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História: como o Botafogo tirou Gerson do Flamengo
Essa é do tempo em que não havia a Ponte Rio-Niterói e jogador que morava em Niterói atravessa a Baía de Guanabara de barca e andava de ônibus para treinar em seus clubes. Até mesmo Gérson, que em 1963 já era ídolo do Flamengo e jogador de Seleção Brasileira, apontado como o legítimo sucessor de Didi.
Brigado com o treinador Flávio Costa, que o tirou do time no Campeonato Carioca daquele ano, Gérson ficou sem ambiente no clube e foi conversar com o então presidente Fadel Fadel. Num rompante, Fadel Fadel, que apoiava Flávio Costa na decisão de afastar o melhor jogador da equipe, encerrou a reunião com Gérson em tom de desafio.
- Quem depositar 150 milhões leva o seu passe!
Gerson deixou a Gávea desanimado - afinal era muito dinheiro. No caminho entre a sede do clube, na Zona Sul do
Rio de Janeiro, e o ponto de ônibus na Avenida Bartolomeu Mitre, em que ele embarcaria para a Praça XV, havia várias oficinas (existem até hoje). Em uma delas, esperando o conserto do carro, estava Quarentinha, atacante do Botafogo.
Gerson contou ao companheiro o que acabara de ouvir do presidente do Flamengo. Quarentinha não perdeu tempo - seu carro já estava pronto.
-Entra aí, vamos conversar com o presidente do Botafogo.
Quarentinha levou Gerson diretamente para a sede do Botafogo, em General Severiano. A conversa com o diretor de futebol Renato Estelita foi rápida. Naquele mesmo dia, o Botafogo, que havia negociado Amarildo para o Milan, depositou os 150 milhões pedidos pelo presidente do Flamengo.
No dia seguinte, Fadel Fadel se arrependeu - estava vendendo um ídolo da torcida para o grande rival do Flamengo na época.
- Como não tinha documento assinado, o Fadel Fadel quis desfazer a transação. Só que aí não teve mais jeito. Falei
para ele que não queria mais jogar no Flamengo e fui treinar no Botafogo no mesmo dia.
O restante da história é conhecido. Gérson se transformou em destaque do Botafogo bicampeão carioca em 1967-1968 e, toda vez que enfrentava o Flamengo, tinha excelentes atuações. O motivo da briga entre Gérson e Flávio Costa acontecera antes, no jogo decisivo entre Flamengo e Botafogo pelo Campeonato Carioca de 1962.
Na decisão do dia 15 de dezembro de 1962 (um sábado), o Flamengo tinha o ataque mais positivo do campeonato e jogava pelo empate para ser campeão. Mas, além de uma equipe superior, o Botafogo tinha Garrincha. Flávio Costa, então, tirou Gérson do meio-campo e o pôs na ponta-esquerda, para ajudar a marcar Garrincha, que naquele ano tinha sido o melhor jogador da Copa do Mundo do Chile e o maior responsável pelo bicampeonato da Seleção Brasileira. Gérson tinha certeza que a estratégia não daria certo. Ele explica por que.
- Para me passar para ponta-esquerda, o Flávio tirou o Joel e pôs o Nelsinho no meio-campo, no meu lugar. Como o
Nelsinho era um jogador com características de marcação, o mais lógico seria escalá-lo, e não a mim, para ajudar a
marcar o Garrincha.
A mudança de Flávio Costa não deu certo mesmo. O Botafogo venceu por 3 a 0 e foi bicampeão carioca em um Maracanã lotado, com 146.287 torcedores. Garrincha deu um show de bola, marcou o primeiro, o terceiro gol e foi o
autor da jogada do segundo, que o zagueiro Vanderlei fez contra.