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Histórias de vida comum: Emanuel e as promissórias frias

Terezinha de Jesus Tagliaferro - 18 de setembro de 2010 - 08:08

Emanuel morava em S.Paulo, casou-se e veio morar em Bauru. Um dia, quando foi levar o carro no mecânico encontrou um seu amigo, o Carlos, que também morava em S.Paulo. Conversaram muito, relembraram os velhos tempos.Contou também que decidiu mudar para Bauru por ser uma cidade mais tranquila e porque decidiu entrar no comércio de maquinários.

Naquela noite Emanuel comentou com a esposa o encontro e o bate - papo que teve com o Carlos, o tal amigo de S.Paulo.

Na semana seguinte a esposa de Emanuel esteve também na casa do mecânico, pois a esposa do mecânico era professora e as duas trabalhavam na mesma escola.

Estando ali ela observou o Carlos falando com um senhor que ela conhecia muito bem. Era um cara pilantra... pai de uma ex-aluna dela.Ele era muito famoso pelos seus \\\\\\\"trambiques\\\\\\\". Conversando com o mecânico ela ficou sabendo que o tal pilantra trabalhava na parte de vendas externas da loja do Carlos.

Como tem aquele ditado que diz: “Dir-me com quem andas que lhe direi quem és.\\\\\\\" A esposa de Emanuel ficou preocupada com o tal amigo do marido e na primeira oportunidade alertou o marido, o qual não deu tanta importância para o fato.

O tempo passou e um belo dia Emanuel chegou em casa e falou pra esposa.\\\\\\\" Bem, hoje fiz um negocio da China, assinei umas promissórias para o Carlos e quando os clientes pagarem vai nos dar uma boa renda.\\\\\\\"

A esposa de Emanuel não era muito ligada nesses negócios de promissórias, alias, ela nunca teve contato com esse tipo de negócios, mas se o marido disse que ia dar lucro era melhor confiar nele.

Passou-se um mês e nada de lucro, pelo contrario, começaram a pagar contas. No final daquele mês o Carlos convidou a família de Emanuel para um churrasco. Era um sábado, mês de dezembro, um calor danado e Bauru é uma cidade muito quente. Emanuel morava numa chácara perto da cidade e naquele sábado precisava entregar um porco que havia vendido e falou pra esposa: - Já que temos de ir pra Bauru entregar o porco vamos aproveitar e vamos no churrasco na casa do Carlos, afinal fomos convidados. Vamos lá, você conhece a esposa dele, ela é muito legal.

E foram. Ficaram encantados com a casa do Carlos. Ele morava num bairro nobre da cidade, casa grande, muito bem iluminada, jardim bem cuidado. O que mais chamou atenção foi a quantidade de pessoas que tinha no churrasco. Emanuel comentou com a esposa:

- Poxa, como o Carlos é esperto, em apenas um ano fez tanta amizade na cidade...

O churrasco estava ótimo. Correu bebida a vontade. Ambiente muito agradável. O casal tinha vários filhos e todos brincaram muito com o menor, de apenas 2 aninhos que era uma criança muito alegre.

A festa foi até de madrugada. Emanuel e a esposa se despediram de Carlos e família e ficaram de se encontrar na próxima semana para acertar o pagamento das promissórias.

A próxima semana chegou. Emanuel foi até a loja e a encontrou fechada. Foi conversar um pouco com o mecânico, o qual lhe disse que aquela semana o Carlos não tinha vindo ali nenhuma vez. Emanuel já começou a suspeitar de qualquer coisa e já começou a suar rio. Ainda não tinha falado para a esposa a quantia de promissórias que ele havia assinado.

Emanuel foi ao banco e para sua surpresa, quando pediu o saldo bancário, quase desmaiou, tamanho era o \\\\\\\"rombo\\\\\\\". Aconteceu que as promissórias eram frias e na realidade ele era o avalista, como vocês sabem, ele deveria pagar por uma coisa que não tinha nada a ver com ele. A divida era mensal e tinha assinado varias.

Voltou pra casa triste e pensando como encontrar uma solução para o caso. Todos os dias sentia-se mal, suava frio, parecia que ia morrer. A esposa começou a se preocupar e no fim decidiu de falar com ele. O chamou e lhe disse:

- Bem, quando nos casamos juramos de não ter nenhum segredo um para o outro, portanto, cartas na mesa. Seu comportamento esta me preocupando. Vamos decidir, se é coisa que podemos resolver entres nós, vamos tomar decisões, caso contrario, devemos procurar socorro.

Foi então que Emanuel lhe contou a situação. Ela não podia acreditar na ingenuidade do marido, no qual confiava tanto. E além disso ela já havia lhe falado da tal amizade com o cara pilantra...

Emanuel foi falar com os vizinhos dele e ficou sabendo que naquela noite do churrasco, apos a festa, quando todos foram embora, encostou ali um caminhão de mudanças e eles foram embora para uma cidade que se chamava \\\\\\\"Conceição do Mato Dentro”, que fica em Minas Gerais.

Depois disto, Emanuel sabendo que ele tinha um irmão que tinha uma loja do mesmo ramo em Campinas foi até lá querendo falar com ele pra ver se recebia alguma coisa, mas nem sequer foi recebido. Um funcionário só falou que ele estava em reunião. Além de pagar as promissórias ainda aumentou a despesa com a viagem...

E assim, meus amigos, Emanuel foi pagando todos os meses as promissórias, até o ultimo tostão. Chegou ao ponto da esposa precisar penhorar as jóias no banco pra poder ter o dinheiro necessário. Além disso, ela vendeu muitas peças do enxoval, com muita dor no coração, mas foi necessário.

Como na vida não há coisas ruins e nem boas que perdurem, isso também passou. Só ficou aberta a ferida da confiança que ela tinha no marido. Daquele dia em diante ela tomou as rédeas das finanças nas mãos e pediu ao marido, pelo amor de Deus não assinar mais nada na vida.

Isso tudo me faz refletir demais. Como foi a vida do Carlos? Como é que uma pessoa consegue viver sabendo que prejudicou uma família que não tinha nada a ver com o assunto? Antigamente eu pensava que a consciência era uma coisa que todas as pessoas possuíam, que já nascia com a gente e o desempenho dela era de mostrar o que era certo ou errado. Hoje em dia eu sei que não é assim, infelizmente. A consciência existe. De fato nos nascemos com ela, mas precisa ser educada, modelada. Nos é que vamos determinar e aprovar o que é certo e o que é errado pra que nela fiquem gravado. Quando nos agimos, a nossa consciência aprova ou reprova. Se nos a ignoramos, com o passar dos tempos ela não terá mais força para nos acusar. E justamente por este motivo que nos dizemos que uma pessoa não tem consciência. Tem pessoas que cometem barbaridades e acham tudo normal. Aqui é necessário pensar que se consegue enganar o mundo, mas existe uma justiça Divina da qual ninguém escapa. Como dizia meu pai, e acho que ele estava certo. Ele dizia que não é preciso morrer pra pagar o que se fez de errado, que se paga aqui na terra mesmo. Depois nos pensamos: Mas Deus é a bondade infinita, Ele nos ama e não castiga ninguém... Isto também é uma realidade.

A verdade é que cada um colhe aquilo que semeia, portanto cabe a você cuidar da suas sementes, da sua plantação. Confio em você.

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