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História - A origem do futebol de MS

Ricardo Pereira - 04 de dezembro de 2006 - 07:03

Mato Grosso via o futebol nascer oficialmente em 30 de agosto de 1938, com a fundação da LEMA – Liga Esportiva Municipal de Amadores, que mais tarde passaria a se chamar LIGA ESPORTIVA MUNICIPAL CAMPOGRANDENSE (LEMC), que durou 40 anos, marcados pelo sucesso do futebol.
A exemplo de Campo Grande, Corumbá também praticava as mais variadas modalidades de esporte e ao mesmo tempo se organizava juridicamente, fundando a Federação Mato-grossense de Desportos, tornando-se entidade “máster”, até 1914, quando Getúlio Vargas estabeleceu as primeiras bases para a organização do desporto em todo o país, tirando o controle esportivo de Corumbá e passando para a capital de Cuiabá.
Era o início do sofrimento do futebol no sul do Estado. A confecção da lei não observava detalhes como os fatores geográficos brasileiros. Mato Grosso estava com uma distância de 700 Km de sua mais importante cidade do interior, que era Campo Grande. Não havia estradas nem telefones, prevalecendo rivalidades e bairrismos.
Entretanto, apesar de todos os percalços, as dificuldades foram sendo superadas. Foram formando-se comissões para resgatar o futebol que havia sido abandonado pelo norte. Uma dessas comissões, formada por Elias Gadia e Radio Maia, chegou até o Rio de Janeiro, fazendo sugestões e solicitações no intuito de buscar soluções para o futebol.
Grandes nomes passaram pela presidência da Liga e todos, sempre, lutaram com abnegação para superar os obstáculos da caminhada pelo esporte.

O PRIMEIRO CONGRESSO ESPORTIVO
Foi com alegria e entusiasmo que Campo Grande recebeu a notícia de que sediaria o I Congresso Esportivo, que se realizaria em setembro de 1963. Os dirigentes campo-grandenses se envolveram totalmente nos preparativos para o evento, afinal, além de ser a primeira vez que a cidade morena recebia um congresso de esportes, o presidente da Federação Nacional estaria em Campo Grande, no Centro Beneficente Português, local das atividades.
O ambiente era de festa. O Aeroporto Antônio João recebia inúmeros desportistas, ansiosos para dar as boas vindas ao presidente. E foi no dia 18 de setembro, que o Centro Português ficou lotado com os desportistas. Autoridades e importantes nomes do futebol estadual e nacional: representantes de cidades como Jardim, Corumbá, Três Lagoas, Dourados e Bela Vista.
O sucesso do evento foi tamanho que, no segundo dia de reunião, já havia sido marcado o II Congresso, que aconteceria em janeiro, dessa vez em Dourados. Discutiu-se também a realização dos campeonatos integrados. Era a profissionalização do esporte na região. O final do Congresso foi marcado por uma renovação nas esperanças dos participantes. Era a nova fase do futebol regional.
Entretanto, na primeira semana do mês de janeiro, tem-se a notícia, vinda de Cuiabá, através de um telegrama, que o Presidente e o Vice-Presidente da Federação haviam sido afastados por cometer irregularidades. A dúvida pairava na mente de todos.
Não se sabia ao certo se o verdadeiro motivo do afastamento era esse. Cogitava-se que a razão autêntica era o ciúme e o desejo de vingança pelo primeiro congresso ter sido realizado na região sul. Era o fim das esperanças e o retorno do distanciamento da capital com o futebol no sul. Mas a persistências dos dirigentes não parou por aí.

