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Governo federal redescobre corredor bioceânico

João Prestes - APn - 04 de fevereiro de 2004 - 09:40

Uma ferrovia com 4.269 quilômetros parte de Santos, no litoral paulista, atravessa quatro países passando por regiões altamente produtoras como o interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul, aventura-se pelo Pantanal, escala a Cordilheira dos Andes e desliza pelo deserto mais seco do mundo, no Atacama, até chegar a Antofagasta, na costa chilena.

Esse é o primeiro corredor ferroviário bioceânico da América do Sul, redescoberto por uma equipe do Ministério dos Transportes, que fez o percurso de trem em mais de uma semana, fotografando, anotando todos os dados técnicos para subsidiar o 1º Encontro Internacional reunindo autoridades e empresários do Brasil, Argentina, Chile e Bolívia, que será realizado hoje e amanhã, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande, para tratar do assunto.

O evento vai selar o compromisso das autoridades desses quatro países na recuperação e operacionalização desse corredor ferroviário, que além da importância estratégica de integração física do continente e de sua utilização para o turismo, passará a ser rota de escoamento da produção do Mercosul com destino ao mercado asiático via portos do Chile. “A distância que separa o Brasil da Índia e da China, por exemplo, será encurtada em mais de sete mil quilômetros com a Rota Bioceânica. Isso significa custo menor de transporte e produtos mais competitivos”, destaca o secretário de Estado de Infra-Estrutura e Habitação, Carlos Augusto Longo Pereira.

As condições físicas do corredor ferroviário serão apresentadas pela missão do Ministério dos Transportes que fez o percurso. Longo Pereira salientou que o pior trecho é o brasileiro, entre Bauru (SP) e Corumbá, que, entretanto, já está com recuperação garantida por um consórcio de empresas liderado pela Brasil Ferrovias e que reúne também a Rio Tinto, Vale do Rio Doce, Cargil e Ordebrecht. Serão investidos R$ 80 milhões nas obras – recursos todos da iniciativa privada – e a previsão é concluir os trabalhos ainda nesse ano.


Partilha – Quase metade (41,51%) da extensa ferrovia é brasileira. De Santos (SP) a Corumbá são 1.772 quilômetros; de Corumbá a Pocitos, divisa da Bolívia com Argentina, mais 1.170 quilômetros; de Pocitos a Socompa, na fronteira da Argentina e o Chile, outros 987 quilômetros; e de Socompa a Antofagasta, na costa do Pacífico, mais 340 quilômetros.

A distância parece ser grande, mas nem se compara ao longo caminho que os produtos brasileiros precisam fazer para circundar o litoral nordestino, atravessar o Canal do Panamá e daí navegar pelo Pacífico rumo à Ásia. Só na costa brasileira o navio percorre mais de seis mil quilômetros, partindo de Santos (SP) até o extremo do Amapá. De lá a embarcação continua costeando as Guianas, Suriname, Venezuela, Colômbia, cruza o Canal do Panamá e desemboca no Pacífico, jornada de outros cinco mil quilômetros.

“Só essa vantagem já justificaria todo o investimento necessário para recuperar a malha ferroviária e deixá-la em perfeito estado de operacionalização. Mas temos ainda outro fator talvez mais importante, que é a integração dos países sul-americano, um sonho tão antigo quanto a descoberta do continente e que encontra o melhor momento para ser realizado”, observou o procurador Heitor Miranda dos Santos, um dos organizadores do Encontro.


Turismo – Além do apelo econômico e integracionista, o corredor ferroviário promete se transformar rapidamente em concorrido roteiro turístico por cortar as mais belas e diversas paisagens da América do Sul. Da deslumbrante beleza do Pantanal, o turista, literalmente, “vai às nuvens” ao cruzar os Andes por trilhos que desafiam as leis da física e cortam a cordilheira em altitude de 4.750 metros. Em território chileno a estrada de ferro passa pelo deserto do Atacama, que não vê chuva há 10 mil anos, o lugar mais seco do mundo, e, por essa particularidade, possui paisagens únicas.

Um trem turístico partindo de Campo Grande rumo a Antofagasta já está nos planos do governo de Mato Grosso do Sul, que só aguarda a recuperação da ferrovia para investir na idéia. “Vamos começar pelo Trem do Pantanal, cujo projeto já está definido e pronto para ser implementado. Mas o objetivo final é estender a viagem pelos Andes e Atacama. Imagina um turista conhecer essas belezas todas e ainda poder visitar Machu Pichu, no Peru?”, indaga Carlos Porto, diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul.

A viagem que promete ser inesquecível está começando a deixar de ser sonho. “O dia 4 de fevereiro será um marco na história de Mato Grosso do Sul e da América do Sul como um todo. Será o começo de uma nova era, em que deixamos de olhar para o Atlântico, de onde vieram os descobridores há 500 anos, e passamos a nos conhecer”, acredita Heitor Miranda.

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