiliária Aricanduva e a anuência da Prefeitura em autorizar a construção no local onde havia uma praça pública, aos poucos foi dando lugar ao maior estádio particular do mundo.



Várias campanhas foram feitas pelo clube para que o estádio fosse erguido com capacidade aproximada para 150 mil lugares. Venda de cadeiras cativas, títulos patrimoniais e a famosa campanha do cimento ditaram o ritmo da construção. Para Laudo Natel, presidente do São Paulo entre 1958 e 1971, o Morumbi só ficou de pé devido ao trabalho incessante de seus dirigentes. “O Morumbi tem uma história milagrosa. Mesmo com dívidas o clube conseguiu construir um estádio com muita luta. Sempre procuro deixar bem claro que nunca entrou dinheiro público nesse projeto. Isso é conversa de torcida. Foi devido a esse comprometimento que demorou 18 anos para ser finalizado por completo. Sempre digo que se o Morumbi tivesse um subtítulo seria ‘Fé e Perseverança’; fé porque o São Paulo é o clube da fé, e perseverança devido à capacidade que a diretoria teve em vender ideias”, confessou o ex-governador do Estado entre os anos de 1966 a 1967 e 1971 a 1975.



Depois de 18 anos de batalha, no dia 2 de outubro de 1960, era inaugurado o maior e principal estádio de São Paulo. A partida inaugural foi entre São Paulo e Sporting, de Portugal, e coube ao atacante Peixinho a honra de marcar o primeiro gol do novo estádio, que ainda comportava apenas 70 mil espectadores. Somente dez anos depois o Morumbi teve sua inauguração total. Mais de 100 mil espectadores assistiram ao jogo entre São Paulo e Porto, de Portugal, que culminou em um empate por 1 a 1.

A nova casa do torcedor paulistano ganhou o nome de Cícero Pompeu de Toledo. Presidente do clube entre os anos de 1948 e 1957, Toledo foi chefe da comissão pró-estádio, que não tinha ligação alguma com as finanças do futebol. A arrecadação com as campanhas para a construção do estádio jamais foi repassada para a contratação de jogadores. Por isso as péssimas campanhas do time entre os anos de 1958 e 1969. “Cícero Pompeu de Toledo foi um grande homem e um grande são-paulino. Comprou um sonho mesmo ciente de um possível fracasso. A única frustração que tenho é que ele não pôde estar presente na inauguração, pois faleceu antes da conclusão”, lamentou Laudo Natel que hoje aos 90 anos de idade assessora um banco paulista, onde também exerceu o cargo de diretor a partir de 1950.

Com o término do estádio o São Paulo Futebol Clube tornava-se uma potência a cada ano que se passava. Os cinco títulos conquistados nos anos 70 – Campeonato Paulista de 1970/71 e 1975, e o Brasileirão de 1977 – mostravam que o estádio era a grande arma do clube para se firmar no cenário nacional.



Principal jogador do primeiro título brasileiro do São Paulo, Serginho Chulapa também é o maior artilheiro da história do Morumbi. Seus 145 gols anotados com as camisas de São Paulo, Santos e Corinthians dentro do estádio são os maiores motivos de orgulho para o ex-jogador. “Essa marca significa muito para mim, pois é algo que vou guardar para o resto da minha vida. O Morumbi é um lugar que só me traz lembranças boas. A estreia em 1972 com Telê Santana e os gols importantes são coisas que jamais sairão da minha memória”, disse o ex-atacante que ainda guarda consigo dois momentos inesquecíveis no estádio do São Paulo. “O gol mais importante marquei foi em 1978 quando vencemos o Operário (MS) com o estádio recebendo mais de 103 mil pessoas na semifinal do Brasileirão; o mais bonito foi na final do Paulistão de 1981, quando dei um chapéu no goleiro Carlos, da Ponte Preta, e marquei o segundo gol que culminou no título”, relembrou Chulapa.

Em 1971 o estádio viveu um dos momentos mais marcantes e ao mesmo tempo amargo para todo o povo brasileiro. No dia 11 de julho, aos 31 anos de idade, o Rei Pelé fazia sua primeira despedida da Seleção Brasileira em um amistoso contra a Áustria. Atleta do século XX e maior jogador de futebol de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento disputou oito jogos e marcou oito gols jogando pela Seleção Brasileira no estádio Cícero Pompeu de Toledo.


O Rei Pelé fez história no estádio, já que com a camisa da Seleção Brasileira tem média de um gol por jogo no Morumbi, que foi o local onde fez a despedida da seleção em São Paulo

O selecionado verde e amarelo também tem seu histórico de jogos no Morumbi. O público paulistano teve a oportunidade de acompanhar em nove oportunidades a seleção pentacampeã do mundo no Cícero Pompeu de Toledo.

Outros craques como Zico, Tostão, Rivelino, Ademir Guia, Gérson, Tostão e até mesmo Diego Maradona desfilaram pelo gramado do Morumbi. O gênio argentino enfrentou o São Paulo ainda quando defendia o Sevilha, da Espanha, em um amistoso no ano de 1993, em mais uma exibição de gala do camisa 10 Raí.