UMA NOVA FASE
No ano de 1967, o Estado era marcado por um governo que, além de ter nascido no sul, preocupava-se com o esporte. A LEMC, formada por uma equipe homogênea, tinha como presidente Levy Dias. Foi no final da década de 60 que um grande sonho começa a ser idealizado: a construção de um estádio.
Possuir um estádio era uma questão de honra, pois os jogos aconteciam de forma amadora no Belmar Fidalgo. A idealização do estádio exigia empenho e dedicação em campanhas de sensibilização junto à população e ao governo. O início da construção do Morenão veio trazer uma nova época para o futebol. Época de otimismo, de esperanças, de uma nova mentalidade no esporte estadual.
Os times escolhidos para inaugurar o Morenão, em 1971, Flamengo e Corinthians, abrilhantaram o evento, pois em Campo Grande só havia times amadores. O tão sonhado estádio começava a sediar campeonatos importantes.Os primeiros times estaduais a se profissionalizarem foram o Operário Futebol Clube e o Esporte Clube Comercial, que passaram também a participar dos campeonatos nacionais.
Após a profissionalização dos clubes, todos os campeonatos foram vencidos pelos times de Campo Grande, mostrando a força e evolução conseguida depois de anos de batalhas.

A Diretoria da LEMC lutou e conseguiu o "Morenão". Levy Dias, Elias Gadia, Alcídio Pimentel, José Borges de Barros, Cid Pinto Barbosa, Gilberto Santiago, Tenente Ubaldino, Mario Mendonça, Valdir Cardoso, Benedito Farias, José Sebastião da Silva e outros, realmente uma "seleção" que não podia perder.

NASCE A FEDERAÇÃO
Um grupo de trabalho deu início a uma série de reuniões sigilosas com a idéia de criar uma instituição, que seria a Federação para Mato Grosso do Sul. As reuniões eram realizadas, geralmente, em fundos dos quintais de algumas residências. Entre uma reunião e outra, surge a idéia de fazer um Estatuto para a futura Federação.
Em 1977, nasce o Estado de Mato Grosso do Sul, tendo Campo grande como sua capital. E com isso, surge também a oportunidade de deslanchar a Federação.
Dentre muitas reuniões, uma realizada na residência do então presidente do E.C. Comercial decidiu que a assembléia geral de fundação seria no dia 10 de dezembro.
A expectativa era grande. Já se passavam 40 anos de um trabalho árduo em prol do futebol e do esporte. Mesmo cansados, a esperança se renovava na mente e no coração de cada idealizador da Federação.
Entretanto, após saber de "estranhas" articulações com ligações esportivas locais, resolveu-se antecipar a data da assembléia para o dia 03 de dezembro. O edital de convocação que circulava nas redações e que foi publicado no dia seguinte causava surpresa tanto para a imprensa quanto para a população. O problema era saber a legalidade do fato, já que o governo de Mato Grosso do Sul só seria instalado no ano seguinte, em 1979.
Dois dias antes da assembléia, um telex ameaça punir as ligas e clubes que participarem do evento. Foi aí que se decidiu convocar uma nova reunião, desta vez na sede o Operário, onde se confirmou a realização da assembléia.
Chega o grande dia. A sede do Clube Atlético Noroeste, onde foi realizada a assembléia, estava lotada. Como era esperada, a opinião geral foi favorável, não havia sido feita nenhuma objeção e, após, colher os votos, todos favoráveis, é declarada a fundação da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. Marcelo Miranda, que era o prefeito naquela época, estava presente, bem como presidentes das ligas de cidades do interior, representantes da Câmara Municipal, dirigentes de clubes, entre outros.
Um sonho estava sendo realizado e, ao contrário do que parecia, não era o fim de um trabalho, mas a continuação de uma luta que já vinha há quatro décadas. Aí o motivo das lágrimas e da alegria incessante.
Na segunda-feira, o Jornal Correio do Estado estampava a manchete: “Federação foi criada: o futebol liberta-se“.

A sede do Clube Atlético Noroeste Foi pequena para acolher os deportistas, mas tudo foi realizado dentro dos princípios da ordem e da democracia.

A NOSSA FEDERAÇÃO DE FUTEBOL NASCEU LIVRE, NESTE DOMINGO.


