Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Sábado, 20 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Fiocruz vai pesquisar jacarés no Pantanal do MS

Ariosto Mesquita Duarte - 10 de dezembro de 2008 - 10:23

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai desenvolver estudos e pesquisas sobre a população de jacarés-do-Pantanal no Mato Grosso do Sul, envolvendo trabalhos de mestrado e doutorado na área. Um termo de cooperação neste sentido será firmado nas próximas semanas com as fazendas conjugadas Cacimba de Pedra-Reino Selvagem, localizadas na região do Pantanal de Miranda. As fazendas desenvolvem, há 19 anos, o projeto científico/econômico Jacaré-do-Pantanal Precoce contando hoje com uma população de aproximadamente 12 mil animais em confinamento e mais 400 animais adultos em ambiente silvestre para reprodução.

A cooperação técnica-científica entre as duas partes permitirá o estudo de prevalência e transmissão natural do protozoário parasita "Hepatozoon Caimani" sobre o "Caiman crocodilus yacare", denominação científica para o jacaré-do-Pantanal. Para este trabalho, as fazendas cederão animais sadios para o estudo, além de fornecer equipe de apoio a campo e hospedagem para os pesquisadores. A estrutura da Cacimba de Pedra-Reino Selvagem envolve uma pousada com mais de 40 leitos para o recebimento de turistas, sobretudo europeus, interessados em conhecer a região e o rebanho de jacarés, além da gastronomia típica, com dezenas de pratos a base de carne de jacaré.

O convênio, com duração de dois anos, determina que as fazendas forneçam, sem ônus, à Fiocruz, 50 filhotes saudáveis, com idade entre seis e 12 meses, para a realização de experimentos. Estes animais serão transportados para a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) para as pesquisas. O documento também estabelece que a Fiocruz poderá capturar pelo menos 50 animais adultos da área natural de reprodução, a cada três meses, para a obtenção de dados morfométricos (peso, tamanho e sexagem) e de amostras sanguíneas. Neste caso o trabalho deverá ser feito na área das fazendas e dentro e fora do período reprodutivo.

As fazendas terão acesso às informações resultantes das pesquisas. O convênio deverá ser firmado em ato, provavelmente no mês de janeiro. São responsáveis pelo acordo os pesquisadores Ricardo Lourenço de Oliveira e Lúcio André Viana Dias, do Laboratório de Transmissões de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz e o médico veterinário Gerson Bueno Zahdi, um dos proprietários das fazendas e responsável técnico pelo projeto científico/econômico Jacaré-do-Pantanal Precoce. A atividade nas propriedades rurais permite o desenvolvimento e abate de jacarés com idade entre 12 e 15 meses, com o aproveitamento integral da carne e do couro.

A pesquisa

Embora já existam registros de 327 espécies do gênero Hepatozoon – infectando até mamíferos – poucos trabalhos foram desenvolvidos no mundo em relação ao levantamento de seus vetores silvestres e do relacionamento entre parasita-hospedeiro. No caso do vertebrado silvestre (como o jacaré) a carência é ainda maior em função das dificuldades de captura e das baixas densidades para a realização de experimentos no nível individual. As poucas informações sobre presença de parasitas em populações naturais estão muitas vezes relacionadas à ocorrência de doenças que também infectam o homem e animais domésticos.

O estudo da Fiocruz vai investigar os padrões de abundância dos parasitos dentro da população do hospedeiro e as conseqüências da interação entre parasita-hospedeiro. Em uma primeira fase serão coletadas e analisadas amostras de sangue de 50 jacarés adultos da área de reprodução das fazendas Cacimba de Pedra-Reino Selvagem. O objetivo é verificar possíveis relações entre a carga parasitária e o estado reprodutivo do animal. A coleta será realizada em períodos entre dois e três meses. Os animais serão marcados para identificação. Na segunda fase 50 filhotes serão infectados experimentalmente com o objetivo de determinar os vetores naturais do parasito.

Os animais das fazendas Cacimba de Pedra-Reino Selvagem foram desenvolvidos ao longo de 19 anos através de seleção e melhoramento genético e hoje é o único rebanho precoce de jacaré-do-Pantanal no mundo, considerado de altíssima qualidade e de amplo controle sanitário. A Fiocruz, - criada em 1900 então com o nome de Instituto Soroterápico Federal - é vinculada ao Ministério da Saúde e é considerada hoje a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina. Conta hoje com mais de 7,5 mil servidores e atua, dentre outras coisas, no desenvolvimento de pesquisas; prestação de serviços hospitalares e ambulatoriais de referência em saúde; fabricação de vacinas, medicamentos, reagentes e kits de diagnóstico; ensino e a formação de recursos humanos; informação e a comunicação em saúde, ciência e tecnologia; controle da qualidade de produtos e serviços; e implementação de programas sociais.

SIGA-NOS NO Google News