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Famílias de guarani kaiowá devem sair de fazenda em MS

Marco Antonio Soalheiro, Agência Brasil - 10 de setembro de 2009 - 19:16

Brasília - Termina amanhã (11) de manhã o prazo de 48 horas dado pela Polícia Federal (PF) para que 36 famílias guarani kaiowá da aldeia Laranjeira Nhanderu, no município de Rio Brilhante (MS), deixem pacificamente parte de uma fazenda ocupada por eles há quase dois anos e onde alegam ter vivido seus antepassados. A reintegração de posse foi determinada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3).

De acordo com a unidade da PF em Dourados (MS), agentes vão se deslocar até o local acompanhados de um oficial de Justiça para verificar se os índios cumprirão o acordo. Caso a saída não se efetive, a PF irá planejar uma operação de desocupação da área.

O caso é mais um episódio da luta histórica dos indígenas pelo reconhecimento de seu direito a terras tradicionalmente ocupadas na região. As famílias da aldeia aguardam, assim como diversas outras comunidades do estado, a realização de estudos antropológicos para embasar futuras demarcações a serem feitas pela União.

Recente reportagem especial da Agência Brasil mostrou as origens e consequências do quadro fundiário de extremos que caracteriza Mato Grosso do Sul, onde fazendeiros instalados em terras produtivas - quase todos com títulos legais emitidos pela União ao longo do último século - e índios em condição miserável convivem lado a lado.


A partir de amanhã, os guarani, incluindo 60 crianças e adolescentes, devem ficar acampados à beira da BR-163, em frente à área retomada. A rodovia tem tráfego intenso de caminhões em direção ao sul do país. Segundo o coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Egon Heck, a mudança será um duro golpe para a comunidade.

“Eles estavam em barracos de lona, mas tinham como benefício estar em área ainda com natureza remanescente, sob árvores à beira de um rio Era uma provisoriedade envolta de muita esperança. Agora, volta o assombro da beira de estrada, o sol claudicante sobre as lonas pretas. Vai piorar muito”, descreveu Heck.

O dirigente do Cimi anunciou que representantes de diversos movimentos sociais de Mato Grosso do Sul devem acompanhar a saída dos guarani kaiowá e protestar contra o fato. “É mais uma injustiça que se comete contra uma população que quer apenas o mínimo de condições para sobreviver em uma área que lhes pertence milenarmente”, criticou Heck.

Segundo ele, a esperança de índios e dos movimentos sociais em relação à viabilização da demarcação de novas terras indígenas na região está abalada.

A liminar concedida pelo TRF3 à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul), que barrava a realização dos estudos antropológicos no estado, foi cassada na última semana de agosto, mas, até o momento, os grupos de trabalho não voltaram a campo, sob alegação de ter de aguardar um planejamento de segurança.

“Essa expectativa de celeridade que se tinha já não se sustenta, até porque o cenário de eleições vai se aproximando e tende a dificultar ainda mais o reconhecimento das demandas indígenas”, argumentou Heck.

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