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História: De Sordi, o campeão mundial fora da foto

CBF News - 29 de novembro de 2004 - 09:31

"Gilmar, De Sordi e Bellini; Zito, Orlando e Nilton Santos; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo, esse é o escrete nacional. Que vencendo a Suécia, com bravura e decisão, conquistaram para o meu país o cobiçado título de campeão".



Milhões de brasileiros cantaram em 1958 a marchinha popular festejando a Seleção Brasileira (o escrete nacional) que voltou da Suécia com o primeiro título de campeão do mundo.

Na escalação dos 11 heróis está De Sordi, o lateral-direito titular que disputou cinco jogos do Mundial, mas ficou de fora da final contra a Suécia. O Brasil goleou por 5 a 2 e o lugar de De Sordi foi ocupado pelo grande Djalma Santos, que passou à história como o lateral campeão do mundo - é Djalma Santos, e não De Sordi, quem aparece orgulhoso na foto do título, tirada no Estádio Rasunda, em Estocolmo, no dia 29 de junho de 1958.

Para De Sordi, pior do que ficar de fora do jogo decisivo, foi sofrer a injustiça causada pela versão criada para justificar a sua ausência. O lateral-direito do São Paulo teria sentido o peso da decisão e por isso alegou uma contusão.

Em 2001, em entrevista concedida à ESPN Brasil, o já então recluso De Sordi, que evitava a imprensa devido à mentira de que fora vítima, deixou evidente o quanto de mágoa o episódio causou em sua vida.

À pergunta do repórter, se não se sentia frustrado por não ter jogado contra a Suécia, de não estar, enfim, presente na foto dos campeões do mundo, De Sordi tentou inicialmente negar.

- Não, não tenho mágoa, o que importa é que fui campeão do mundo...

Mas uma lágrima furtiva, que ele não conseguiu impedir, foi mais eloqüente - ficou claro que De Sordi não conseguiu superar o episódio que as gerações posteriores repetiram por pura desinformação: a de que teria ficado com medo de jogar.

- Paguei o preço de ter sido correto. Eu estava com um problema muscular e, se tivesse entrado em campo, poderia prejudicar a Seleção. O time ficaria com 10, porque naquela época não havia substituição.

Três anos depois da entrevista à ESPN, Newton De Sordi falou ao CBF NEWS. Aos 73 anos, o campeão do mundo na Suécia mora em Bandeirantes, no Paraná, onde administra com a mulher Celina a sua fazenda. Vive feliz ao lado da família - já tem bisnetos - e tenta ficar longe do passado, do jogo contra a Suécia, do futebol, das maldades que inventaram.



- Falaram tanta coisa, inventaram tanta história. Como podem pensar que um jogador teria medo de jogar uma decisão de Copa do Mundo? Eu fui o titular durante toda a fase de preparação, joguei as cinco partidas da Copa, claro que não ia querer ficar de fora do grande momento - diz.

A mulher Celina, companheira de tantos anos, é solidária. Tenta mostrar ao marido que nada vai diminuir a sua importância na conquista do título. Celina conta que até hoje De Sordi recebe correspondência de fãs, de pessoas que o admiravam.

- Chegam até cartas da Suécia, com manifestações de carinho. Ele tem também o reconhecimento dos companheiros da Seleção. Isso é o que importa - diz Celina.

Mas De Sordi não esquece. Ele fala com exatidão de tudo o que antecedeu o jogo contra a Suécia. Com um problema muscular na coxa direita, foi poupado do treino da véspera - apenas correu em volta do gramado. Não estava vetado, o que só aconteceu no dia do jogo, na preleção antes de seguir para o estádio.

- Na preleção, eu disse ao "seu" Feola que não tinha condições de jogar. Daria até para entrar em campo, mas haveria o risco de eu sentir - conta.

Foi difícil para De Sordi tomar essa decisão. Custou-lhe quase uma noite sem dormir. Mauro, companheiro do São Paulo, era também com quem dividia o quarto na concentração. Eram amigos. De Sordi não pretendia falar nada com Feola, queria arriscar, tamanha a vontade de enfrentar a Suécia. Pediu a opinião de Mauro.

- Ele me ajudou muito. Lembrou que, devido ao problema muscular, eu fatalmente sentiria a contusão, e o time ficaria com menos um jogador. E que, se o Brasil perdesse para a Suécia, a culpa seria minha. Iriam me responsabilizar por mais uma derrota em final de Copa do Mundo - lembra.

De Sordi acusou a contusão, Vicente Feola escalou Djalma Santos, mas mesmo assim ele pagou o preço de não ter jogado. Logo ele, um lateral valente, que jogava duro, marcava com rigor, como lembra o ponta-esquerda Pepe, seu adversário nos clássicos entre Santos e São Paulo.

- O De Sordi não era jogador de ter medo. Era, sim, um lateral raçudo, que marcava duro, ficava difícil levar vantagem sobre ele - conta Pepe, bicampeão do mundo pelo Brasil em 1958/1962.

De Sordi concorda. Jogava duro, pesado mesmo, mas ressalva que não era desleal com um companheiro de profissão. Nunca tirou ninguém de campo - ele, sim, foi vítima de uma entrada violenta que o afastou do Campeonato Sul-Americano de 1959, na Argentina.

Nessa época, eram famosos os duelos entre De Sordi e Almir, o Pernambuquinho, toda vez que São Paulo e Vasco se enfrentavam. Em um desses jogos, De Sordi, que já estava convocado para o Sul-Americano, teve rompidos os ligamentos do tornozelo em uma disputa de bola com Almir. De Sordi conta o episódio.

- O Almir me pegou por trás e fiquei alguns meses sem jogar. Convocaram o Paulinho, do Vasco, para o meu lugar, e por isso não pude disputar o Sul-Americano.

De Sordi voltaria à Seleção Brasileira em 1961, para a disputa da Taça Oswaldo Cruz. Com a camisa do Brasil, jogou 25 vezes, com 17 vitórias, sete empates e apenas uma derrota, em um amistoso contra a Itália, em 1956.

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