Apesar de mais uma tentativa de boicote do vitalício e inexpressivo interventor da Federação Mato-grossense de Desportos, foi criada num domingo, ontem, a Federação de Futebol do Mato Grosso do Sul, que nasceu livre com o apoio de desportistas, de vereadores e do próprio prefeito Marcelo Miranda, que compareceu à reunião histórica para hipotecar o apoio da municipalidade e garantir que estará empunhando essa nova bandeira da liberdade esportiva sempre que necessário.
A assembléia foi iniciada às 9,15 horas, na sede do Clube Atlético Noroeste e reuniu representantes de 22 agremiações futebolísticas amadoras, três profissionais (Operário, Comercial e Sociedade Esportiva Industriaria) e cinco ligas municipais. Depois de criada a FFMS, aprovados os estatutos sociais, foi eleita a primeira diretoria provisória, tendo como presidente Heldir Paniago, ex-presidente do Operário.
Hoje o primeiro presidente da FFMS segue para o Rio de Janeiro, levando a ata de criação da nova Federação bem como os estatutos para que sejam submetidos à apreciação da Confederação Brasileira de Desportos e do Conselho Nacional dos Desportos, para a homologação oficial. Caberá a CBD e ao CND decidir, também, se a diretoria ontem eleita será apenas provisória ou se deverá ser mantida.
No sábado, na tentativa de mais um boicote, chegou a Campo Grande o interventor Carlos Orione, que se pretende radicar-se no Mato Grosso do Sul após a divisão e continuar uma interventoria vitalícia. Ele, entretanto, foi mal sucedido em sua tentativa e embarcou novamente para Cuiabá ao meio dia de ontem, certo de que sofreu a sua grande derrota, mas uma vez, prejudicar nosso Estado. Sua presença em Campo Grande, inclusive, nem foi anotada pelos desportistas que criaram a FFMS.

FEDERAÇÃO FOI CRIADA: O FUTEBOL LIBERTA-SE


A Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul - FFMS - já existe desde as 10:20 horas de ontem, quando foi criada em assembléia geral, realizada no salão de festa do Clube Atlético Noroeste, com a presença de 22 clubes amadores, três profissionais e cinco ligas (à exceção da LEMC, que não teria direito a voto). Apesar da nota oficial divulgada na sexta-feira pelo interventor na FMD, Carlos Orione, proibindo tal manifestação e ameaçando os clubes e ligas filiadas, houve a união de todos os desportistas sul-mato-grossense e a federação foi criada, libertando o futebol das garras da Federação Mato-grossense de Desportos.
Agora, resta apenas a homologação da CBD e CND. Após a criação da nova federação, os estatutos sociais, elaborados com a orientação do jurista esportivo Valed Perry, foram aprovados por unanimidade, sem que houvesse discussão de cada um dos 90 parágrafos. Em seguida, também por aclamação, foi eleita a primeira diretoria (provisória ou não, cuja definição depende da CBD e CND) da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, tendo como presidente o desportista Heldir Ferrari Paniago, um dos responsáveis pelo movimento que originou na criação da nova entidade.
Exatamente às 10:12 horas após o uso da palavra do ex-jogador e ex-técnico Arlindo Caldas, o presidente de mesa, coronel Paulo Américo dos Reis, declarava criada a FFMS. Todos os desportistas presente à assembléia geral, emocionados, se levantaram e bateram palmas. Alguns se abraçavam; outros, como o secretário da mesa e integrante do movimento, Cid pinto Barbosa, não se conteve e chorou. "Tinha que me emocionar. Afinal conseguimos realizar um sonho, apesar de terem existido alguns camaradas (entre os quais Orione) que procuraram bagunçar nosso trabalho, em elaboração há um ano", disse Cid, depois.
Após ser declarada criada a nova federação, houve uma pausa de meia hora. A última etapa da assembléia geral foi à aprovação dos estatutos sociais e eleição da primeira diretoria. Por proposição do presidente da Liga Esportiva Corumbaense, Ubiratan de Campos, os estatutos foram aprovados por unanimidade sem que houvesse a necessidade de se discutir parágrafo. Em seguida, foram apresentadas duas chapas para concorrer à primeira diretoria - uma dos amadores e outra dos clubes profissionais de Campo Grande -, ambas, porém, iguais. Por isso, não foi necessário o voto secreto e o presidente Heldir Paniago foi eleito por aclamação.
O prefeito Marcelo Miranda assistiu a assembléia geral, permanecendo no recinto até a criação da FFMS, dando seu apoio à iniciativa dos desportistas do Sul. Marcelo fez parte da mesa, que esteve composta ainda pelas seguintes pessoas: Paulo Américo dos Reis (escolhido para presidente por dirigir o Operário, clube mais antigo de Campo Grande), Cid Pinto Barbosa (secretário), Waldir Cardoso (representando a Câmara Municipal), Ubiratan de Campos (Liga de Corumbá), Jamil de Campos Aum (Liga de Dourados), Neide Castilho (Liga de Coxim), Maurício Duailibi (Liga de Camapuã), Felisberto D'Ávila Neto (SEI), Albino Coimbra (Comercial), José Carlos da Silva (Internacional) e Sebastião Sérgio de Melo (Coríntians).
A primeira diretoria eleita é composta dos seguintes desportistas: presidente, Heldir Ferrari Paniago; 1º vice-presidente, Alfredo Zamlutti Júnior (de Corumbá); 2º vice-presidente, Jamil de Campos Aum (de Dourados); Conselho Fiscal: Nagib Ouríveis, Júlio da Silva e José Borges de Barros, efetivos, e Hilton Cassiano (Aquidauana), Edmundo da Costa Neto e Haroldo Nascimento Silva, suplentes. A federação vai funcionar, provisoriamente, nas dependências do Clube Atlético Noroeste. As cores de sua bandeira são as mesmas do Mato Grosso do Sul, tendo ao centro um triângulo com as iniciais FFMS.
Fonte: CORREIO DO ESTADO - ANO XXV - 04 DE DEZEMBRO DE 1978.

