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Estudo relaciona suicídios em MS a uso de agrotóxicos

Marina Miranda / Campo Grande News - 23 de maio de 2005 - 12:57

Falta de incentivo financeiro e dificuldades pessoais aliadas à convivência constante com produtos tóxicos pode ser uma mistura de situações com resultados trágicos. Pelo menos é o que aponta a pesquisa Uso de agrotóxicos e suicídios no Estado de Mato Grosso do Sul, dos pesquisadores Dario Xavier Pires e Maria Celina Piazza Recena, ambos do departamento de química da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), e Eloísa Dutra Caldas, da Faculdade de Ciências da Saúde da Unb (Universidade de Brasília). O grupo analisou 1.300 fichas de notificação do Civitox (Centro Integrado de Vigilância Toxicológica da Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Mato Grosso do Sul) de 1992 a 2002 e constatou alto índice de suicídios com uso de agrotóxicos na área rural. Nesses dez anos, foram registradas 501 tentativas de suicídio e 139 mortes em todo o Estado por agrotóxico. Só na região da grande Dourados, pólo produtor de grãos, foram 203 tentativas e 63 mortes. Iguatemi vem em seguida no número de mortes, com 31 casos. Já nos municípios no entorno da Capital foram 135 tentativas de suicídio. Pires explica que não foi surpresa Dourados estar no topo do ranking levando em conta que a microrregião é a maior produtora agrícola de Mato Grosso do Sul e concentra um significativo universo de pequenos agricultores. Além de ser a segunda produtora de algodão no Estado, cultura que demanda quase 80% de todo o inseticida comercializado no Brasil. “O suicídio é causado por uma série de fatores, entre eles, a depressão. No caso de Dourados, onde grande parte é de pequenos agricultores, ela (depressão) pode ser decorrente da falta de incentivos, tecnologia e apoio”, afirma o professor Pires. Outro agravante é o acesso limitado à orientação técnica e à informação quanto a esses produtos, comum quando se trata de pequenos produtores. O pesquisador reforça que embora a cultura do algodão não possa ser considerada determinante para a ocorrência de suicídios numa região, a relação encontrada neste estudo representa um fator de risco, quanto à exposição aos inseticidas associada às características do manejo desta cultura. A forma de aplicação é determinante, segundo o professor. Cassilândia, apesar de principal região algodoeira do Estado com 71% da produção, apresentou apenas uma tentativa de suicido e nenhum óbito por agrotóxicos. A explicação estaria no fato do local ter médias e grandes propriedades e tecnologia para uso do produto, ou seja, o pouco contato com os agrotóxicos teria relação direta com o baixo número de notificações. A microrregião de Campo Grande, que apresentou o segundo maior número de tentativas de suicídio, é a sétima região agrícola do Estado e apresenta baixa demanda de aplicação de agrotóxicos quando comparada a Dourados, Cassilândia e Alto Taquari, conforme a pesquisa. Apesar de 163 tentativas, foram registradas nove mortes. O número é atribuído à melhor infra-estrutura do Estado na área de atendimento à saúde, o que explicaria, proporcionalmente, o baixo índice comparado a outras regiões do Estado. Os dados da região onde se encontra o segundo maior municio de Mato Grosso do Sul impulsionaram uma nova pesquisa. “Estamos estudando detalhadamente as 15 cidades que fazem parte da micro-região de Dourados para ter dados mais específicos dos trabalhadores e de sua realidade”. O estudo sobre suicídio foi publicado no mais recente fascículo dos Cadernos de Saúde Pública – revista bimensal editada pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz.

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