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Farc:Mãe recebe diário de filho, que morreu no cativeiro

Júlio Cruz Neto/ABr - 08 de julho de 2008 - 05:31

Bogotá (Colômbia) - Julián Ernesto Guevara era capitão de polícia quando foi capturado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em novembro de 1998, na cidade de Mitú, fronteira com o Brasil. Promovido a major no cativeiro, morreu em janeiro de 2006. Dizem que foi vítima de doença grave, mas não se sabe exatamente o que houve. O corpo nunca foi encontrado. Tinha 39 ano.

A partir de agora, os parentes poderão pelo menos saber o que se passou nos pouco mais de sete anos em que Júllian amargou uma vida de refém. Saber o que ele pensava, fazia, sofria, de quem mais sentia falta, que idéia tinha dos seqüestradores, de seu país. A mãe recebeu hoje o diário do filho das mãos do segundo sargento John Dairo Duran, um dos 15 resgatados quarta-feira passada (2) na cinematográfica operação do Exército colombiano.

A entrega das memórias ocorreu durante missa realizada na Academia de Polícia de Bogotá, em ação de graças pelos quatro policiais libertados, que estavam no local. Mas Emperatriz Castro de Guevara esteve serena do início ao fim, compensando o desconsolo da neta, que não parava de chorar a forma trágica como perdeu o pai. Fez até graça na hora de revelar a idade à reportagem, falando baixinho como se não quisesse ser escutada: 70.

Emperatriz, que vive implorando em vão pelos restos mortais do filho, pediu para dar entrevista só no final, para não atrasar a cerimônia. Disse que queria muito falar sobre o assunto. Mas a polícia não deu chance. Colocou as duas, avó e neta, num elevador e sumiu com elas. O mesmo com os policiais libertados: correria, empurrões e umas poucas palavras roubadas.

"Estou muito contente, muito alegre", afirmou o intendente Armando Castellanos, após alguma insistência, alegando que estava proibido de falar. Se no sapato preto brilhante, no uniforme verde-oliva impecável e na barba rente ele era idêntico aos outros três libertos, Castellanos estava nitidamente mais disperso, menos sisudo, com menos firmeza nas mãos, que não paravam de tremer.

Durante a cerimônia, sem precisar de insistência alguma, pronunciou algumas poucas palavras também, dirigidas a uma senhora que estava a seu lado. "Muy bonito, mama". Foi após um interminável aplauso ocorrido após a seguinte declaração do celebrante: "Ingrid, um sorriso que paralisou o mundo inteiro por um momento, é o nome desta homilia. Aquele é também o sorriso dos demais".

O celebrante também reforçou o vínculo com o governo, assim como ocorreu na missa realizada sábado na Catedral de Bogotá. Disse que o presidente Álvaro Uribe autorizou que se reze o rosário toda quarta-feira no Palácio de Nariño e que a operação de resgate foi realizada enquanto isso acontecia. "A operação foi um milagre, ninguém sonhava em libertar 15 pessoas sem disparar um único tiro", afirmou.

Mas o momento mais emocionante da cerimônia foi quando todas as pessoas que lotaram o salão, incluindo as três galerias, balançaram folhas de papel e lenços brancos, e uma chuva de pétalas de rosas coloriu o chão.

Estima-se que 20 policiais, 11 militares e dez políticos estejam entre os cerca de 700 cidadãos que as Farc ainda mantêm reféns. Um deles é Elkin Hernandez Ribas, tenente de 32 anos seqüestrado desde os 22. Sua mãe, Magdalena Rivas de Hernandez, tem certeza de que ele estará entre os próximos libertados.

"Com o coração na mão, peço liberdade para todos eles. E ao meu filho, se meu escutar por este meio, te peço meu amor, siga com essa galhardia. Te amo, te amamos e aqui continuamos te esperando. Sei que logo você vai estar em meus braços."

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