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Estudo destaca o que pensa o empresário

Agência Notisa - 01 de dezembro de 2004 - 12:40

Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco sugere que empresários industriais podem estar defendendo a educação brasileira objetivando conseguir benefícios para a classe.


Quando um empresário estimula a educação na vida do empregado, ele tem realmente consciência de que ela seja direito social de todos os cidadãos? Para responder a essa pergunta, a Universidade Federal de Pernambuco fez um estudo, publicado na revista Educação e Pesquisa (Volume 29, nº2), investigando o papel que o empresariado reserva à educação profissional. O resultado preocupa: empresários podem estar usando como desculpa o estímulo à profissionalização para adaptar a educação brasileira aos seus próprios interesses.

O estudo foi baseado em documentos técnicos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e em depoimentos de lideranças dessas instituições em diversos periódicos brasileiros. Contrastando vários textos, contendo proposições de diferentes representantes das entidades empresariais, com literatura voltada para os rumos da educação no país, o artigo aponta o que chama de “contradições” entre os discursos.

Em um documento da CNI, por exemplo, a pesquisa mostra um fragmento no qual a instituição valoriza a profissionalização do empregado. Contudo, em outro trecho do mesmo documento, a pesquisa destaca uma das “contradições”. “O contraditório nesse documento da CNI é que, de imediato, assim que se dispôs a defender estratégias de requalificação de trabalhadores, principalmente para aqueles em condições de vulnerabilidade, apontou, logo em seguida, para a constatação de que os programas de treinamento têm tido pouca contribuição para os trabalhadores voltarem ao mercado de trabalho”, explica no texto o pesquisador.

Para o autor do artigo, esse estímulo à educação por parte do empresariado industrial seria uma estratégia para aproximar a educação brasileira de seus interesses: “o empresariado nacional, de diversas formas, buscou demonstrar ao governo e à sociedade como um todo que havia a necessidade do sistema educacional sofrer alterações de forma a se tornar coetâneo e articulado aos interesses industriais”, destaca, apontando também que o empresariado industrial tenta ampliar seus limites, procurando atuar cada vez mais sobre a educação brasileira. Isto, agora, estaria incidindo sobre o ensino regular, a escola: “também houve o interesse em ter maior controle sobre as ações e o desempenho das instituições escolares. Nesse sentido, esteve sempre presente a sua intenção de participar da gestão do sistema de ensino e exigir que o Estado estabelecesse mecanismos de avaliação da qualidade e do desempenho das instituições de ensino”, cita o autor, em referência aos métodos de avaliação dos ensinos médio e superior, adotados pelo governo (Enem e Enade – antigo Provão).

De acordo com a pesquisa, o “empresariado brasileiro, além de se reorganizar institucionalmente revigorando e dando novas direções às suas organizações representativas como a Fiesp e CNI, buscou também intervir mais diretamente na política nacional, via candidatura de vários empresários, destacando como momento expressivo a eleição para a Assembléia Nacional Constituinte, em 1986”.

Segundo o estudo, o modelo econômico defendido pelo empresariado industrial reflete a importância que dão aos seus próprios interesses que, muitas vezes, diferem dos interesses da coletividade: “a defesa do empresariado por uma economia mais aberta ao capital estrangeiro, com menor intervenção estatal, rompendo com o modelo de substituição de importações demonstra que seu interesse fundamental é a confecção de um modelo econômico e político que coloque a reprodução dos seus interesses em primeiro plano mesmo que, em decorrência disso, ampliem-se as contradições sociais”, destaca o pesquisador.

O estudo também aponta a flexibilização das leis de trabalho como uma importante ferramenta utilizada pelos grupos industriais, objetivando o aumento de seus lucros: “o empresariado não abre mão de seus lucros para a redução do desemprego e encontra na flexibilização das relações de trabalho a saída mais aconselhável para geração de novos postos de trabalho”, define o texto do artigo que propõe mais estudos que visem a investigar os interesses do empresariado industrial em intervir na educação brasileira, para que se conheça quem ganha e quem perde com as alterações no processo educacional.



Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

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