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Faltam silos para armazenar a safra

Famasul Notícias - 03 de fevereiro de 2005 - 15:55

Com a lenta venda da soja, em relação ao ano passado - devido aos preços baixos do grão - deve sobrar produto e faltar local para guardá-lo, pois existe ainda um déficit de 30 milhões de toneladas entre a capacidade estática das unidades armazenadoras e a produção brasileira de grãos.

"Vou ter de colocar tudo debaixo da lona", diz o sojicultor Arnaldo Pradela. Em Formosa do Rio Preto (BA), onde o produtor tem 1,8 mil hectares cultivados com o grão, não há armazéns para guardar a commodity.

Ele até pensou em pedir financiamento bancário para construir um graneleiro, mas os baixos preços do grão fizeram com que adiasse os investimentos. "Não sei o que fazer, se vendo ou espero cotações melhores", diz Pradela, que até o momento não comercializou nada da safra a ser colhida nos próximos dias. No ano passado, ele havia vendido 35% antecipadamente.

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os depósitos existentes hoje no País são suficientes para abrigar 100 milhões de toneladas, para uma produção estimada em 130 milhões de toneladas.

"Mas nem toda a safra é colhida na mesma hora", argumenta Denise Deckers do Amaral, superintendente de Armazenagem e Movimentação de Estoque da Conab. No entanto, ela diz que embora a capacidade tenha aumentado em relação à safra anterior, o ideal seria que o País tivesse armazéns para 20% acima do volume da produção. "Estamos preocupados porque o escoamento da soja poderá ser mais lento devido ao câmbio e ao preço do grão", avalia.

Segundo ela, podem faltar armazéns, sobrar filas de caminhões e isso pode desmotivar o plantio da safrinha de milho. Na safra passada, a capacidade estática era de 93,35 milhões de toneladas, para uma colheita de 119,12 milhões de toneladas (78,36%). Neste ano, apesar da maior quantidade de unidades armazenadoras, só é possível guardar 75% da produção.

Mais unidades nas fazendas

Denise destaca que aumentou o número de armazéns nas propriedades rurais, que hoje respondem por 11% da capacidade estática para 7% na safra passada. "Com armazém próprio, fica mais fácil comercializar a produção", diz o agricultor Guidoni Balestra, de Campo Verde (MT) . Nesta safra, ele vai guardar suas 15 mil toneladas de soja, esperando o melhor momento para a venda do grão.

A mesma sorte não tem o agricultor Rui Carlos Prado, de Campo Novo do Parecis (MT). Com apenas 10% das 6,6 mil toneladas da safra comercializada - ante 40% em 2004 - ele acredita que precisará colocar a soja em caminhões, em busca de armazéns na região. "Deixar na lavoura é que não dá", afirma Prado. O produtor diz que só não construiu um silo porque não tem recursos e a burocracia é grande para conseguir financiamento.

"É preciso facilitar o acesso ao crédito", afirma Othon d’Eça Cals de Abreu, diretor-presidente da Kepler Weber. Segundo ele, na safra atual, o tempo de espera foi de 156 dias para a concessão do financiamento. Com isso, apesar do aumento do volume ofertado para as linhas de financiamento, somente 30% das compras foram feitas com empréstimo.

A demora fez com que na fabricante de armazéns Pajé Industrial, as vendas caíssem 70% nos últimos meses de 2004. "Com os baixos preços da soja, acreditamos que vamos comercializar o mesmo volume do ano passado", avalia Amílcar Rostro Júnior, supervisor comercial da empresa. Diante desse quadro, a Comil Silos espera vender 20% a menos.

A burocracia e o cenário pessimista para este ano fez com que sobrassem recursos para o setor. Dos R$ 700 milhões disponíveis para o Programa de Incentivo à Irrigação e Armazenagem (Moderinfra), apenas R$ 462,7 milhões foram aplicados. Mas nem todo o recurso foi utilizado com a construção de silos e graneleiros.

No Banco do Brasil (BB), 30% do volume do programa foi aplicado na armazenagem. Frederico Piauilino, gerente-executivo de Agronegócios do banco, diz que com outras linhas, a instituição acredita ter financiado a construção de depósitos para 2 milhões de toneladas.

"Nosso compromisso é de, até 2006, aumentar em 8 milhões de toneladas a capacidade estática", diz Piauilino.

Déficit crescente

Governo e representantes do setor de armazenagem são unânimes em afirmar que a falta de armazéns não será generalizada. Em alguns estados, como Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Pará, Maranhão, Piauí e Paraná o déficit será maior.

Outro problema enfrentado é que a falta é maior entre os graneleiros. A capacidade para a guarda de grãos é de 74,7 milhões de toneladas. Outras 25,2 milhões de toneladas são para o depósito de produtos ensacados. "É preciso modernizar esses armazéns", diz Gilson Graniski, secretário-executivo da Associação Brasileira de Armazenagem.

"A velocidade de adequação das unidades armazenadoras é menor do que o aumento da safra e da modernização da colheita", afirma José Carlos Celaro, da Qualitas Consultoria e Serviços.

Segundo ele, além da falta de armazéns para toda a produção, outra dificuldade é a estocagem da safra passada. Em Mato Grosso do Sul acredita-se que 35% da capacidade estática - de 5,7 milhões de toneladas - esteja ocupada com a safra passada. "Certamente teremos problemas no escoamento da produção", diz Anderson Cesconetto, assessor-técnico da Federação da Agricultura do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul).

Em Mato Grosso, 30% dos armazéns têm milho e arroz do ano passado, além do déficit de 8 milhões de toneladas ante à produção. "A situação é apreensiva. Isso vai agravar a rentabilidade do produtor", avalia Homero Pereira Alves, presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato).

Autor:
Gazeta Mercantil


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