COMO UM GRITO DE INDEPENDÊNCIA
A criação de nossa federação, pelos obstáculos que surgiram e pela importância para nosso futebol, representa para todos nós o mesmo que representou para o Brasil a sua independência (Felisberto D'Ávila Neto, presidente da SEI, durante a palavra livre).
Logo que a sessão teve início, às 9:15 horas, e composta a mesa, foi dada a palavra livre e as críticas ao interventor Carlos Orione foram a maiores possíveis, conforme se esperava. A começar pelo presidente do Comercial, Albino Coimbra, que afirmou que "O futebol do Sul foi lesado pelas pessoas do Sr. interventor".
Qualquer sansão que venha a surgir receberemos com satisfação porque estaremos beneficiando nosso futebol. O que não podemos é aceitar as regras do jogo da FMD, partindo de uma pessoa (Orione) que nada fez pelo futebol do Sul e sim em benefício próprio. Uma das metas da nova federação é incentivar o prata da casa e não podemos começar importando um presidente para a mesma - concluiu o dirigente comercialino.
O vereador Waldir Cardoso também foi severo: "É chegado o momento de acabarmos com o abuso dessa interventoria", lembrando que momentos antes da assembléia geral foi à casa do veterano desportista Elias Gadia (que não pode comparecer a reunião porque está doente) e falava em nome daquele que foi muitos anos secretários do Operário e da LEMC.
Falaram também o presidente da Liga de Dourados, Jamil de Campos Aum, afirmando que "Não tememos qualquer punição da Federação Mato-grossense de Desportos"; o ex-jogador e ex-técnico no amadorismo, Arlindo Caldas, que lembrou até de uma passagem sua pela seleção do Estado, em 1952, quando "Era negado até refeições para o pessoal do Sul"; o presidente da Liga de Corumbá, Ubiratan de Campos, que reclamou do abandono que sua cidade teve até agora, em termos de apoio da FMD; e a vereadora Nelly Bacha, que pediu apoio ao futebol amador.
Pessoas alheias àquele movimento também assistiram a assembléia, como um vendedor de bilhetes, em cuja pasta, por coincidência ou não, continha uma frase da seita Seicho-No-Ei: "Vejam Eu nasci. Felicidades vêm a mim". No final da assembléia, já eleito primeiro presidente da Federação de futebol do Mato Grosso do Sul, Heldir Ferrari Paniago lamentava:
Não entendemos porque o desporto não houve a mesma união que imperou em outras áreas após a criação do Mato Grosso do Sul. Se isto que acabamos de fazer aqui é um ato de rebeldia, podem ter certeza os senhores que é uma rebeldia consciente.
Fonte: CORREIO DO ESTADO - ANO XXV - 04 DE DEZEMBRO DE 1978.

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