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História da Seleção: "Zagallo, daqui você não passa!"

CBFNews - 25 de fevereiro de 2005 - 09:21

Mario Jorge Lobo Zagallo, além de ter sido um excelente jogador, teve de batalhar para se consagrar como jogador bicampeão mundial. Trocou de posição, mudou o estilo de jogar e até mesmo se viu obrigado a contrariar as instruções de um treinador da Seleção Brasileira.

Tudo começou nos preparativos para a Copa do Mundo de 1958. Ele disputou a vaga na ponta-esquerda com Pepe, do Santos, e Canhoteiro, do São Paulo, os dois apontados como favoritos para fazer parte da delegação que viajaria para a Suécia - o nome de Zagallo estava destinado ao corte.

Só que Zagallo não desistiu em nenhum momento. Jogador que tinha nos início dos anos 50 trocado a meia-esquerda pela ponta-esquerda, de olho numa futura convocação, pois havia muitos craques na sua posição original, não hesitou também em mudar a maneira de jogar para realizar o sonho de disputar seu primeiro Mundial.

Recuando pela ponta-esquerda para ajudar a defesa, não só ganhou do treinador Vicente Feola a camisa de titular como modificou o sistema tático da Seleção Brasileira, que passou do 4-2-4 para o 4-3-3 na Copa do Mundo de 1958. Com isso, Canhoteiro acabou cortado e Pepe foi seu reserva durante toda a campanha na Suécia.


Em 1962, nos preparativos para a Copa do Chile, Aymoré Moreira substituiu Vicente Feola, que ficara doente, e convocou três jogadores para a ponta-esquerda: novamente Zagallo e Pepe e ainda Germano, um jovem jogador que se destacava no Flamengo.

A história estava desenhada para se repetir. Zagallo conta que, nos treinamentos, percebeu que Pepe e Germano tinham a preferência do treinador - novamente o fantasma do corte surgia para ameaçá-lo.

- Cheguei a pensar que seria cortado. Mas uma pessoa da comissão técnica me tranqüilizou, dizendo que eu continuasse me dedicando nos treinamentos, porque meu nome estaria na lista dos 22 que iriam ao Chile - conta.

Foi o que aconteceu - Germano foi quem acabou cortado. Zagallo, que estava em vantagem na disputa pela posição com Pepe, passou a receber nos treinamentos a mesma orientação de Aymoré Moreira. Quando o time titular perdia a bola, o treinador se colocava na intermediária do ataque e impedia, com os braços abertos, que Zagallo voltasse para ajudar a defesa.

- Daqui, você não passa. Quero você na frente, bem aberto pela esquerda - pedia Aymoré.

Nos treinos, Zagallo obedecia, fazia o que Aymoré pedia. Mas no jogo de estréia da Copa de 1962 contra o México, ele atuou exatamente da maneira que fizera com êxito no Mundial de 1958 - procurando as jogadas de linha de fundo quando o Brasil atacava e recuando para ajudar a retomar a bola quando era o adversário quem atacava.

- Não fiz aquilo como se fosse uma desobediência ao Aymoré. Apenas não ia mudar uma coisa que tinha dado certo e que o Feola teve a inteligência de adotar, com o 4-3-3 que nos deu o primeiro campeonato do mundo - conta.

O Brasil venceu o México por 2 a 0, gols de Zagallo e Pelé. Depois do empate em 0 a 0 com a Tchecoslováquia, veio a vitória de virada sobre a Espanha por 2 a 1, com dois gols de Amarildo, sendo que em um deles aproveitando um cruzamento de Zagallo da linha de fundo.

Nesses três jogos, Zagallo fez o que sabia fazer - e era bom para a Seleção. Com excelente preparo físico, estava presente no ataque e na ajuda à defesa. Mas Aymoré não parecia satisfeito. Nos treinamentos, insistia em pedir que Zagallo só participasse do jogo da intermediária para frente.

- Daqui, você não passa - repetia Aymoré, braços abertos, sinalizando para Zagallo não voltar.

No quarto jogo, vitória do Brasil por 3 a 1 sobre a Inglaterra. Zagallo continuou executando a dupla função: atuando como verdadeiro ponta quando o Brasil tinha a bola e recuando para participar da marcação.

Aymoré Moreira acabou tendo de se render à evidência. Daí, em diante, ao dar instruções a Zagallo, o técnico mudou o discurso.

- Zagallo, presta atenção. Quero você na frente, bem aberto. Mas, quando perdermos a bola, fecha pela esquerda para ajudar o meio-campo.

O Brasil acabou bicampeão mundial, vencendo ainda o Chile por 4 a 2 e a Tchecolosváquia na final por 3 a 1.

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