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Estudo mostra que tirar fotos demais pode prejudicar memória

Portal APCD - 02 de outubro de 2015 - 13:00

É claro que queremos documentar nossas vidas e manter nossas lembranças acesas. Mas, uma pesquisa recente realizada pela psicóloga Linda Henkel, da Universidade Fairfield, nos Estados Unidos aponta que o uso generalizado de smartphones com câmeras fotográficas podem prejudicar a capacidade de lembrar detalhes do acontecimento, apesar – e por causa do – esforço de fotografar sem parar.

Durante o estudo, realizado no ano passado, estudantes foram levados a uma visita guiada a um museu e incumbidos de fotografar certas obras de arte – enquanto outras deveriam ser apenas observadas. No dia seguinte, quando testados, eles conseguiam lembrar menos detalhes dos objetos que tinham fotografado. É o que Henkel chama de ‘efeito prejudicial de tirar fotos’.

"Estamos tratando a câmera como uma espécie de drive externo de nossa memória. Temos a expectativa de que o aparelho vai se lembrar de coisas por nós e que assim não precisamos continuar a processar aquele objeto. Por isso não interagimos nem nos envolvemos com as coisas que nos ajudariam a lembrar dele”, afirma a psicóloga.

Henkel reconhece, no entanto, que enquanto podemos atrapalhar nossa memória a curto prazo, ter posse dessas fotos pode nos ajudar a lembrar de eventos no futuro. Mais interessante ainda é o fato de que o prejuízo para a memória diminuiu quando os estudantes tiveram que dar um zoom em algum aspecto particular do objeto. Isso sugere que o esforço e a concentração envolvidos na tarefa ajuda o processamento da memória. Ou ainda que temos uma tendência maior a externalizar nossa memória quando a câmera capta uma cena mais ampla. "Isso faz sentido porque as pesquisas científicas mostram que a dispersão da atenção é o maior inimigo da memória", diz Henkel.

Outros estudos confirmaram o que muitos de nós já suspeitávamos: que o papel fundamental da fotografia deixou de ser a comemoração de eventos especiais ou de momentos em família para ser uma maneira de nos comunicarmos com amigos, formar nossa própria identidade e alavancar as relações sociais.

Enquanto adultos mais velhos usam câmeras como ferramentas para a memória, as gerações mais jovens veem as fotos como um meio de comunicação. "Muitas vezes as pessoas tiram fotos não para que elas sirvam como uma lembrança, mas para dizer como estão se sentindo no ‘aqui e agora’", afirma Henkel. "Um bom exemplo é o Snapchat, em que os usuários tiram fotos para se comunicar, mais do que para se lembrar de momentos”, completa.

Câmeras digitais podem não se a única coisa que mudou nossa relação com a fotografia. Graças às redes sociais, também transformamos a maneira como nos lembramos das experiências recordadas. "Nossa memória é reconstrutiva. É possível que estejamos reconstruindo nossas memórias para alinhá-las mais com as fotos que tiramos, ou com as fotos que os outros tiram e nos mostram", diz Kimberly Wade, professora de psicologia da Universidade de Warwick, que estuda falsas lembranças. "Se alguém nos mostra uma foto que não tiramos de um evento onde estivemos, aquilo então se torna nossa lembrança", explica.

Lembrar coisas de um ponto de vista externo pode ter suas desvantagens. Pesquisas mostram que quando você se recorda de algo a partir da perspectiva de outra pessoa, tem menos conexão emocional com a lembrança. Da mesma maneira, apesar de fazermos uma curadoria das nossas memórias ao editar as fotos que tiramos isso não é algo ruim.

"Muitos especialistas em falsas lembranças diriam que a imprecisão é uma boa coisa, por vários motivos", diz Wade. "Se você muda sua posição política, por exemplo, pode voltar atrás e pensar que antes tinha ideias mais parecidas com as que têm hoje. Queremos acreditar que somos seres estáveis. Lembramos-nos de nossos relacionamentos e de nós mesmos em uma luz mais favorável, mais parecida com o que queremos ser. Alguma distorção é positiva para nosso bem-estar."

Então, com que frequência devemos tirar fotos? A menos que você seja um profissional, Henkel sugere limitar a quantidade de cliques e ser mais seletivo, para ter mais benefícios e menos prejuízos. "Se você está de férias em um lugar bonito, tire algumas fotos, guarde a câmera e aproveite", diz. "Depois, dê uma boa olhada nas imagens, organize-as, imprima-as e tome tempo para mostrá-las a outras pessoas ao vivo. São coisas como essas que ajudam a mantermos nossa memória viva."

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