Já na condição de um dos grandes clubes do Brasil, o São Paulo foi atrás de notoriedade no cenário internacional. Os bicampeonatos da Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes em 1992/93 colocaram a equipe tricolor e o seu estádio em evidência. Líder do melhor time que o clube teve em toda a sua história, o ex-meio-campista Raí também é parte integrante desses 50 anos de glórias. “Ter atuado durante oito anos no Morumbi é um grande privilégio. Me sentia em êxtase quando subia o túnel em direção ao gramado. Era uma mistura de prazer e responsabilidade. Jogar no Morumbi foi ser protagonista de um período, e literalmente me sentir em casa. Ver a torcida são-paulina comemorando um título na própria casa é algo inesquecível”, confessou o ex-camisa 10 e ídolo tricolor.


Um dos maiores campeões do estádio, com seis títulos, o ‘Terror do Morumbi’ – como era chamado pela torcida – também revelou suas melhores lembranças atuando no Cícero Pompeu de Toledo. “A Copa Libertadores de 1992 é o título mais importante que ganhei lá dentro, mas o que me mais me marcou foi o do Paulistão de 1991, que vencemos o Corinthians com três gols meus. O estádio é um símbolo e um monumento da cidade, me sinto honrado em fazer parte dessa história vitoriosa”, concluiu o ex-capitão Raí que divide com o ex-atacante Müller o título de maior vencedor do estádio.

Casa do São Paulo Futebol Clube, o gigante de concreto também adotou os outros grandes clubes do Estado como sua morada por diversas ocasiões. Finais de campeonatos paulistas, nacionais e internacionais foram disputadas no gramado do que foi por muitos anos o maior estádio particular o mundo.

Além dos donos da casa, que conquistaram 18 títulos, diversos clubes do Estado também tiveram a chance de dar a volta olímpica no gigante Morumbi. Corinthians em 12 oportunidades, Palmeiras em 8, Santos em 6, Inter de Limeira e Portuguesa uma vez, registraram para sempre em suas respectivas histórias momentos de glórias no estádio Cícero Pompeu de Toledo. Vasco da Gama (RJ) e Grêmio (RS) com dois títulos cada são as equipes de outros estados que foram campeões no Morumbi. Além de Vélez Sarsfield e Boca Juniors, ambos da Argentina, que juntos sagraram-se quatro vezes campeões atuando no estádio tricolor.

Finais inesquecíveis como a do Paulistão de 1973, quando Santos e Portuguesa sagraram-se campeões após uma conturbada decisão por pênaltis, e a conquista do Palmeiras em 1993, quando a máquina comandada por Evair e Vanderlei Luxemburgo goleou o Corinthians por 4 a 0 e deu ao palmeirense um título depois de 17 anos de espera, ainda são marcantes na memória do torcedor paulistano.


Os quase dois mil jogos que o estádio presenciou desde 1960 mostram a amplitude e a importância de um dos grandes patrimônios da cidade. E somente no ano de 1985 é que o estádio Cícero Pompeu de Toledo recebeu o seu maior público. Mais de 163 mil pessoas estiveram presentes em um encontro religioso. No futebol, a maior marca foi alcançada na segunda partida da final do Campeonato Paulista de 1977, quando 146.082 mil corintianos e pontepretanos preencheram as arquibancadas e testemunharam o Corinthians saindo de um jejum de quase 23 anos, em uma das maiores festas que o Morumbi já presenciou.

Recordista de jogos com a camisa do São Paulo (931), o ídolo Rogério Ceni não poderia ficar de fora dessa festa. As 459 partidas disputadas Morumbi desde 1993 dão ao goleiro-artilheiro a honra de ser o jogador que mais vezes atuou no estádio. Casa do goleiro nos primeiros anos em que chegou a Capital paulista, passadas duas décadas, o camisa 1 ainda se impressiona com a casa tricolor. “Quando cheguei aqui na cidade era menos trânsito, né (risos). A primeira vez que eu vi o Morumbi, passei em frente ao estádio, foi uma coisa absurda. É extremamente gigante por fora. A coisa mais bacana que vejo é passar por aqui todos os dias\\\", explicou.


Dos cinco títulos que conquistou no Morumbi (Paulista em 98 e 2000, Libertadores 2005 e os Brasileiros de 2006 e 2007), quatro foram erguidos pelas mãos do capitão. Com mais dois anos garantidos na meta são-paulina, Rogério revela que uma das suas grandes alegrias na vida é atuar no gramado do Morumbi. “Espero que o São Paulo possa conquistar mais títulos nestes dois anos que ainda tenho de contrato. Isso me mantém vivo e motivado. Minha grande paixão é entrar no Morumbi vestindo essa camisa do São Paulo. E esta paixão aumenta a cada dia\\\", completou o goleiro.

Com o passar dos anos o estádio foi se modernizando e a redução para poucos mais de 67 mil lugares foi inevitável. Mágico e diferente de todos os estádios brasileiros, esse gigante de concreto a cada ano se consolida como um palco de acontecimentos históricos. Quem teve a oportunidade de entrar no Cícero Pompeu de Toledo é incapaz de negar que o templo das grandes multidões em São Paulo é o cinquentão Morumbi.

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