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Histórias da Vida: Acontecimentos em ambiente de trabalho

Terezinha Tagliaferro, de Malta - 27 de julho de 2011 - 13:46

Este meu trabalho, cuidando de doentes, o qual eu faço com muita dedicaçao e me da tanta satisfaçao, certas vezes apresenta situaçoes comoventes.
Ha 3 meses atras, vieram de um outro convento para se recuperarem no nosso departamento duas religiosas de uma certa idade que eram também irmas de sangue.
No primeiro dia que la cheguei, ja entrando na capela do convento se escutava uma delas que nao parava de falar nem sequer um minuto.Fiquei curiosa, pois, naquele momento estao todas dormindo.Me dirigi ao quarto delas.
Normalmente cada religiosa tem o seu apartamento individual, mas elas armaram uma tal confusao na hora de separa-las que foi preciso coloca-las num quarto maior, improvizado, sem o conforto necessario.
Uma delas mal falava, nem precisava porque a menor ( de estatura) falava por ela e por todos os poros.
Era uma delicia escuta-la.Logo que me viu foi falando: \" Graças a Deus que apareceu alguém por aqui.Nos estamos desde ontém sem comer nada.Nao nos deram nem sequer uma xicara de café.Mas nao tem importancia.Amanha nos ja estaremos indo embora.Vamos pra casa da Vanessa.Desde ja quero convida-la pra ir nos visitar em casa,ou melhor quero convidar todos daqui porque nos tratam tao bem.Aqui nos temos de tudo, nao nos falta nada.Ah! que mundo otimo seria se todos tivessem a comodidade que temos nos, porque é demais.\"
Como voces estao percebendo, eu também logo notei, pelo discurso dela que estava sofrendo demencia.
Iniciei meu trabalho e sempre começava pelas duas porque elas estavam sempre acordadas. Eram mesmo hiper-ativas e nao deixavam a comunidade descansar.Foi necessario chamar o médico e tomar algumas providencias, até mesmo para o bem da saude delas.
Sempre existe um espaço de tempo até se adaptar com o paciente e eles conosco.Quando era o momento do banho ela se sentia muito acanhada, mesmo porque havia trabalhado toda a vida como enfermeira.Enquanto eu a limpava ela falava ainda muito mais, e dizia para a irma dela: \" Marta, vamos rezar uma Ave Maria pra Terezinha, para as necessidade delas porque se ve que ela trabalha com o coraçao.\" Me contava historias que me divertia.Precisava ver cada uma que aprontava.Um dia decidiu que queria um crucifixo que estava encima do guarda-roupa e me disse pra pegar e coloca-lo perto dela , pois ja havia falado com a superiora e esta lhe havia regalado.Dizia que o crucifixo havia feito um grande milagre, que uma sua tia fazia muito tempo que nao se confessava e tinha conseguido a graça atraves daquele crucifixo.Enfim, era uma historia atras da outra e cada vez melhor.
Quando as colocava para dormir, elas queriam que as camas ficassem unidas e, era um sacrificio pra faze-las entender que tinha de colocar a barra de segurança.Nao ficavam um minuto uma sem a outra.
Como nada dura para sempre ,um dia triste também chegou.A menor, a que mais falava começou a piorar e foi hospitalizada.A que ficou chamava pela irma a todo momento.A situaçao ficou dificil.Nos saiamos de perto pra esconder nossos sentimentos.Tinhamos de prende-la na cadeira de rodas com uma cintura porque ela queria levantar e ir onde estivesse a irma.Ela nao sabia mais o que estava acontecendo e dizia: \"Me leva pra ver minha irma so um pouquinho\".Na sua cabeça ali era o hosptial e a irma estava apenas em outro quarto.Era tempo de frio.Ela queria 3 coisas com ela:um lenço, o chale e a touca de la.Era tudo o que ela precisava para ir de encontro a sua felicidade, rever a irma.
Nos faziamos de tudo pra explicar, mas era inutil.Esse calvario demorou semanas e no fim a irma partiu pra outra vida.Ninguém tinha coragem de dar a noticia.Ela ja nao estava se alimentando e temiamos pelo pior.Na tarde, apos o funeral, a superiora lhe disse.Ela se fechou num silencio total e ficou vairos dias assim.Nunca mais pronunciou o nome da irma.Depois, começou a se alimentar como um passarinho.
No momento ela também esta hospitalizadas, mas nos desejamos que Deus a ajude a superar estes momentos dificeis e a traga novamente em nosso meio.
Cada paciente tem a sua historia e todo ser humano tem as suas dificuldades, mas tem também aqueles que mesmo na dor sabe dar felicidades aos outros e estas liçoes de vida nao podemos esquecer .Mesmo por pouco tempo marcam a nossa existencia.

Terezinha Tagliaferro

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