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Geral

Fila de transplantes de órgãos no Brasil acumula 60 mil

Irene Lôbo/ABr - 02 de setembro de 2004 - 15:23

Na luta pela vida, nem sempre a medicina mais moderna é suficiente. Para quem está na espera de transplantes, viver depende da solidariedade de um desconhecido e da estrutura de saúde do país. O jornalista Juraci de Jesus Gama, de 56 anos, espera há três anos um doador de rim. Por causa do diabetes, sua função renal está completamente comprometida. Enquanto concedia entrevista, Juraci fazia uma das três sessões de hemodiálise semanais que o ajudam a sobreviver.

Aposentado por invalidez, ele aguarda ansioso o dia em que um novo rim poderá lhe dar uma nova vida. “É necessário uma maior campanha de doação de órgãos. O Hospital de Base, em Brasília, só está fazendo transplante de doadores vivos, os de doador cadáver estão suspensos. Só quem passa por um problema desses sabe como é grande a ansiedade de quem está na fila”, desabafa.

Hoje, existem cerca de 60 mil pessoas à espera por um transplante no Brasil. Apesar de o número de doadores ainda ser pequeno, o Brasil bateu um recorde em 2004: de janeiro a maio, o total de transplantes realizados no país superou em 27,1% o desempenho no mesmo período de 2003. Em números absolutos, foram 8.544 procedimentos até abril deste ano, contra os 4.561 no ano passado – uma diferença de 3.983 transplantes.

Mas a angústia pela espera de um órgão não é a única. As famílias de doadores também vivem o drama de não saber se devem ou não fazer a doação. No último sábado, a família de Jean Claude Holanda de Oliveira, de 27 anos, teve de tomar essa decisão.

Falecido no último sábado num acidente com uma escavadeira, a mãe não pensou duas vezes antes de doar todos os órgãos de Jean. A tia materna, Fátima Holanda, afirma que encontrou dificuldades para doar com rapidez, mas que no final deu tudo certo. “É um pedaço dele que está ficando. Diante de tantas pessoas necessitadas e de tanta tristeza, é uma forma de trazer a alegria de volta a uma outra família”, diz emocionada.

Segundo o coordenador da Central de Transplantes de Brasília, Lúcio Lucas Pereira, é fácil perceber a diferença entre as famílias que doam e as que preferem não doar. No momento da decisão, pesa a confiança no serviço médico e a relação médico-paciente que existia antes da morte do doador.

“Mas infelizmente o número de doadores ainda é pequeno. Não há uma cultura na rede de saúde de notificar os óbitos com possibilidade de doação. Por isso queremos implantar dentro dos hospitais pequenas comissões de transplante, para mudar esse quadro”, ressalta Lúcio.

Capacitar as centrais de doação é justamente a estratégia que o Ministério da Saúde pretende adotar para aumentar o número de transplante no país. O coordenador do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, Roberto Schlindwein, afirma que apenas a solidariedade das pessoas não será suficiente para resolver o problema.

“A doação não depende apenas da solidariedade das pessoas, mas de toda uma estrutura relacionada com a captação de órgãos e a notificação de possíveis doadores. Na tentativa de aumentar o número de doadores e a oferta de órgãos para atender as listas de espera, o ministério tem se empenhado na formação de coordenadores intra-hospitalares, peça fundamental de toda a estrutura do Sistema Nacional de Transplantes”, afirma.

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