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Haiti: situação dos desabrigados continua crítica

Keite Camacho/ABr - 26 de setembro de 2004 - 15:00

Sem luz elétrica, água potável, comida, muitas vezes sem ter o que vestir além da roupa do corpo e sem ter para onde ir. Dos 200 mil habitantes da cidade haitiana de Gonaives, 140 mil foram seriamente afetados pela tempestade tropical Jeanne. Destes, mil morreram e outros mil estão desaparecidos, sendo considerados mortos pelo governo do Haiti. Com a forte chuva, a cidade ficou alagada e há famílias que hoje – sete dias após a tormenta – continuam ilhadas, sem informações e acesso à alimentação. Com o passar dos dias, a água começa a baixar e alguns corpos a aparecer.

Segundo o general Heleno Pereira, comandante da Missão de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU), uma campanha vem sendo feita pedindo à população para que não beba a água contaminada. No entanto, muitos rádios – veículo mais utilizado pela população – se perderam com a enchente, o que dificulta a comunicação com as pessoas. O boca a boca acaba sendo o melhor veículo de comunicação.

“A situação continua crítica. Mesmo quem não foi afetado também passa fome, sede e sofre com a falta de medicamentos e assistência médica, porque a estrutura governamental já era muito fraca e, depois da tragédia, praticamente inexiste. Ficamos dependendo da ação das Nações Unidas, de agências internacionais – que estão trabalhando na área –, e das organizações não-governamentais”, contou.

Com a água contaminada, pessoas feridas que não procuraram o socorro médico, seja pela distância ou incapacidade de acesso aos postos (em números reduzidos), estão apresentando gangrenas e sofrendo amputações, sobretudo as crianças. “Nem gosto de falar”, desabafou. Pereira contou que, por conta do isolamento, algumas pessoas se automedicaram ou nem se medicaram, mesmo por ignorância.

“O contato com a água, de péssima qualidade, banhando aquela ferida, virou gangrena. Quando já estão no limite, vão procurar ajuda e a solução precisa ser extrema”. Segundo o general, por conta da água, a diarréia já é algo comum. A luta agora é para evitar epidemias ou doenças como a leptospirose, hepatite ou cólera.

Segundo Pereira, o que mais preocupa é o acesso da capital Porto Príncipe para Gonaives. O general teme a interdição da via por conta do tráfego de caminhões pesados que levam comida e água para a população. “Basta que um veículo tenha uma pane para que fique interrompida. O acesso por helicóptero continua a ser feito mas não é econômico nem suficiente para abastecer a todos os flagelados. Além disso, continuamos com missões em outros lugares e Gonaives é apenas uma cidade do Haiti”, disse.

O general conta que, como todas as estradas do país, a que leva a Gonaives está em péssimas condições e o tráfego é de alto risco. Com a chuva, houve ainda uma piora na via. De 140 quilômetros, é percorrida em nove horas. Além disso, com a ajuda de países como Chile, Argentina, Cuba, Brasil e com as que o comandante da Missão espera chegar ao longo da semana, a dificuldade será manter o fluxo constante para a cidade, por falta de caminhões disponíveis para levar a quantidade necessária.

“Estamos acostumados a trabalhar, em caso de grandes enchentes no Brasil, com 20 mil flagelados, sendo difícil manter este número de pessoas alimentado e com água. Aqui, com 140 mil – mesmo assim esta cifra é modesta, porque toda a população se considera carente – temos certeza que, em alguns locais, esta água e esta comida ainda não chegaram, principalmente nos tetos das casas, onde se encontram algumas famílias, em virtude das enchentes. Além disso, há pessoas tão fracas que não têm condições de chegar aos postos de distribuição e enfrentar uma fila para receber o alimento. Estamos no máximo da nossa tentativa de sermos eficazes, com as limitações naturais do problema”, revelou.

O general Heleno criticou a lentidão na chegada da ajuda humanitária ao Haiti mas considerou que a burocracia é a grande vilã. “Não vimos acontecer as obras de vulto que seriam projetos de impacto rápido. A ajuda humanitária começou em alguns lugares mas é lenta, porque o grande aporte de recursos será de organismos internacionais e de países que, na reunião de Washington, decidiram contribuir para melhorar a situação no Haiti. Isso é uma burocracia difícil por conta de todas as previsões de desembolso financeiro, com a necessidade de abrir concorrência”, contou.

Enquanto as melhorias não chegam, o general apela para a ajuda divina: “Pedimos que Deus ilumine a população de Gonaive para que mantenha a calma nos postos de distribuição e que dê força ao nosso pessoal para que continue se superando. Para as nações, pedimos que continuem a fazer doações, para que possamos manter o fluxo de comida e água em nível razoável”.

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