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Grupo ajuda pais a aceitar filhos homossexuais

Ana Luiza Zenker , Agência Brasil - 08 de junho de 2008 - 17:44

Brasília - Mãe de um rapaz homossexual Edith Modesto admite: “Eu não conseguia aceitar meu filho”. As angústias e dúvidas iniciais, entretanto, acabaram se transformando em uma iniciativa que já dura 15 anos: o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH).

Edith diz que o intuito é fazer com que o grupo seja um espaço para que mães e pais possam discutir e conversar com outras pessoas que enfrentam a mesma situação. "São mães que ainda não aceitam os seus filhos, nós nos identificamos umas com as outras, a gente desabafa, troca idéias, estuda o assunto", conta Edith.

"São mães que estão desesperadas porque têm filhos homossexuais, mães que falam em suicídio, que ficam muito doentes, que não têm mais vontade de comer, têm somatização desse sofrimento", completa.

Edith descobriu a homossexualidade do filho quando ele completou 20 anos. Ela diz que começou a desconfiar que “alguma coisa não estava certa” e resolveu questioná-lo a respeito de mulheres, já que nunca tinha visto uma namorada. A resposta veio em forma de choro. Segundo ela, um dos momentos mais difíceis de sua vida. "Foi muito difícil, eu fiz terapia, ele fez terapia, foi um caminho muito difícil", conta.

Para Edith, o preconceito é um dos fatores que mais contribui para que as pessoas não estejam preparadas para aceitar filhos que não sejam heterossexuais. Segundo ela, uma das principais dificuldades no processo de aceitação é a vergonha de encarar vizinhos, familiares e saber que haverá comentários sobre o assunto.

"A vergonha acompanha o processo de aceitação do começo ao fim, a última coisa que termina é a vergonha", diz.

Para ela, o caso das mães é muito peculiar porque é um sofrimento ligado ao lado passional e não ao racional. Por esse motivo, segundo Edith, mesmo que se aceite que a homossexualidade é uma coisa natural, uma condição humana, não será tão fácil que uma mãe aceite a situação do filho ou da filha.

"Entra tudo aquilo, os meus sonhos, do casamento da minha filha, que ia entrar com o pai de braço dado, vestida de branco, o meu filho, que eu ia ter uma nora, ia ter netinhos, com nome do avô".

Além do trabalho feito com os pais para tentar amenizar o processo de aceitação da homossexualidade ou transexualidade, ela também cita o Projeto Purpurina realizado em São Paulo e voltado para adolescentes que começam a descobrir suas preferências sexuais.

"É uma coisa muito triste porque às vezes o filho está sofrendo muito para se aceitar, e precisaria do apoio da mãe, mas ele não tem esse apoio, porque a mãe está precisando de apoio".

A falta de ajuda em casa praticamente impossibilita uma defesa sustentável contra a discriminação na rua, seja na escola, na igreja ou no trabalho. Edith revela que, por causa da pressão que sofrem, mais de 10% dos assistidos pelo Projeto Purpurina já tentaram o suicídio.

Para tentar difundir mais informações para os pais de homossexuais, a escritora Flávia Schüler lançou durante a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que termina hoje (8) em Brasília, o livro “Me aceite”. A publicação trata da homoafetividade na infância.

O propósito do livro é orientar os pais e professores a reconhecer os sinais de homoafetividade, "no sentido de começar a orientar essa pessoinha para que venha a ser um cidadão bem construído e não esse resultado que nós temos tido aqui hoje de pessoas que tenham que se submeter a tantas coisas dolorosas, para que possa valer esse movimento".

Do livro também está nascendo um centro de apoio e orientação para pais, descrito no livro ainda como ficção, mas que está sendo tirado do papel. "Já estou com o projeto em fase de finalização", conta.

A idéia do projeto é evitar problemas psicológicos nas crianças, a partir do momento em que elas sejam e se sintam respeitadas pelos seus familiares e por outras pessoas que convivem com elas. "Esses indivíduos, bem canalizados, só vão contribuir para a sociedade, para o progresso na nação, para o mundo. O que a sociedade está fazendo é pisotear em cima dessas pessoas", conclui.

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