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Eu grito sim!

Evandro Pelarin - 10 de fevereiro de 2013 - 13:05

Eu grito sim!

Fui questionado, recentemente, em tom negativo, por utilizar o Twitter e o Facebook para expor minhas ideias sobre o direito, sobre as leis e sobre aquilo que penso. Poderia, solenemente, ignorar a provocação. Mas, como defendo algumas causas no direito da infância e da juventude, que reputo importantes, entre elas, o direito do adolescente ao trabalho, a proteção efetiva aos menores de 18 anos (se necessário, com restrições a eles para os locais de risco), a maior participação dos pais na vida dos filhos, entendo que é indispensável, de minha parte, não apenas decidir nos processos, mas também mobilizar a opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade (aliás, o que está previsto na lei para o juiz da infância e juventude) e até bradar (gritar) pelos meus pensamentos. E, assim, respondo aos que não gostam dos meus gritos com uma passagem do Sermão da Sexagésima, de Padre Antônio Vieira:

"Antigamente pregavam bradando [gritando, berrando]; hoje, pregam conversando. Antigamente, a primeira parte do pregador [o mais importante ao palestrante] era boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o mundo se governa também pelos sentidos, às vezes, os brados [os gritos] podem mais que a razão. (...). Tanto que Cristo acabou a parábola, segundo o Evangelho, dizendo que começou o Senhor a bradar: “Haec dicens clamabat”. Bradou o Senhor, e não arrazoou sobre a parábola, porque era tal o auditório que fiou mais dos brados que da razão.

Certa vez perguntaram ao Baptista quem era? Respondeu ele: “Ego vox clamantis in deserto”: Eu sou uma voz que anda bradando neste deserto. Desta maneira se definiu o Baptista. A definição do pregador, eu pensava, era o da voz que arrazoa e não o da voz que brada. Pois por que se definiu o Baptista pelo bradar e não pelo arrazoar; não pela razão, e sim pelos brados? Porque há muita gente neste mundo com quem podem mais os brados que a razão, e tais eram aqueles a quem o Baptista pregava.

Vede-o [observa-se isso] claramente em Cristo. Depois que Pilatos examinou as acusações que contra ele se davam, lavou as mãos e disse: “Ego nullam causam invenio in homine isto”: Eu não acho nenhuma causa [culpa] neste homem. Naquele tempo, todo o povo e os escribas bradavam de fora para que Cristo fosse crucificado: “At illi magis clamabant, crucifigatur”. De maneira que Cristo tinha por si [em seu favor] a razão e tinha contra si os brados [os gritos]. E qual pôde mais? Puderam mais os brados que a razão. A razão não valeu para o livrar [Cristo], mas os brados bastaram para o pôr na cruz.

E como os brados no mundo podem tanto [tem tanto poder], bem é que bradem alguma vez os pregadores, bem é que gritem. Por isso Isaías chamou aos pregadores: “Qui sunt isti, qui ut nubes volant?”: A nuvem tem relâmpago, tem trovão e tem raio: relâmpago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração; com o relâmpago alumia, com o trovão assombra, com o raio mata. Mas o raio fere a um, o relâmpago a muitos, o trovão a todos. Assim há de ser a voz do pregador, um trovão do céu, que assombre e faça tremer o mundo".

P.S. A única pretensão aqui é dizer em alto e bom som: vivemos num país livre, com liberdade de manifestação do pensamento. E, para as minhas causas, além da razão (com base em dados estatísticos, provas materiais, teorias, farta documentação), eu grito também.

Evandro Pelarin, juiz de Direito

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