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Estudo pode contribuir para ampliar taxa de sucesso de gestação em bovinos

Governo de SP - 24 de outubro de 2019 - 16:00

Uma pesquisa com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pode contribuir para aumentar taxa de sucesso de gestação em bovinos. O estudo é conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do campus de Pirassununga, em colaboração com cientistas das universidades da Flórida, nos Estados Unidos, e da Antuérpia, na Bélgica.

As análises indicam que há uma comunicação bioquímica entre o embrião e o útero que pode ser fundamental para garantir o desenvolvimento ideal e o estabelecimento bem-sucedido da gestação nesses casos.

De acordo com especialistas, estima-se que entre 20% e 40% das gestações em bovinos sejam perdidas ainda na fase embrionária. As causas da mortalidade ou os fatores que afetam a sobrevivência dos embriões e a continuidade da gestação, contudo, ainda não foram totalmente esclarecidos.

Desenvolvimento embrionário

Os resultados do estudo foram publicados na revista Scientific Reports. “Constatamos que há uma comunicação bioquímica do embrião com o útero muito mais cedo do que se pensava, no sétimo dia de gestação”, explicou à Agência Fapesp Mário Binelli, professor da Universidade da Flórida e coordenador do projeto.

“Já nesse estágio de desenvolvimento, o embrião tem a capacidade de alterar a composição bioquímica do ambiente uterino e, provavelmente, essas mudanças beneficiam o desenvolvimento embrionário”, acrescentou o docente.

Segundo o pesquisador, na fase embrionária da gestação em bovinos, o embrião transita das tubas (oviduto) para a luz do útero, onde permanece frouxamente preso durante um período de 20 dias até a implantação e o início da formação da placenta (placentação).

O período é crítico para o procedimento, uma vez que 40% dos embriões morrem nessa fase. Já após a implantação, a mortalidade embrionária diminui à medida que os embriões passam a receber nutrientes por meio da placenta.

Até então, não tinha sido levantada a hipótese de que o embrião bovino poderia influenciar o útero materno no início da fase pré-implantação, pois, nesse estágio, ele é muito pequeno (entre 100 e 200 células) e microscópico. “A ideia vigente era de que, nessa fase, o embrião só receberia passivamente nutrientes e estímulos do trato reprodutivo materno, sem nenhuma atuação”, disse Mário Binelli.

Investigação

Outro estudo recente do mesmo grupo de pesquisadores mostrou, porém, que a presença do embrião no sétimo dia de gestação altera a transcrição de alguns genes específicos no trato reprodutivo.

Mas não era sabido se, além de modificar a transcrição gênica, os embriões poderiam liberar sinais capazes de alterar a composição bioquímica do microambiente uterino, de modo a beneficiar o seu desenvolvimento.

Para avaliar essa hipótese, os cientistas analisaram a concentração de determinadas moléculas no endométrio (mucosa que recobre a face interna do útero) de vacas inseminadas e detectadas gestantes sete dias após o cio e em vacas não inseminadas e, consequentemente, não gestantes.

Os resultados das análises apontaram que a presença do embrião no sétimo dia de gestação aumentou a concentração de moléculas derivadas da via das lipoxigenases (uma família de enzimas envolvidas no metabolismo de eicosanoides) e diminuiu a de aminoácidos, aminas biogênicas, acilcarnitinas e fosfolipídios no endométrio das vacas inseminadas.

“Observamos que, possivelmente, há uma série de interações bioquímicas entre o embrião que está se desenvolvendo e o útero que podem ser mais ou menos ideais para atender às necessidades dele e possibilitar que a prenhez seja bem-sucedida”, afirmou o docente.

“Avanços no conhecimento das condições ideais para o desenvolvimento embrionário durante essa fase inicial, em que um grande número de gestações é perdido, melhorariam a produtividade e a lucratividade da pecuária”, enfatizou.

Embriões

De acordo com o pesquisador, os resultados do estudo podem contribuir para aprimorar o desenvolvimento de embriões bovinos in vitro, em que o Brasil se destaca como maior produtor mundial.

Apesar de bem-sucedida, a técnica ainda apresenta falhas. “Ainda há muita perda de embriões, provavelmente porque ainda não se consegue mimetizar in vitro, ou seja, fora do trato reprodutivo animal, o que acontece in vivo no útero bovino”, apontou à Agência Fapesp Mariana Sponchiado, primeira autora do artigo, que desenvolveu o estudo durante seu doutorado em andamento na USP e na Universidade da Antuérpia.

“Ao avançar na caracterização do ambiente uterino ideal para o desenvolvimento embrionário, seria possível mimetizar essas condições in vitro”, afirmou Sponchiado.

Os interessados podem conferir pela internet o artigo (em inglês), Mariana Sponchiado, Angela Gonella-Diaza, Cecília Rocha, Edson Turco, Guilherme Pugliesi, Jo Leroy e Mario Binelli.

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