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Evandro Pelarin divulga carta de despedida

Redação - 27 de fevereiro de 2015 - 21:37

Evandro Pelarin divulga carta de despedida

O juiz de Direito Evandro Pelarin publicou em seu Facebook uma carta de despedida da comarca de Fernandópolis. Foi promovido para São José do Rio Preto. Leia:

Despedida
Disse a poetisa: despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. A despedida é o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância.
No meu último dia de trabalho nesta cidade, após quase dez anos, oito da noite, fecho os olhos, respiro fundo e concluo: trabalhei aqui intensamente. Com gosto. Com prazer. Com disposição que, às vezes, eu mesmo duvidava. Acertei um pouco. Errei muito. Mas não cansei. Não desanimei. Não desisti. E aprendi demais.
Fernandópolis foi-me uma escola. Parece até estranho dizer isso. Uma cidade ensinar um juiz a trabalhar, a distribuir justiça. Mas foi o que aconteceu comigo. Cidadãos que me paravam nas ruas, nos mercados, na padaria. Que marcavam horário no Fórum para me encontrar. Todos querendo justiça.
Essa sede por algo tão sublime é instigante. Pediam mais rigor na aplicação da lei, atenção a alguns rigores desproporcionais, maior participação nos assuntos da comunidade, além da apresentação de dramas humanos, alguns, terríveis, chocantes, para que ajudássemos a resolver.
O leitor talvez possa imaginar o quanto esse cenário torna-se um aprendizado. Pois meus atendimentos ao público eram numerosos, fora os processos e as audiências normais do dia-a-dia. E as demandas, como disse, sempre foram por justiça. Nada mais, nada menos. Nenhum pedido indecoroso, imoral ou vexatório. Por isso que eu digo e repito: Fernandópolis me ensinou que um juiz deve, primeiramente, ouvir quem o procura, qualquer pessoa, indiferentemente.
Também, sou franco e direto, arrumei tempo para aqueles que me procuraram. Dei um jeito. Claro que cometi falhas, quando, por exemplo, em alguns casos me excedi ou fui impaciente, o que hoje até me arrependo. De modo geral, contudo, ouvi, anotei, respondi, decidir, encaminhei e acompanhei aquilo que não era da minha alçada, visitei lugares e entrevistei pessoas em suas casas, acamadas, enfermas, idosos e crianças com dificuldades físicas e mentais. Adultos e menores dependentes de drogas. Repito: Fernandópolis me fez ser um juiz "da rua", ou seja, ou um juiz que trabalhou muito, podemos dizer assim, fora do Fórum. E por ter contato com tantas pessoas e tantos casos, aprendi que um juiz jamais pode se escandalizar com os problemas a ele apresentados. Muito menos encará-los com preconceitos.
Porém, nada aconteceria se não houvesse o engajamento de autoridades e dos cidadãos em geral. Aqui isso sempre foi abundante. Nunca me disseram não. Ao contrário, sempre tive a companhia de autoridades, associações e cidadãos nesse trabalho "de rua". Fernandópolis me ensinou que a população que pede justiça também se alista para ajudar a fazer justiça, que é uma obra coletiva mesmo.
Chego ao final da minha jornada profissional nesta cidade com lições que marcaram minha vida. E uma delas, talvez a definitiva, é a de que a justiça é um parente muito próximo do amor. Hoje, confesso que não diferencio mais justiça e amor, que me ficaram quase que como sinônimos.
Por isso, meus queridos concidadãos fernandopolenses, eu agradeço muito a todos vocês, que me ensinaram, por meio da justiça, a amar o meu semelhante, de um jeito diferente, que foi me dedicar aos mais necessitados, aos carentes, aos que tinham um fio de esperança em suas vidas, e esse fio, muitas vezes, era a justiça. Aprendi ainda que a esperança tem em sua base o amor, pois aquele que nutre a esperança acredita que o amor virá ao seu encontro, ainda que como uma gota suave em sua dolorida ferida. E quem experimenta ou tem contato com esse tipo de amor, meus amigos, nunca mais é o mesmo.
Despeço-me, portanto, de um amor, com lágrimas nos olhos. Que o bondoso Deus devolva a esta cidade um manto sagrado de bênçãos. É o pedido que faço, diante do grande presente que aqui me deram. Um abraço no coração de cada um de vocês.
- Evandro Pelarin -

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